Carcaças de zumbis para trás e muita diversão pela frente.

Que o gênero FPS anda meio saturado há algum tempo todo mundo já sabe. Também é bem sabido que esse status deixa duas escolhas bem claras para qualquer empresa que se proponha a jogar alguma coisa nas prateleiras: apostar em “mais do mesmo”, utilizando as mesmas fórmulas consagradas — que, convenhamos, já andam meio desbotadas —, ou arriscar algo novo e inusitado, que pode ser um sucesso completo ou apenas uma excentricidade com pouco ou nenhum apelo comercial.

Que tal entrar para o elenco de um clássico filme trash?

Bem, com Left 4 Dead a Vale sem dúvida apostou na segunda opção. Mas não, não se trata apenas de algo diferente e sem substância. Muito pelo contrário, trata-se de uma proposta inovadora que pode tranquilamente figurar entre os melhores jogos de tiro desse ano. Tudo embalado com o esmero já bem conhecido da Valve no que diz respeito à jogabilidade, detalhamento e desempenho gráfico (garantido pela veterana Source Engine, agora devidamente remodelada).

Left 4 Dead leva você diretamente para um daqueles filmes de terror “trash” que viraram moda nos anos 70 e 80, principalmente. A história é de fato bastante simples: junte-se a outros “sortudos” sobreviventes de uma infestação de zumbis para que todos consigam escapar. Exatamente isso: escapar. Qualquer espírito ativista que pretenda expurgar a cidade de todos os zumbis deve ser rapidamente frustrado (sobretudo nos níveis mais difíceis).

Mas não se engane. A história simples apenas colabora com a criação do já mencionado clima cinematográfico. Um clima que ainda vem acompanhado de um dos mais autênticos e divertidos desafios cooperativos online dos últimos tempos.

Destroce zumbis enquanto tenta evitar a cabeça de um companheiro.

Assim sendo, relaxe na cadeira e escolha um dos quatro personagens estereotipados do jogo para abrir passagem em meio a um verdadeiro oceano de comedores de cérebro. Você nunca gostou dos heróis? Sem problemas. Left 4 Dead traz ainda um modo versus no qual é possível encarnar um asqueroso zumbi, a fim de impedir que os sobreviventes cheguem ao local seguro.

Modo single/tutorial player

Sim, existe um modo single player. Entretanto, este se parece muito mais com um tutorial do que com um jogo completo. Não entenda mal, os desafios são basicamente os mesmos e os “bots” controlados pelo computador até tem um desempenho razoável quando a coisa fica realmente feia — além de serem altruístas por natureza.

Modo single: uma boa oportunidade para aprender como as coisas funcionam. O que acontece é que Left 4 Dead é um jogo essencialmente online; de cunho social mesmo. Quer dizer, se você não tem muita experiência em jogos de tiro ou gostaria de dar uma olhada para ver como são as coisas antes de dar as caras na comunidade online, o modo single é bastante indicado. Mas o desafio vai ficar realmente interessante quando você se juntar com outros sujeitos de carne e osso numa luta desesperada por sobrevivência — sem falar na competição pelo maior número de zumbis destroçados durante as fases.

A julgar pela proposta que foi apresentada pela Valve desde o início, é até bastante natural que o modo offline de Left 4 Dead seja um tanto descartável. Não só devido ao apelo cooperativo/social do jogo, mas até pelo desempenho no campo de batalha.

Como assim? Simples. O que acontece, é que os bots têm bom coração, mas não são exatamente impetuosos e, sem dúvida, nada têm de estrategistas. Quer dizer, você sempre será convidado a tomar a dianteira a fim de que o jogo ande. Mesmo se você estiver ferido ou com pouca munição. Além disso, não existe nada que permita criar uma formação tática ou mesmo dar ordens. Você simplesmente vai ser seguido por um séquito armado até os dentes.

Cooperativas anti-zumbis

A diversão maior de Left 4 Dead vem a tona mesmo quando se resolve tentar a sorte nos modos online. Para tanto, você pode tanto procurar por uma partida específica ou utilizar a opção para um jogo rápido, fazendo com que o seu personagem seja colocado no jogo em andamento que mais combine com o sue nível de experiência.

Mata você ou mato eu?

Entrando em uma partida online você acaba se sentindo como um clássico herói de filme “trash”. Aliás, o jogo é todo orientado no sentido de fazer com que a experiência toda se párea com um filme. O início das fases, por exemplo, traz um cartaz de filme mostrando os quatro personagens disponíveis: Zoey (a entusiasta de filmes de terror), Bill (um herói da guerra do Vietnam), Louis (um analista de sistemas) e Francis (um típico membro dos Hells Angels).

Acima do nome de cada um deles, figura o seu “nick”, como se você fosse o ator que interpreta aquele papel no filme — sutil e genial, sem dúvida. A partir daí, sem mais delongas, sem nenhuma explicação sobre morfologia viral ou algo parecido, você será jogado para a ação principal em um dos quatro cenários disponíveis: “No Mercy”, “Dead Air”, “Death Toll” e “Blood Harvest”.

