Imagem de Monster Hunter World
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Monster Hunter World

Nota do Voxel
96

Monster Hunter World chegou à nova geração e mostra que veio para ficar

Se você é fã da franquia Monster Hunter deve saber: cada um dos games oferece não dezenas, mas sim centenas de horas de conteúdo e muita diversão.  E agora, a série retorna com Monster Hunter World, próximo título promissor. Confesso: depois de mais de 50 horas de jogo, muitas caçadas (online e offline) e correndo atrás das novidades, World se tornou um dos meus games favoritos da série (talvez O predileto, mas ainda pondero).

Monster Hunter tem estado por aí desde 2004, sempre um sucesso entre seus fãs. Recentemente, DestinyThe DivisionDiablo 3 surgiram e popularizaram novamente o sistema de looting e criaram tendência no mercado, algo que gerou uma onda de novos games que utilizaram esses sistemas, como Assassin’s Creed Origins, Shadow of WarShadow Warrior 2 e muitos outros. É engraçado pensar que em 2018 há muitos títulos que usam mecânicas de MMO, como looting, cooperação entre jogadores e a busca constante por equipamentos melhores.

Mas hey! Monster Hunter já fazia isso há muito tempo – e fazia bem, por sinal –, mas sempre foi considerado uma experiência de nicho. Estava na hora de a franquia dar o próximo passo, evoluir! Monster Hunter World é o game que chegou para audiências maiores, mais espalhafatoso, bonito, robusto e, principalmente, visível ao público. Chegou a hora de mostrar que a série é digna de destaque e que coloca muitas franquias no bolso.

Uma estrutura repetitiva (e extremamente divertida)

Primeiro, uma rápida recapitulação: o que é Monster Hunter? Mesmo sendo uma série com quase 15 anos, poucas pessoas tiveram contato com ela e muitas sequer sabem do que se trata. Apesar de ter sua camada de profundidade, é fácil explicar: no game, você vai caçar monstros, coletar recompensas e usar o que conseguir para criar novas armas e armaduras. Pode parecer repetitivo, mas a fórmula funciona muito bem e é a repetição que serve como combustível da diversão.

Monster Hunter World segue esse ritmo, essa estrutura com mecânicas de action RPG que não são baseadas em level ou árvores de skills. Tudo que você tem são as suas habilidades com cada uma das 14 armas (algo que requer um treinamento sério, quase como aprender a fundo como jogar com um personagem em um game de luta) e o conhecimento do mundo do jogo.

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Já virou piada (e cliché, claro) comparar qualquer jogo que saia no mercado com Dark Souls, mas Monster Hunter é quase o contrário: antes mesmo da From Software pensar nessa estrutura, Monster Hunter já executava uma jogatina que requer treinamento, observação e encarar criaturas que são quase chefões.

Quase como uma performance artística, cada caça requer que os jogadores decorem os passos e se vistam da maneira adequada, o que cria uma dinâmica incrivelmente gratificante. Investir no equipamento certo, entender as fraquezas e forças de cada criatura e aprimorar o seu estilo para cada arma é essencial.

Monster Hunter World tem uma estrutura muito divertida, mesmo que pareça repetitiva

Monster Hunter World segue essa essência e se mantém fiel às raízes da série, mas oferece um tempero mais agradável, de melhor degustação do público. Por isso, é fácil dizer que o novo game da franquia é sobre duas coisas: criar um ecossistema ainda mais incrível e realista, e remover barreiras e empecilhos que os títulos anteriores tinham. Veja bem: não se trata se tornar o jogo fácil, e sim de tirar complicações que sequer deveriam ser complicadas.

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Quando o anúncio de World chegou na E3 de 2017, muita gente vibrou. Outros ficaram com o pé atrás. Qualquer mudança drástica – ou que aparenta isso – é de se causar comoção e espanto nos mais familiarizados. Mas podem ficar tranquilos: Monster Hunter World é tão Monster Hunter quanto qualquer outro. Contudo, isso não significa que ele não tenha sua dose de ar fresco e seu leque de novidades.

Um mundo vivo, grande e cheio de surpresas

Palmas para a Capcom: remover os cenários segmentados foi uma jogada ousada para a série, mas se provou uma das melhores mudanças. O mundo de Monster Hunter World é tão vivo que parece respirar por conta própria. Os mapas, que antes eram separados por áreas menores que requeriam loadings, agora são uma única coisa, com transições bem definidas entre os seus biomas. A escala é muito maior e bem mais ambiciosa.

Há atalhos para encontrar, Amigatos (sim, os Palicoes se chamam Amigatos na tradução) para achar, acampamentos para montar e muito, muito mais. Mesmo em Expedições, ou seja, vagando pelo mapa sem uma missão designada, ainda há muito conteúdo e surpresas para descobrir. Depois de 50 horas de jogo, me deparei com a mecânica da "rede de captura", que serve para pegar animais e decorar o quarto do caçador.

