Imagem de Final Fantasy Type-0 HD
Imagem de Final Fantasy Type-0 HD

Final Fantasy Type-0 HD

Nota do Voxel
85

Muito longe de um Final Fantasy típico

Lançado em 2011 no Japão exclusivamente para o PlayStation Portable, Final Fantasy Type-0 foi um game que quase escapou aos fãs ocidentais da série. Embora o portátil da Sony tenha obtido um sucesso considerável em sua terra-natal, a pirataria e a falta de títulos de peso condenaram sua sobrevivência no Ocidente — motivo mais do que suficiente para que a Square Enix nunca investisse em uma adaptação para o inglês.

Após muita espera (e iniciativas que incluem um projeto de tradução feito por fãs e pedidos de uma versão digital para o Vita), o game finalmente passou a ter uma versão ocidental e um tratamento em alta definição. No processo, o RPG abandonou suas origens portáteis e ganhou como companheira a aguardada primeira demonstração jogável de Final Fantasy XV como um “bônus”.

Na transição para o Xbox One e para o PlayStation 4, o jogo teve a chance de atingir um novo público e mostrar algumas possíveis apostas da Square Enix para o futuro da franquia. No entanto, a decisão de manter as restrições da plataforma que deu origem ao jogo e o tratamento “HD pela metade” feito pela empresa podem não agradar quem espera uma experiência realmente digna à “nova geração” de consoles.

História com tom sóbrio

Apesar de manter as características clássicas da série Final Fantasy — cristais como elementos importantes, naves voadoras, magias e protagonistas que parecem gastar um tempo considerável no cabeleireiro —, Type-0 HD destoa bastante do tom adotado por capítulos mais recentes.

Prova disso é a cena de abertura, na qual um estudante se vê vítima de um conflito militar e tem que se confrontar com a morte iminente. O tom sério e trágico da cena é um resumo do que você vai encontrar no resto do jogo — mesmo com alguns momentos mais “leves”, o título se aproxima muito mais da narrativa do primeiro Final Fantasy Tactics do que das “sagas para salvar o mundo” vistas em Final Fantasy X e Final Fantasy XIII.

Controlando um grupo de elite de uma academia militar (a “Classe 0” que dá título ao game), cabe a você realizar missões que incluem proteger inocentes, ajudar a retomar territórios conquistados por inimigos e impedir o avanço de forças opositoras. Enquanto não está no campo de batalha, o jogador tem a opção de estudar assuntos específicos (melhorando suas habilidades no processo), treinar chocobos ou simplesmente conhecer mais do mundo criado pela Square Enix.

Embora inicialmente pareça que seu grupo é formado por membros sem grande personalidade, conforme a aventura progride, você conhece mais detalhes sobre cada um e passa a tratá-los como figuras realmente importantes. Isso se mostra especialmente impressionante quando se leva em conta que há nada menos que 14 personagens que podem ser escolhidos desde o momento inicial do RPG.

O aspecto que decepciona um pouco na história é o fato de que, para vê-la de forma completa, é necessário completar o game ao menos duas vezes. Embora a origem portátil faça do título uma experiência mais curta que a vista em outros jogos do gênero, essa solução de design pouco contribui para melhorar a experiência, servindo somente como uma forma artificial de prolongá-la.

Combate ágil

Contrariando as raízes da série, Type-0 HD adota um sistema de lutas em tempo real que parece uma evolução natural das soluções vistas em Crisis Core: Final Fantasy VII (outro game do PSP que merecia uma versão remasterizada). Sob uma perspectiva em terceira pessoa, o jogador controla o líder de um grupo de três personagens que têm à disposição três habilidades e a capacidade de esquiva.

A qualquer momento da batalha, você tem a opção de apertar um dos botões do direcional digital para assumir o controle de um de seus companheiros de grupo. Embora não seja exatamente genial, a inteligência artificial se comporta de maneira competente e ajuda a reforçar a impressão de que você realmente faz parte de um grupo.

Um dos aspectos que mais se destaca no game é o fato de que, mesmo compartilhando habilidades semelhantes, os membros da classe 0 possuem estilos bastante distintos entre si. Um personagem que usa cartas mágicas para atacar, por exemplo, age com um ritmo bastante diferente daquele que opta por armas de fogo ou que prefere atacar com os punhos. Isso garante uma ótima variedade à jogabilidade, impedindo que o game se torne repetitivo mesmo após dezenas de horas de aventura.

Caso um dos personagens caia em batalha, você pode invocar automaticamente um novo membro de seu esquadrão para substituí-lo. É somente após o último membro da Classe 0 ser derrotado que surge a tela de game over — algo que em teoria parece difícil devido à grande quantidade de personagens disponível, mas que se mostra bastante fácil caso você seja descuidado.

Type-0 HD possui uma dose de desafio pouco vista em jogos da franquia, e entrar em missões de nível mais alto do que o de seu esquadrão é praticamente um ato suicida. Para manter seu grupo poderoso o suficiente para prosseguir, é essencial embarcar em uma série de aventuras secundárias ou andar pelo mapa do game enfrentando várias ondas de inimigos aleatórios — ou simplesmente refazer quantas vezes você desejar as missões anteriores.

