Imagem de Deus Ex: Mankind Divided
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Deus Ex: Mankind Divided

Nota do Voxel
95

A evolução não pode ser parada, mas será isso algo bom?

 

Um dos jogos mais influentes do início dos anos 2000, Deus Ex teve uma espécie de “renascimento” com o lançamento de Human Revolution em 2011. Apesar de não ter a mesma liberdade de ações de seu predecessor, o game da Eidos Montreal acumulou elogios devido à sua história e seu sistema de jogabilidade envolvente, mesmo que imperfeito.

Deus Ex: Mankind Divided usa a base estabelecida pelo jogo anterior e a aprimora em diversos sentidos. Novamente na pele de Adam Jensen, ex-segurança que incorporou peças mecânicas a seu corpo contra sua vontade e que agora atua como membro de uma divisão de elite da Interpol cujo objetivo é combater ameaças terroristas em nível global.

O game tem como cenário o ano de 2029, em que grande parte da população mundial — chamada de “aumentados” — tem pelo menos uma parte cibernética implantada. No entanto, o “Incidente” ocorrido há dois anos (no qual vários aumentados saíram de controle) faz com que sejam cada vez maiores as tensões entre esse grupo e os humanos “naturais” — cabe ao protagonista descobrir quem está se beneficiando desse possível conflito e acabar com seus planos.

Uma experiência aprimorada

Um dos pontos mais positivos de Human Revolution felizmente permanece inalterado em Mankind Divided: a liberdade de agir da maneira que mais condiz com seus gostos pessoais. Logo no início, a aventura pergunta se você é daqueles que prefere agir de forma furtiva e não letal ou se não está disposto a fazer perguntas e quer partir direto para a ação — sendo que é possível alternar entre essas duas posturas de forma relativamente livre.

Durante minha aventura, por exemplo, preferi apostar em um personagem mais sorrateiro e capaz de realizar hacks a distância (uma das novas habilidades de Jensen), o que me permitiu acessar diversos locais protegidos com relativa facilidade. No entanto, o mesmo poderia ser feito apostando em um personagem com uma construção mais física que, em vez de se esgueirar em dutos, prefere usar socos para derrubar paredes ou balas para matar os seguranças que estão em seu caminho.

"Mankind Divided  é um game que recompensa mais os jogadores que optarem por uma postura furtiva"

Apesar de oferecer tal liberdade, Deus Ex: Mankind Divided  é um game que recompensa mais os jogadores que optarem por uma postura furtiva, graças a generosos bônus de experiência dados a quem opta por esse caminho. No entanto, independente da postura que você adota, esteja ciente de que o jogo possui doses generosas de diálogos.

Durante o tempo que passei no universo criado pela Eidos Montreal, diria que passei pelo menos 70% do tempo investigando cenários, conversando com NPCs e cumprindo tarefas secundárias. Os momentos de ação presentes no jogo sem dúvida são marcantes, mas esteja ciente de que eles fogem ao lugar-comum do gênero e surgem aqui de forma mais discreta.

Os fãs de Human Revolution vão ficar felizes em saber que algumas das mecânicas mais marcantes daquele jogo estão de volta. Mediante o investimento de pontos de evolução em uma árvore de habilidades sociais, o jogador destrava alguns momentos em que pode avançar na trama ou escapar de uma situação perigosa simplesmente conversando com seus adversários.

Nesses momentos, Jensen usa seus implantes mecânicos para analisar padrões de comportamento e os diferentes tipos de onda emitidos por seu interlocutor para decidir a melhor maneira de agir com eles. Embora esses encontros não sejam exatamente difíceis, eles possuem desafios suficientes para fazer com que você se sinta um pouco apreensivo antes de optar por uma das escolhas disponíveis.

Outros aspectos que retornam são o sistema de inventário que oferece somente um espaço limitado para seus equipamentos e o minigame para hackear sistemas, ambos contando com um visual renovado, mas funcionando de forma bastante semelhante ao passado — algo positivo, visto que eles já eram bastante eficientes em seu propósito.

Mankind Divided volta a investir em uma árvore de habilidades em que você deve investir quantidades variadas de pontos de Praxis para melhorar o herói. Além do retorno de poderes emblemáticos como o “pouso de Ícaro”, o título adiciona uma série de opções extras como hacks a distância, a possibilidade de atirar lâminas metálicas a distância e uma espécie de corrida que permite surpreender inimigos ou alcançar locais inacessíveis do cenário.

O único aspecto que deve dividir opiniões é o retorno do sistema de energia presente em Human Revolution, responsável por limitar a quantidade de poderes que você pode usar. Ao mesmo tempo em que isso é positivo por impedir que a aventura se torne muito fácil, em alguns momentos fica a impressão de que a desenvolvedores poderia ser um pouco mais generosa na oferta dos itens responsáveis por recarregar esse recurso.

Trama mais contida

Provavelmente ciente dos problemas que causou para a série com o final grandiloquente de Human Revolution — há uma retrospectiva para aqueles que não conseguiram finalizar a trama anterior —, a Eidos Montreal decidiu criar uma trama mais contida para a sequência. Embora isso funcione a maior parte do tempo, há a impressão de que o final poderia se beneficiar de um pouco mais de tempo para ser completamente desenvolvido.

Em minha opinião, o ponto forte do jogo no quesito história são as subtramas desenvolvidas pela Eidos Montreal, muitas delas ligadas a atividades paralelas que podem ser ignoradas facilmente por qualquer jogador — algo que não recomendo que você faça. Além de fornecerem pontos de experiência valiosos, essas atividades paralelas são essenciais para entender o mundo criado pelos desenvolvedores.