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A fauna e a flora de cada cenário encantam, trazendo mapas lindos. Mas o que impressiona mesmo são os monstros, os astros que estrelam canto do cenário. Cada criatura é única, como animações soberbas e características muito criativas. É incrível notar os hábitos  e comportamentos de cada uma delas, reparar na rivalidade territorial que elas nutrem entre si e muito mais. A ecologia e a evolução do universo foram incríveis e era uma das coisas que a franquia mais necessitava.

Um jogo abrangente, mas que não trai a essência

Monster Hunter World é cheio de coisas novas. Entretanto, todas essas alterações no alicerce da franquia requerem algumas mudanças estruturais que acompanhem essa evolução. E a Capcom não deixou passar batido: muito foi alterado aqui, mas tudo em prol do jogador, oferecendo uma jogatina mais rápida e menos burocrática.

O jogo está bem menos travado, com facilitadores bem legais, como a combinação automática de itens, guialumes que levam o jogador até o monstro, as armaduras de guerreiros corpo a corpo e atiradores são as mesmas, o bestiário revela as fraquezas das criaturas, mantos que oferecem habilidades extras ao jogador (como camuflagem ou redução de dano) e por aí vai. Mas para cada facilitador, há um contrapeso de dificuldade, o que deixa tudo bem interessante. Apresentar tudo isso para o usuário requer tutoriais, mas ponto positivo para a Capcom em ensinar tudo de uma maneira satisfatória – apesar de ter ressalvas, que falarei mais abaixo.

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A diversão é constante por toda a campanha, que dura mais de 50 horas, e nas missões opcionais. É legal notar que, apesar de ter muitos elementos mais acessíveis e uma apresentação vezes melhor para novatos, a Capcom não descartou nada do que compunha a essência original em função de um jogo mais comercial.

Monster Hunter World se reiventa em muita coisa e assume a evolução, mas sem perder sua essência

Apesar de não recebermos novas armas dessa vez, todas as 14 receberam adições substanciais que modificam muita coisa, requerendo um leve reaprendizado até para os veteranos da série. Parte das Hunter Arts, novidade implementada em Generations, foi quebrada e readaptada a World. É difícil pegar o jeito, principalmente se você for novo, mas é legal testar as armas no campo de treino ou com os amigos no modo online, já que ele está bem mais descomplicado dessa vez.

O modo online que se encaixa à proposta

Monster Hunter sempre foi uma franquia que apresentava uma campanha como uma espécie de tutorial ao jogador. O jogo começava de verdade quando você estava apto a partir para as quests multiplayer, que, com o tempo, traziam um nível de dificuldade maior. World elimina de vez essa distinção e torna as coisas bem mais interessantes.

Agora, os jogadores podem entrar e sair de missões a qualquer momento, contanto que as missões sejam do nível de caçador do seu jogador – claro, se você entrar só no fim da quest, a recompensa é menor. Isso evita a confusão de juntar um único grupo e não pune ninguém quando a conexão cai, já que podemos voltar a qualquer momento. Esse online fácil é, sem dúvidas, um dos pontos fortes do game e que dará uma excelente sobrevida ao título.

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Durante o tempo que testei o modo online, jogar com os amigos era fácil e natural, sem complicações. Com pessoas aleatórias, tudo depende do seu nível de busca: às vezes é fácil e às vezes é complicado, mas parte disso pode ser por problemas que a PSN teve nos últimos dias, o que não facilitou os testes.

Finalmente: um folclore para nos importarmos

Mas não é só na parte mecânica que Monster Hunter World apresenta um grande salto. A narrativa, até então contada quase que puramente por textos e que servia mais de pretexto para experiência, finalmente ganhou a profundidade que merecia, apresentando o universo rico (e apagado pela forma da narrativa) que a franquia tem por trás.

Até que enfim temos um enredo interessante que não só aborda muito do universo da franquia como também explora todas as novidades do Novo Continente, local onde o game se passa, tudo com um clima muito cinematográfico, diálogos com voz e cutscenes em praticamente todas as missões da história.

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Certamente, isso causa uma ótima impressão para os novatos e um se torna um excelente agrado para os veteranos, já que é legal ver a desenvolvedora dando mais atenção a elementos que, no passado, passavam um pouco batido.

Gráficos de deixar babando

Apesar de ser muito focado nas mecânicas de looting e repetição, a Capcom não poupou esforços em criar um jogo espetacularmente lindo. Monster Hunter World não é um game contemplativo, mas facilmente você se pegará observando cada mapa novo, que vai de planaltos incrivelmente soberbos a vales sombrios.

Independentemente de quais dos cinco cenários que você se encontra, você vai achar uma riqueza enorme em detalhes. Mesmo desenvolvido na MT. Framework, uma engine gráfica já antiga da Capcom, os visuais são estonteantes, com efeitos de partículas incríveis e um mundo recheado de texturas soberbas.

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Infelizmente, há alguns probleminhas de performance, tanto nos consoles comuns quanto nos premiums, mas nada que quebra a imersão.

