Netflix incomoda estúdios com aquisições de filmes: análise de caso

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A Netflix chacoalhou o mercado cinematográfico nesta última semana durante a realização do Festival de Sundance, onde a gigante do streaming adquiriu novas produções para seu catálogo, passando a perna no sistema tradicional de vendas de filmes e, de quebra, irritando estúdios e distribuidoras.

Antes mesmo do início de Sundance, a companhia fechou acordos caríssimos com alguns dos títulos mais quentes do Festival, como The Fundamentals of Caring, com Paul Rudd (adquirido por US$ 7 milhões), e Tallulah, com Ellen Page (por US$ 5 milhões). A Amazon Video, outra companhia de streaming popular nos Estados Unidos, comprou, por sua vez, Manchester by the Sea, filme com Casey Affleck por US$ 10 milhões.

Amazon Video compra Manchester by the Sea por US$ 10 milhões. Fonte da imagem: Divulgação/Sundance Film Festival

Esses acordos incomodaram distribuidoras tradicionais de Hollywood, como a Fox Searchlight, a The Weinstein Company, a Focus Features e a Sony Pictures Classics, companhias especializadas em títulos de arte – como são a maioria das produções exibidas em Sundance. O Festival representava o melhor mercado para essas empresas adquirirem novas obras, incluindo possíveis candidatos a Oscar.

O motivo da irritação tem a ver, claro, com dinheiro. Até dois anos atrás, uma das vendas mais caras em Sundance havia sido o filme Irmãos Desastre (The Skeleton Twins, com Kristen Wiig e Bill Hader), comprado pela Fox Searchlight por US$ 3,5 milhões. Este ano, com a presença da Netflix e da Amazon competindo pelos melhores títulos, o valor dos negócios aumentou consideravelmente.

Nesta terça-feira, dia 26 de janeiro, a mesma Fox Searchlight anunciou a compra de The Birth of a Nation, produção elogiadíssima de Nate Parker e que foi ovacionada de pé após sua exibição na noite de segunda-feira durante o Festival de Sundance, por exorbitantes US$ 17,5 milhões – o que faz do negócio a compra de maior valor de um filme em um festival de cinema!

Fox Searchlight adquire The Birth of a Nation por US$ 17,5 milhões em Sundance. Fonte da imagem: Divulgação/Sundance Film Festival

A notícia que circula é que The Birth of a Nation, que já está sendo considerado um forte candidato para o próximo Oscar, recebeu uma proposta de US$ 20 milhões pela Netflix, o que obrigou as rivais a elevar suas ofertas. Porém, o cineasta Nate Parker, que financiou e produziu a obra, optou pela Fox Searchlight para garantir que o filme tivesse a exibição tradicional nos cinemas antes de ser oferecido por serviços de streaming.

Outra questão do incômodo das distribuidoras com a Netflix (a também com a Amazon) é que as companhias de streaming “quebram” o modelo de negócio tradicional, em que um filme tem uma janela de lançamento nos cinemas antes de chegar em home videoon demand e/ou por streaming. Por um lado, a Netflix garante a distribuição de um filme aos seus assinantes, mas problematiza a exibição nos cinemas.

Nos acordos firmados em Sundance, a Netflix e a Amazon não compraram os direitos de exibição cinematográfica de seus novos filmes, o que significa que outras companhias poderiam fazer a oferta sobre esses títulos. A Amazon chegou a afirmar que formará uma parceria futura para o lançamento de Manchester by the Sea nos cinemas (até porque esse é um pré-requisito para concorrer ao Oscar), mas a Netflix quer manter o mesmo esquema de distribuição testado em Beasts of No Nation (chegando simultaneamente aos cinemas e aos assinantes).

Acontece que essa prática das companhias de streaming é inviável para as distribuidoras tradicionais. As empresas em geral mantêm acordos prévios com outros parceiros, como canais de TV, que compram (em pacotes) os direitos de exibição dos filmes dos estúdios. Como a Amazon e a Netflix estão adquirindo os direitos de transmissão por streaming, as distribuidoras tradicionais ficam sem uma importante parte do negócio e sem a garantia de retornos financeiros no final da cadeia de distribuição.

Netflix "quebra" modelo tradicional de negócios de Hollywood. Fonte da imagem: Reprodução/Netflix

O que complica ainda mais a situação é que títulos de arte, como estes sendo negociados em Sundance, são em geral de grande risco para as distribuidoras. Enquanto a Netflix e a Amazon conseguem oferecer mais dinheiro por obra, já que suas plataformas conseguem atrair assinantes para essas obras, as distribuidoras estão sentindo uma evasão dos espectadores nas salas de cinemas – especialmente para o chamado cinema de arte. Títulos adquiridos em Sundance no ano passado, como Dope - Um Deslize Perigoso e Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer não tiveram o resultado esperado nas bilheterias.

Por estas razões, o Festival de Sundance este ano está sendo bastante peculiar, com compras de peso pela Netflix e a Amazon, enquanto as distribuidoras tradicionais estão sendo mais seletivas sobre suas aquisições. Além dos títulos supracitados, foram negociados este ano: o drama Complete Unknown (Amazon), o documentário Author: The JT LeRoy Story (Amazon), o elogiado Wiener-Dog (Amazon), Equity (Sony Pictures Classics, US$ 3,5 milhões), Indignation (Lionsgate/Summit, US$ 2,5 milhões) e Morris From America (A24, US$ 1 milhão).

Via Minha Série.

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