Uma ajudinha dos desenvolvedores

O remake em alta definição de Type-0 abandona o sistema multiplayer visto em sua encarnação original no PSP, impedindo que você se aventure junte a seus amigos. Essa opção foi substituída por um sistema que permite que NPCs especiais passem a fazer parte de seu grupo temporariamente — cada um deles apresentando o nome de um dos desenvolvedores do título.

Totalmente opcionais, esses personagens controlados pela inteligência artificial garantem a obtenção de uma moeda especial que pode ser trocada por itens bastante poderosos em seu quartel-general. Caso você se canse dessa “ajudinha”, o game permite que você desligue essa solução a qualquer momento entre as missões.

Outra novidade de Type-0 é o sistema de operações especiais, constituídas por condições específicas que, se cumpridas, oferecem recompensas interessantes. A punição para a falha é a morte imediata do personagem que age como líder de sua equipe ativa, o que traz um bom contraponto entre risco e recompensa — novamente, essa é uma opção que pode ser totalmente ignorada por quem deseja menos interrupções em seu progresso.

Tratamento HD “pela metade”

Não exatamente uma novata no “tratamento HD” (como bem comprova Final Fantasy X/X-2), a Square Enix fez um trabalho um tanto estranho em Type-0 HD. Enquanto os personagens principais possuem modelos repletos de detalhes, aqueles que desempenham papel secundário mal parecem ter saído da geração PlayStation 2 — e o fato de ambas as soluções conviverem constantemente só contribui para a sensação de estranhamento do jogador.

Da mesma forma, a companhia dá mais atenção a certas texturas do que a outras, o que contribui para a criação de um visual um tanto esquizofrênico. Embora seja compreensível que a Square Enix não tenha dado o mesmo nível de atenção a todos os elementos do jogo, a maneira como isso foi feito é um tanto bizarra e impede a imersão total no universo do título.

O “tratamento HD incompleto” traz como “compensação” o fato de que o desempenho do game se mantém estável em todos os momentos. Durante nossos testes, não testemunhamos qualquer queda na taxa de quadros do título, algo que se mostra especialmente importante em um RPG com um sistema de batalha tão dinâmico.

Raízes portáteis inegáveis

A origem portátil de Final Fantasy Type-0 HD faz com que o jogo nem sempre funcione conforme o esperado em um console de mesa, graças à manutenção de certas opções de design determinadas pelo hardware limitado do PSP. As áreas disponíveis possuem dimensões bastante limitadas, o que condena o jogador a encarar uma grande quantidade de telas de carregamento conforme prossegue — algo que pode se tornar especialmente irritante conforme você explora seu quartel-general.

A mesma limitação influencia negativamente as cenas de corte, que se provam pouco dinâmicas e não contribuem muito para o ritmo da história. A partir do momento em que você nota que a tela escurece toda vez que o ângulo de câmera muda, é difícil não prestar mais atenção nisso do que nas ações que estão se desenrolando.

O contraponto positivo das origens portáteis do RPG é o fato de ele apresentar um ritmo de progressão bastante rápido. Como as missões disponíveis duram em média de 10 a 15 minutos, ele se torna um dos poucos títulos do gênero que podem ser muito bem aproveitados em doses curtas sem que isso signifique progredir pouco ou se perder na história.

Vale a pena?

Representando um novo caminho para a série, Final Fantasy Type-0 HD é uma aquisição obrigatória para quem é fã de um RPG que não tem medo de experimentar. Mesmo carregando certo peso negativo de sua origem, o game mais acerta do que erra, apresentando uma experiência muito mais fresca e envolvente do que a estranha trilogia Final Fantasy XIII (da qual fez bem em se distanciar).

Vale notar que, como um “remake HD”, o título está longe de ser um trabalho perfeito. Assim, aqueles que procuram por uma grande fidelidade gráfica provavelmente não vão ficar nada satisfeitos ao ver personagens detalhados interagindo com elementos dignos da era PlayStation 2 — felizmente, a trilha sonora remasterizada é excelente e compensa um pouco o desleixo da Square Enix na parte gráfica.

Mesmo deixando de lado o nome Final Fantasy, Type-0 HD conseguiria se destacar facilmente em meio ao estagnado mercado de RPGs japoneses. Caso você procure uma experiência dinâmica que não se contenta em seguir convenções, vale a pena dar uma chance para o título — após algumas horas, você provavelmente vai passar a considerar que a demonstração de Final Fantasy XV que acompanha o pacote é desnecessária mediante a qualidade do jogo principal.

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Pontos Positivos
  • Sistema de combate dinâmico
  • Personagens variados com jogabilidade própria
  • História com tons sombrios
  • Trilha sonora remasterizada de qualidade
  • Dificuldade balanceada
Pontos Negativos
  • Carregamentos excessivos
  • Origem portátil prejudica um pouco o ritmo da trama
  • Recriação gráfica esquizofrênica
  • Final verdadeiro exige terminar o game múltiplas vezes