Imagem de Murdered: Soul Suspect
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Murdered: Soul Suspect

Nota do Voxel
65

Boas ideias não tiram o clima de “negócio inacabado”

Aqui você é Ronan O’Connor, um detetive estilo “eu faço minha própria lei”, típico dos filmes de investigação de algumas boas décadas atrás. Ronan é assassinado enquanto resolvia um caso particularmente cabeludo, revolvendo pistas atrás de um psicopata conhecido como Bell Killer. Durante a perseguição, entretanto, o oficial (um ex-delinquente) acaba assassinado, sabendo pouco ou quase nada sobre o que houve e, principalmente, sobre o que lhe aguarda.

Ok, talvez a primeira dúvida necessite mesmo de uma boa dose de investigação, a fim de saber quem, afinal, é o misterioso Bell Killer. Mas as dúvidas de Ronan sobre o pós-morte, essas poderiam ser facilmente respondidas por Ghost Trick, um dos maiores clássicos do DS — o qual, obviamente, serviu como inspiração principal para o povo da desenvolvedora Airtight Games durante o desenvolvimento de Murdered: Soul Suspect.

Bem, mas o fato de ser um “copião” transformaria Murdered em um jogo medíocre? Absolutamente não. Entretanto, ao lançar mão de uma pseudodiversão sandbox e botar tudo para funcionar com uma jogabilidade um tanto quanto limitada, Murdered acaba não aproveitando tudo o que poderia da sua matriz.

Sim, é verdade que há aqui uma boa proposta (mesmo que não totalmente original), e a ideia de atravessar a pitoresca cidade de Salem (Massachusetts, EUA) como um espírito caçando os próprios executores é, em si, bastante atraente. O problema é que mesmo a boa trama acaba cambaleando por conta de uma série de pontas soltas e dramas muito pouco interessantes.

Sou um fantasma, e agora?

A despeito da história de vida um tanto prosaica, Ronan ‘Connor realmente se torna um personagem interessante diante do cenário que envolve a sua morte. Afinal, há aí a possibilidade de se controlar um espírito por entre o mundo dos vivos (o que parece jamais perder o charme), e a história de um facínora misterioso que deixa um rastro de vítimas também é capaz de cativar.

A questão é que nem tudo aqui funciona como insinuam os primeiros minutos de jogo. De fato, mesmo algumas boas sacadas acabam simplesmente como adições incapazes de prender a atenção por muito tempo. Quer dizer, passado o impacto inicial da trama, o que se espera é uma boa dose de desafios que possam mantê-la viva.

Praticamente sem desafio

Embora a investigação da morte de Ronan seja de particular interesse, o mesmo não se pode dizer das mecânicas que garantem a sua interação com o jogo. Diferentemente do que ocorre em jogos como L.A. Noire, por exemplo, aqui uma escolha errada ou uma pista não percebida não vai impedi-lo de simplesmente continuar pelo caminho das pedras do jogo.

Escolheu uma “conclusão” errada para determinada parte do caso? Sem problemas. Basta tentar outra, outra e mais outra. Isso se você realmente não quiser juntar A com B, já que a maior parte dos “desafios” é um tanto quanto óbvia — quando não, o problema possivelmente é truncado, cuja solução é quase aleatória.

A impressão que fica é a de boas mecânicas desperdiçadas. A captação de auras fantasmagóricas, por exemplo. Ronan é capaz de reconstruir eventos que se passaram em determinado lugar, a fim de ajudar a revelar o próximo passo. O problema é que, novamente, as soluções são incrivelmente óbvias e nem mesmo admitem falhas realmente significativas.

Boas histórias paralelas

Embora o sandbox de Murdered não propriamente mereça o título, há alguns elementos que, entretanto, ajudam a dar alguma organicidade para a Salem virtual do jogo. Ao possuir o corpo de transeuntes (civis e policiais), é possível se aprofundar um pouco mais na história, enquanto os espíritos “com negócios por resolver” encontrados aqui e ali trazem consigo boas missões paralelas.

A adição talvez seja prejudicada apenas por certo pudor excessivo da desenvolvedora. Ao entrar na mente das pessoas, o que você encontrará serão preocupações com o assassino, reconhecimento do bom trabalho policial ou “pulgas atrás da orelha”. Nada de realmente interessante, nada que o faça se sentir realmente invadindo a mente de alguém.

Ghost Trick + L.A. Noire

Murdered Soul Suspect certamente traz consigo algumas boas ideias, mesmo que nem todas originais. Entretanto, o mote do personagem inicial, com seus “negócios por resolver”, acaba revelando pertencer também ao próprio jogo. De fato, mesmo as animações, incrivelmente scriptadas e repetitivas, tornam óbvio que alguém teve pouco tempo para aparar as arestas.

Embora a história de Ronan consiga cativar — assim como também a ideia de ser um detetive fantasma —, a falta de escolhas e, de forma geral, de uma maneira de alterar ativamente o fluxo da trama acaba por tirar a seriedade da coisa toda. O que há, no fim das contas, é uma boa atmosfera recheada de boas ideias... Mas com execuções medíocres.

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Pontos Positivos
  • Boa atmosfera
  • A ideia de ser um detetive fantasma é interessante
  • Boas histórias paralelas
Pontos Negativos
  • Jogabilidade truncada
  • Trama com pontas soltas
  • Desafios "passeio no parque"
  • Movimentações genéricas e repetitivas dos personagens