Imagem de Capoeira Legends: Path to Freedom
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Capoeira Legends: Path to Freedom

Nota do Voxel
70

Junte-se aos guerreiros do Mocambo da Estrela.

Pode-se considerar que a ainda modesta desenvolvedora carioca Donsoft conquistou um mérito duplo com o lançamento de Capoeira Legends: Path of Freedom.

Se por um lado a empresa conseguiu emergir com um projeto sólido em meio ao mercado não muito favorável de jogos no Brasil, por outro lado o título traz um registro merecido de elementos que certamente formaram as bases da atual cultura brasileira, como a capoeira (obviamente), os levantes escravos e, de forma geral, as guerras por liberdade e reconhecimento político.

Para que toda a atmosfera se tornasse verdadeiramente verossímil, a equipe de desenvolvimento da Donsoft gastou um bom tempo pesquisando não apenas sobre o tema central do jogo (a capoeira), mas também sobre o contexto histórico do jogo de forma geral, incluindo um estudo sobre a vegetação da época, além de uma boa quantidade de fotos dos elementos remanescentes da mata do século XIX.

Já a transposição dos movimentos de luta para o jogo contaram com a colaboração e consultoria de capoeirista Mestre Vuê, fundador da tradicional Escola de Capoeira Água de Beber.

A produtora Donsoft, sediada no Rio de Janeiro, anunciou que o jogo já está disponível e pode ser adquirido através do site do jogo — pelo preço de R$ 29,90 —, sendo que o segundo capítulo do game está previsto para junho e o terceiro para novembro.


Luta pela liberdade

A saga de Gunga Za é ambientada nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, do ano de 1828. Grupos de negros, índios e brancos, organizados em comunidades denominadas “mocambos”, viviam em constante ameaça dos fazendeiros e governantes favoráveis à escravidão.

Nos centros urbanos, os praticantes da capoeira realizavam façanhas que afrontavam diretamente o poder vigente,  libertando escravos de fazendas e escoltando-os mato adentro  para a segurança e a liberdade dos quilombos e mocambos.

Entre os maiores e mais importantes mocambos da época — localizado na Serra da Estrela — estava o Mocambo da Estrala, grande bastião da rebeldia e perseverança da luta contra a escravidão.
Gunga Za está pronto para detonar!

Tião dos Anjos, líder do mocambo — filho de negros e índios — é um idealista, sábio e correto. Um negro forte, que com mão de ferro consegue manter o Mocambo da Estrela como um ambiente de coexistência pacífica entre as três etnias.

Mas a paz do Mocambo da Estrela está ameaçada. Paschoal dos Reis, Chefe da Guarda Imperial — descendente de portugueses — está empenhado em destruir o reduto de Tião dos Anjos.

Sua influência junto aos políticos e suas alianças com os fazendeiros (donos de engenho de cana e cafeicultores — maiores escravistas da época) aliam-se a sua ambição para criar um inimigo extremamente perigoso.  Seu plano ambicioso visa um futuro golpe de estado, que o transformaria no novo Imperador do Brasil.

O grande Za

Mas o Mocambo da Estrela não está desprotegido. Mestre Vuê, lendário Capoeirista — que trinta anos antes impediu o assassinato de Tião dos Anjos — preza pela segurança do acampamento. Grande defensor e professor dos guerreiros capoeiristas, Mestre Vuê rege sua vida através dos preceitos filosóficos e místicos da Capoeiragem.

Em meio aos treinos, Mestre Vuê está sempre alerta pela chegada do Grande Za (guerreiro mítico da capoeira), que irá proteger o mocambo. Quando Gunga e Urucungo — irmãos gêmeos de caráter muito diferente — chegaram ao mocambo, Mestre Vuê acreditou ter encontrando este grande herói.

Treinados por muitos anos, os irmãos apresentaram uma técnica e uma habilidade nunca antes vista pelo experiente Mestre. Poucos foram capazes de tamanha técnica, cadência e axé nos movimentos. Mas apenas um deles pode ser o novo defensor do Mocambo e Gunga foi o escolhido por Mestre Vuê, tornando-se o Za do Mocambo da Estrela.