Deixando de lado a Detroit preta e dourada do jogo anteriores, o game nos apresenta a uma versão futurista da cidade de Praga — um dos centros humanos que mais sofre com a tensão entre humanos “naturais” e “aumentados”. Essa área transmite muito bem a identidade visual do título, que é realista de maneira crível e poderia muito bem ser retirada de algum conto de Isaac Asimov.

Esse cenário serve como casa para gângsters que oferecem implantes ilegais para quem estiver disposto a pagar o preço necessário, jornalistas independentes obcecados pela “verdade” — independente do que isso possa ser — e outras figuras marcantes que muitos jogadores podem simplesmente deixar de lado. Diante da maneira inteligente como essas tramas e personagens são construídos, não se surpreenda se em algum momento você se ver mais preocupado com eles do que com a ameaça terrorista central ao game.

Conquistas e falhas técnicas

Sei que você provavelmente já está cansado das comparações entre Human Revolution e Mankind Divided, mas é difícil não notar as semelhanças entre os dois jogos no que diz respeito a muitas de seus acertos e de suas falhas. Exemplo disso é a área gráfica: o novo game é bastante bonito, mas tem alguns problemas de colisão de animações que remetem à memória o que já não funcionava muito bem em seu antecessor.

O game continua tendo dificuldades em lidar com os modelos de personagens quando você decide arrastá-los (confie em mim quando digo que inimigos desacordados assumem características dignas a um boneco de pano) e ainda não sabe lidar bem com ataques furtivos e execuções — sempre há um pequeno carregamento a transição para uma animação pré-renderizada quando algo do tipo acontece.

Felizmente, esses são alguns detalhes que deixam de incomodar assim que o jogador consegue se acostumar com eles. No geral, a apresentação visual e sonora do título é ótima e contribuem para fazer com que você realmente se sinta no papel de um detetive futurista equipado com melhorias cibernéticas.

No entanto, o ponto forte do jogo realmente é seu design de fases: ao ser encarregado de entrar em um local, esteja ciente de que haverá pelo menos três opções para fazer isso — e provavelmente algumas opções adicionais que você só vai descobrir assim que chegar a seu objetivo. Os caminhos a seguir nem sempre são óbvios, o que faz com que você se sinta sempre desafiado e tentado a pensar de forma diferente para prosseguir — a não ser, claro que sua opção seja entrar pela porta da frente atirando em tudo o que se move.

A má notícia para o público brasileiro é que o ponto mais fraco do jogo se encontra justamente em sua dublagem para o português. Variando entre o meramente competente e o muito fraco, o trabalho de voz é marcado pela falta de entonação de frases, sincronia labial falha e por diálogos que não fazem sentido da maneira como foram montados — estou disposto a dar um prêmio para quem entender o primeiro diálogo que acontece entre Jensen e sua terapeuta.

Breach: multiplayer interessante, mas dispensável

Para aqueles que gostam da parte de ação de Makind Divided, a Eidos Montreal oferece o modo online Breach. Nele, você assume o papel de um hacker que usa a realidade virtual para invadir os sistemas de um grande banco que, após anos sendo propagado como a solução mais segura do mundo, finalmente expôs suas falhas ao público.

A experiência essencialmente solitária é constituída por uma série de desafios nos quais você usa suas habilidades de invasão e hack para roubar dados de um servidor. Os elementos de comunidade surgem na forma de quadros de pontuação em que você pode competir com outras pessoas para descobrir quem consegue terminar as missões no menor tempo possível.

A jogabilidade é praticamente idêntica à encontrada no modo principal, se diferenciando pela seleção de armas disponível e por seus visuais estilizados. O modo é divertido e capaz de entreter por várias horas, mas a falta de uma história mais desenvolvida deixa claro que ele não foi feito para ser o “prato principal” de Mankind Divided.

Uma nova evolução para a série

Mankind Divided pode não atingir os mesmos níveis de liberdade do Deus Ex original, mas isso não o impede de ser um ótimo representante do nome que carrega. Aprimorando as qualidades encontradas em seu antecessor direto, o game é uma bela adição para o catálogo de qualquer fã de RPG — ou de qualquer pessoa que procure uma experiência com personalidade própria.

Com uma trama mais contida, o jogo é bem-sucedido em fazer com que você se sinta na pele de um detetive futurista em uma cidade em que a tecnologia é ao mesmo tempo abraçada e rejeitada. Embora a história principal decepcione um pouco pelo fim apressado, as missões secundárias e os personagens que você encontra por seu caminho fazem com que as 20 ou 30 horas que você tenha que dedicar ao jogo sejam plenamente satisfatórias.

Aos fãs de Human Revolution, sequer preciso afirmar que o novo título é uma aquisição praticamente obrigatória. Da mesma forma, quem nunca ouviu falar da série tem aqui outro ótimo ponto de entrada — resta esperar que a Eidos Montreal não demore mais meia década para nos mostrar os caminhos que esse mundo virtual deve seguir.

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Pontos Positivos
  • Sistemas refinados
  • Jogabilidade que oferece grande liberdade de ação
  • Missões e personagens ótimos
  • Multiplayer competente
Pontos Negativos
  • Alguns problemas de colisões e de animações
  • A dublagem em português não é muito boa
  • A história principal termina de forma muito súbita