Pois é, alguns cenários a mais não fariam mal. Mas, nada que realmente obscureça a diversão quando a ação tem início. Juntamente com os seus três companheiros sobreviventes (caso não haja jogadores suficiente os “bots” tapam os buracos) você terá que seguir por uma cidade infestada ou através de um aeroporto sempre buscando o próximo local seguro, onde será possível pegar novas armas, pegar nova munição e conseguir kits médicos.

Ah, se eu fosse mais popular! Questões logísticas à parte, a diversão principal de Left 4 Dead vem mesmo da interação entre os sobreviventes — quando estes forem jogadores de carne e osso. Você vai precisar dar cobertura em algum momento, vai precisar que alguém livre o seu pescoço da língua pegajosa de um “smoker” no momento seguinte e pode ainda ter que ajudar um companheiro caído enquanto este é coberto por dúzias de zumbis famintos.

Basicamente, ou você trabalha em equipe e respeita os companheiros, ou morre... ou é excluído. Isso porque, antes mesmo de entrar em cena, uma tela explica sobre o cunho social e cooperativo de L4D. Essa é sem dúvida a essência do jogo. Assim sendo, caso um jogador em particular não tenha entendido muito bem a idéia, os demais podem fazer uma votação para colocá-lo para fora.

Felizmente, esses tipos não são tão facilmente encontrados em uma partida. E caso você consiga realmente cair em um grupo efetivo e empenhado, a diversão será garantida. Um grupo bem formado também pode ajudar muito quando se está no modo expert, onde as coisas ficam realmente “interessantes”. Aí, ou você tem um grupo coeso e unido, ou certamente vai acabar afundando em meio às hordas de zumbis.

Até por que, Left 4 Dead mantém sempre ativo o famoso “friendly fire”. Jogadores menos preparados vão fatalmente acabar se desesperando e acertando o companheiro mais próximo na tentativa de despachar alguns dos zumbis que entram pela janela ou caem do teto despedaçado. Em suma, é bom treinar bastante nos níveis mais baixos antes de se enfiar na carnificina pútrida do modo expert.

Zumbis lentos e murmurantes? Não aqui

Se você está esperando encontrar em Left 4 Dead o clássico zumbi de Resident Evil, que tem Q.I. de alcachofra e anda lentamente e trançando as pernas, é bom esquecer. Bem, os zumbis de fato ainda não são exatamente espertos, mas sem dúvida também não são lentos. Eles correm em disparada, pulam e ainda têm uma força sobrenatural. Uma comparação poderia ser feita com as rápidas criaturas do filme “28 Weeks Later” (“Extermínio II” no Brasil), do diretor Juan Carlos Fresnadillo.


O comportamento dos zumbis de Left 4 Dead também acrescenta bastante ao clima do jogo. Você realmente não vai simplesmente encontrá-lo parados para em seguida ser perseguido. Em vez disso, você vai encontrar um policial morto vivo vomitando, uma enfermeira se lamentando ou um respeitável funcionário corporativo se esgueirando para pular no seu pescoço. Isso sem falar na artilharia pesada dos mortos vivos, zumbis maiores e mais poderosos que realmente podem dar muita dor de cabeça.

Se você for pego pela língua de sapo de um smoker, por exemplo, é bom contar com alguma popularidade no seu time para não acabar sendo arrastado pelo pescoço até um ensandecido zumbi. Um smoker destruído ainda deixa uma nuvem de fumaça (pois é, smoker) para trás, o que atrapalha um bocado — principalmente naqueles momentos em que as criaturas vêm de todos os lados em um fluxo continuo de arranhões e dentadas.

Boomer: de repente deu uma vontade de vomitar... Um boomer é basicamente uma bolota de tumor pútrido que explode facilmente, o que não é muito agradável para quem estiver em volta. Entretanto, a sua “habilidade” mais marcante é a de vomitar uma gosma sobre os jogadores. Essa gosma vai atrai uma infinidade de zumbis sobre o desventurado jogador que ainda estará parcialmente cego pela substância excretada. Pois é, mais uma vez, é bom ter companheiros por perto para ajudar.

Já um hunter é uma espécie de “smeagle” (Senhor dos Anéis) zumbi. Trata-se de um zumbi extremamente ágil, que pula e corre por todo o cenário em um frenesi absurdo — em alguns momentos essa agilidade parece ser demais até para a engine gráfica, que acaba cometendo algumas mancadas. Caso ele consiga chegar muito perto de um dos sobreviventes, é bom ter mais alguém por perto para arrancá-lo de cima.

E, por fim, um Tank é um amontoado de músculos realmente resistente e a witch... bem, digamos que, caso você escute um choro lamurioso em vindo de algum lugar, é bom encontrar um caminho alternativo. Trata-se, sem dúvida, da criatura mais poderosa e mortal que se pode encontrar em L4D. Caso se jogue luz sobre uma witch, esta se jogará em uma inexorável fúria assassina para cima dos jogadores. É bom contar com mais do que uma pistola nesse momento.