Quase, mas quase perfeito

Monster Hunter World tinha um potencial enorme de se tornar o melhor de toda a franquia. E, sinceramente, talvez ele seja mesmo. Mas isso não quer dizer que ele está livre de falhas. Diversos pontos negativos foram corrigidos, mas novos surgiram, começando pela progressão do game.

Apesar de ser tudo muito divertido, veteranos sentirão falta de algumas liberdades antes oferecidas de início e que só são liberadas dezenas de horas depois, como as joias e amuletos das armaduras. Parte disso é compensado com algumas novidades, como as novas habilidades dos equipamentos (que são bem legais, por sinal), mas ainda assim um probleminha. No fim, o endgame acaba sendo o mesmo que conhecemos e amamos, com toda a diversão que tem para oferecer, mas o caminho até ele é um pouco demorado.

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Para os novatos há contrapontos também: na primeira hora, Monster Hunter World tem os tutoriais que todo marinheiro de primeira viagem pode querer. Porém, depois desse período, muitas coisas essenciais são perdidas no caminho. O jeito é se juntar com a galera no online e bater papo para descobrir tudo o que pode.

Alguns facilitadores saíram de cena, como a fazendinha (ou Pokke Farm), que mais uma vez foi deixada de fora. Basicamente, ela servia para coletar itens mais simples para o jogador, como mel, minérios e insetos. Há soluções alternativas para isso, mas nenhuma delas funciona tão bem (além de demorarem bastante para aparecer e quebrar esse galho).

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Além disso, World tem alguns problemas estruturais que poderiam ser evitados. Além de ter uma quantidade de monstros reduzida (não faria mal ver algumas figurinhas repetidas, como Nargacuga, Tigrex, Plesioth e muitos outros), eles também têm um comportamento bem pouco aleatórios e que são atrelados a missões específicas, o que tira um pouco do dinamismo.

Assim como partidas multiplayer de MOBAs, FPS e muitos outros, a variedade mora na aleatoriedade de cada “partida”. Contudo, os monstros de World têm um padrão muito, muito igual. Depois de alguns testes, descobri que esse padrão de comportamente está atrelado à missão, e não à criatura.

Vamos pegar a Legiana, uma das criaturas novas, como exemplo. Eu queria criar o conjunto de armadura dela e isso requer itens, o que me obriga a repetir a mesma missão várias vezes. Sem problemas, sempre foi assim. O que incomoda é que o padrão do monstro é idêntico todas as vezes: ele começa no cenário A, vai para o B, então para o C e, por fim, para o D. Não há nenhuma aleatoriedade. Até os encontros entre outros monstros acabam não sendo muito aleatórios e isso tira muito da dinâmica que a série tem.

Vale a pena?

Nada disso é crítico e estraga a experiência. No fim, Monster Hunter World é jogo que a nova geração merecia. Uma experiência empolgante, extremamente divertida a curto e longo prazo, que nos coloca em um ciclo vicioso de caçar criaturas e montar equipamentos. Monster Hunter World tem tudo para vingar e virar tendência.

Se a Capcom continuar com a sua política de DLCs gratuitos, a falta de monstros clássicos pode ser compensada no médio prazo e manter o game vivo na comunidade, mas tudo depende da desenvolvedora. Já vimos que a empresa tornou Street Fighter V em um game de serviço contínuo e nada impede que muitos monstros e outras novidades (como quest G-Rank, quem sabe?) continuem chegando como conteúdo adicional, empolgando o jogador que parou de jogar há um tempo.

No geral, temos uma experiência muito, mas muito boa, e que agrada tanto novatos quanto veteranos, algo que a Capcom já havia tentando fazer no passado, mas que conseguiu de vez neste ponto. Monster Hunter World não é um jogo perfeito nem nota 10, apesar da qualidade excelente, mas é um passo gigantesco para o primeiro salto evolutivo da franquia em anos. Talvez, um Monster Hunter World 2 será aquele jogo que todo fã espera como perfeição.

*Monster Hunter World foi gentilmente cedido pela Capcom para a realização desta análise

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Pontos Positivos
  • Extremamente divertido e recompensador, com dezenas (ou centenas) de horas de conteúdo
  • A experiência dos portáteis foi traduzida com maestria para a atual geração
  • Mesmo com muitos facilitadores, a experiência é muito balanceada e gratificante
  • Um ecossistema incrível e, até agora, o melhor de toda a série
  • A essência de Monster Hunter continua intacta, mesmo com as novidades
  • O online está ainda mais divertido e fácil, algo que casou bem com a experiência
  • Gráficos absolutamente incríveis e de deixar qualquer um impressionado
  • Muito mais foco na trama, que agora tem dublagem e cutscenes para apresentar o universo da série
  • O endgame demora para chegar, mas é tão divertido quanto nos demais jogos da franquia
Pontos Negativos
  • Há poucos monstros e eles podem apresentar comportamento repetitivo às vezes
  • O começo, mesmo que bem explicado, pode ser confuso para novatos
  • Progressão demorada, algo um pouco frustrante para veteranos
  • Pokke Farm (fazendinha) mais uma vez está de fora e a solução não é das melhores