Eta rapaz! O jovem Gunga Za e seus guerreiros se transforma no terror entre os feitores. Sempre chefiados por temíveis capitães do mato, os caçadores de escravo adentravam na mata atrás os seguidores de Tião dos Anjos.

Esta saga toda é apenas a introdução de Capoeira Legends: Path to Freedom.  Controlando o grande guerreiro Gunga Za, você deverá retornar ao Mocambo da Estrela para proteger o reduto dos ex-escravos, ameaçado pelos ataques de milicianos e capatazes.

Entre na ginga

O resgate histórico feito pela equipe de criação do jogo conseguiu unir ficção e realidade em uma trama bem elaborada que apresenta uma faceta pouco explorada da nossa cultura.

O charme da produção também se evidencia nos indicadores e menus do jogo. Um bom exemplo são os mostradores de vida e magia, que no jogo recebem o nome de Axé e Mandinga.
 
Além disso, os mais de quatorze golpes diferentes — todos extraídos da capoeira — foram programados a partir da preciosa consultoria provida pelo lendário Mestre Vuê, fundador da tradicional Escola de Capoeira Água de Beber.

E ufanismos a parte, estamos falando de uma produção genuinamente brasileira. As limitações técnicas são proporcionais às barreiras enfrentas pelos corajosos desenvolvedores que encaram a empreitada de se produzir um jogo em um país cujo mercado dos videogames ainda não é realmente reconhecido. Parabéns para a equipe da Donsoft e esperamos que seus próximos projetos sejam ainda melhores.

Livre, leve e solto

 Os requisitos mínimos do jogo não são muito exigentes, qualquer máquina é capaz de rodar o título com tranqüilidade (um Pentium IV 2.4Ghz ou Atlhon XP 3000+ já dá conta do recado). Além disso, o título também não ocupa muito espaço no computador (um alívio visto alguns títulos que amontoam o PC gigabytes de informação).

Queima diacho!Na verdade já fica aqui uma sugestão para a equipe da Donsoft. Mesmo sabendo das idiossincrasias da programação para computadores e para as diferentes plataformas, seria muito interessante observar a possibilidade de trazer Capoeira Legends: Path to Freedom (e suas continuações) para os videogames.

Paranauê

Além de contribuir na criação da história e na consultoria dos golpes, a Escola de Capoeira Água de Beber, e o grande Mestre Vuê, também ajudou na concepção da trilha sonora, repleta de ladainhas, corridas, quadras, chulas e outras canções próprias das rodas de capoeira.

Certamente não podemos comparar o poderio gráfico de Capoeira Legends com a de outros grandes títulos das renomadas desenvolvedoras internacionais. Mesmo assim, fica a ressalva de que os gráficos não são de ponta, mas conseguem se equiparar e em alguns pontos superar muitos títulos do PlayStation 2.

Faltou fôlego

Infelizmente o jogo tem apenas quatro horas de duração, distribuídas ao longo de três fases diferentes. É verdade que o próprio planejamento da saga explica esta curta duração para explorar a história ao longo das outras duas partes, mas mesmo assim você ficará com o “gostinho de quero mais” ao final de Path to Freedom.

Outro ponto negativo é a localização do menu com as configurações de vídeo, que poderia estar presente dentro do menu do jogo, entretanto para poder alterar alguma configuração você deve entrar em um aplicativo diferente dedicado somente para tais alterações.

Made in Brazil

No final das contas, Capoeira Legends: Path to Freedom não é apenas uma boa iniciativa dos desenvolvedores da Donsoft, mas também é um bom jogo que certamente renderá alguns momentos de diversão.

O jogo assemelha-se muito a outros títulos de ação/aventura do PlayStation 2, no qual você deve explorar o cenário atrás de objetivos apresentados no início de cada fase (ou ladainhas, no caso de Capoeira Legends).

A movimentação do personagem ainda requer algum refinamento, controlar Gunga Za com o mouse e o teclado, ao mesmo tempo em que desfere golpes e se esquiva dos inimigos pode ser um desafio.

Mas a iniciativa é boa e mostra que existem mentes criativas (e persistentes) que realmente querem produzir jogos bons dentro do Brasil. Estamos esperando pelas partes dois e três para acompanharmos o desfecho da saga de Gunga Za e os heróis do Mocambo da Estrela.
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