Assumindo o papel da carne podre

Para aqueles momentos em que você esteja um pouco cansado de salvar o mundo do apocalipse de mortos vivos, Left 4 Dead traz um modo versus bastante diferente para até 8 jogadores. Enquanto a metade fica no controle do heróis sobreviventes, o restante assume o papel de um dos zumbis chefes do jogo, exceção da witch (lamentavelmente). Estes deverão impedir que os heróis consigam chegar vivos ao final do cenário.

Matar zumbis ou sobreviventes. Dificil saber o que é mais divertido.

A equipe que assumir o papel dos zumbis ainda levará algumas vantagens para contrabalancear o fato de as criaturas terem uma resistência menor: as criaturas poderão ressurgir indefinidamente durante as fases, com exceção do Tank (que ressurge apenas uma vez por fase). Existem também vários caminhos alternativos para realizar emboscadas, e os zumbis também podem enxergar no escuro e, ocasionalmente, através das paredes (caso os sobreviventes estejam conversando ou correndo, por exemplo).

Uma vez que se termine então uma rodada, os times trocam de lugar, de forma que cada um deles terá a oportunidade de experimentar os dois lados (e tentar ser melhor em ambos). Infelizmente apenas os cenários “No Mercy” e “Blood Harvest” está disponíveis no modo versus.

IA sádica e eficiente

De fato, L4D traz poucos cenários, assim sendo, conforme você for se acostumando com os locais, a coisa toda vai se tornando progressivamente mais previsível e fácil, certo? De jeito nenhum. Todas as partidas são magnificamente orquestradas pela imprevisível IA do jogo, que pondera várias coisas antes de espalhar inimigos e itens aqui e ali.

Assim sendo, só por que você subiu a escadaria e encontrou um boomer esperando, isso não quer dizer que a mesma coisa vá acontecer na sua próxima passagem por aquele trecho. O mesmo trecho pode, em vez disso, trazer uma leva de zumbis, um Tank ou... absolutamente nada além de uma música perturbadora.

Ei, esse hunter não estava aí da outra vez!... Pois é.

O mesmo acontece com os itens. Quer dizer, esqueça aquela história de se programar para que a munição dure até que você chegue em uma sala específica. Ela pode muito bem não estar mais lá.

Isso por que a IA, conhecida como “Director”, de L4D age da seguinte forma: caso o desempenho do seu time vá de vento em popa, acumulando centenas de carcaças de zumbis, muita munição e ninguém esteja particularmente mal, o computador deve deliberadamente tornar as coisas mais “apimentadas”. Isso significa menos itens e várias surpresas no meio do caminho. “De onde veio essa leva de zumbis!”. E mais ou menos por aí.

Em contrapartida, um time desventurado pode cair nas boas graças do computador, que colocará mais itens pelo caminho e também pode conter um pouco o número de zumbis. Pelo menos até que a equipe se estruture novamente.

É sem dúvida essa imprevisibilidade, aliada à tendência fortemente cooperativa, que torna Left 4 Dead um título único. Quer dizer, mesmo os jogadores mais veteranos vão precisar trabalhar em equipe, já que nunca se sabe o que a maquiavélica IA do jogo tem nas mangas. Mas uma coisa é certa, você e o seu grupo vão se ver constantemente jogando no limite, tanto de munição quanto de energia — pelo menos nos níveis mais altos.

Assim sendo, é bom não sair distribuindo tiros de rifle ou de submetralhadora a esmo para não acabar apenas com uma pistola (ou duas) na mão, que é a única arma que tem munição infinita. Compartilhar kits médicos com os membros do time também vai acabar sendo uma necessidade — é claro que não se espera a mesma condescendência dos bots de jogadores de carne e osso, sobretudo se você está com pouca energia unicamente por ser inconseqüente.

The End

Caso você consiga então sobreviver às hordas de zumbis, à falta de munição e energia e também às possíveis discórdias entre o grupo, o cenário escolhido chega ao fim. Para manter o estilo cinematográfico, o jogo exibe os créditos, nos quais se pode ver quem matou o maior número de zumbis, quem distribuiu mais headshots, quem acertou mais companheiros, etc.

Além disso, alguns detalhes cômicos também aparecem, como “XXX zumbis foram feridos durante as filmagens” ou, caso o seu personagem seja o único sobrevivente, os créditos exibirão algo como “em memória de...”, seguido dos nomes dos jogadores menos afortunados. Enfim, um estilo impecável.


Você pode até achar que a Source Engine anda meio mal das pernas, por conta da avançada idade (quatro anos para um software é realmente bastante tempo). Entretanto, isso não impede que Left 4 Dead seja um dos mais promissores, inovadores e divertidos títulos de FPS lançados esse ano.

A dupla quebra de paradigma da Valve de fato trouxe uma proposta nova. Uma proposta que traz novamente o foco para um modo cooperativo (um estilo de multiplayer que já estava em segundo plano a muito tempo) e uma conseqüente marca social, e que também resgata aquele clima nojento, tosco e absolutamente inigualável dos filmes de terror “trash” das décadas passadas. Resumindo: você anda meio cansado dos jogos de tiro oferecidos recentemente? Quer alguma coisa com um estilo singular? Talvez você devesse dar uma olhada em Left 4 Dead.
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