Imagem de Need for Speed (2015)
Imagem de Need for Speed (2015)

Need for Speed (2015)

Nota do Voxel
80

A noite mais esperada pelos fãs de underground chegou, mas podia ser melhor

Antes de mais nada, não podemos negar: o novo Need for Speed bebe diretamente da fonte da qual saíram os títulos mais populares da franquia, como a era Underground e Carbon, entre os anos 2003 e 2006. Em outras palavras: ele poderia muito bem se chamar Need for Speed Underground 3, mas, por algum motivo obscuro, a Ghost Games preferiu colocar sobre ele a responsabilidade de carregar a bandeira de reboot da série.

O jogo traz tudo que consagrou a época de ouro do NFS: ampla customização de carros, ambientação que transpira a ilegalidade das corridas de rua, uma jogabilidade descompromissada, divertida e autêntica e uma trilha sonora caprichada. Junte tudo a um visual muito bem trabalhado e a um enredo que, embora raso, casa bem com o game e você tem um título que tem tudo para agradar aos fãs e trazer aquela sensação boa de estar em casa de novo.

Embora a noite mais aguardada tenha finalmente chegado e seja regada a festas e velocidade, alguns pontos podem deixar um gostinho amargo de uma ressaca não planejada:

O que falar deste cara que mal conheço e já considero pacas?

Um dos destaques do novo lançamento da Electronic Arts foi, sem dúvida, a volta das cutscenes com atores de verdade, que começou com o Need for Speed Most Wanted de 2005. Logo de cara você é apresentado a Spike, um rapazinho superefusivo e que sai te convidando para conhecer todo mundo só porque você ganhou dele em uma corrida de rua.

É esse o ritmo da história: o grupo é receptivo e aberto à chegada de um completo estranho, confiando cegamente em você e dando a sensação de que tudo isso é o ambiente perfeito para uma reviravolta cheia de intrigas e traições.

Mas isso não acontece: no mundo de Need for Speed, todo mundo é legalzão e adora dar soquinhos para se cumprimentar. Ah, e ninguém consegue ficar parado: toda cutscene consiste em alguém chegando ou indo embora fazer alguma coisa. Além disso, todos eles adoram ligar para você, então esteja preparado para atender seu telefone diversas vezes.

Você vai ver MUITO disso durante o jogo. Dá um soquinho aí, vai

Tudo isso acaba fazendo com que a história seja um pouco rasa, sem grandes emoções. Por outro lado, você sente que trata-se apenas de um pano de fundo para a ação que rola nas ruas: a trama deixa de ser a prioridade. Um agravante é que alguns diálogos, principalmente feitos pelo telefone, são confusos e podem deixar o jogador perdido.

De qualquer forma, as atuações são até bem convincentes e você acaba criando certa simpatia por Robyn, Amy, Emanuel, Spike e Travis – cada um servindo como contato para uma das vertentes de jogo possíveis: estilo, customização, equipe, velocidade e fora da lei. Durante a jogatina, dependendo do seu estilo de jogo, você vai acumulando mais pontos em uma determinada vertente, que acaba por determinar o seu perfil.

Cada um desses modos é representado por um ícone, que, no caso, é uma celebridade da vida real: Magnus Walker, Akira Nakai, Ken Block, Shinichi Morohoshi e o pessoal do grupo Risky Devil são as personalidades que todos querem conhecer.

Os cinco ícones do Need for Speed (na ordem): Morohoshi-san, Ken Block, Nakai-san, Magnus Walker e Fish, do grupo Risky Devil

A joia de Need for Speed

Sem dúvida alguma, retomar as raízes da era Underground faz algo inevitável: é na customização dos carros que o novo Need for Speed se destaca. Enquanto as alterações nas peças de performance são feitas de forma bem simples, as modificações no visual são extremamente amplas em boa parte dos 51 veículos disponíveis, divididos em diversas categorias, como os clássicos da customização até os superesportivos italianos.

É possível mexer em rodas e pneus, trocar os para-choques, saias, faróis, lanternas, aerofólios, escapes e outros itens, além dos ajustes possíveis em altura do carro, espaçamento e cambagem das rodas dianteiras e traseiras, tudo para deixar o seu veículo do jeito que você quiser. As peças são liberadas de acordo com o seu nível, que vai aumentando de acordo com sua pontuação de reputação, vinculada aos estilos citados anteriormente.

Graças à parceria com o pessoal do site SpeedHunters, diversas marcas famosas de peças automotivas estão presentes, inclusive de carros que já passaram por lá. Sendo assim, é possível trazer para as ruas de Ventura Bay alguns carros da vida real, como esse Silvia S15, por exemplo:

O Nissan Silvia S15 de Travis Bishop pode ser replicado virtualmente para andar nas ruas de Ventura Bay (foto: Larry Chen/SpeedHunters)

As extensas possibilidades se estendem à pintura, que permite um ajuste fino entre os mais diversos tipos de textura existentes, e também aos variados adesivos que podem ser aplicados. Como um dos personagens do jogo diz em um determinado momento: a única coisa que pode te limitar na construção do carro dos seus sonhos é a sua imaginação.

Você tem cinco vagas disponíveis em sua garagem, deixando claro que a prioridade não é colecionar a maior quantidade possível de carros, mas mexer extensivamente em alguns deles.

Deslizar ou ter aderência: eis a questão

Além de toda a parte visual, você pode ainda fazer acertos no seu carro que modificam a forma como ele se comporta: é possível ajustar o veículo para deslizar com estilo por aí fazendo drifts ou então deixá-lo grudado no chão para fazer as curvas com mais precisão e velocidade.

Não é nada de outro mundo: tudo é feito por sliders, sendo que um deles te ajuda a fazer todo o trabalho. Caso você decida se aventurar, é possível fazer os ajustes finos para adaptar o carro ao seu estilo, mexendo em cada variável, como pressão dos pneus, pressão aerodinâmica traseira, balanço de freio.

Com o slider principal você não tem muito trabalho para definir seu estilo, mas é possível se aventurar nos ajustes finos

A jogabilidade muda consideravelmente de acordo com o estilo escolhido, mas, ainda assim, é extremamente agradável para o estilo arcade de Need for Speed. Fazer drifts é diferente da época do Underground, mas, depois que você pega a mão da coisa, tudo fica muito mais fácil – e encaixar aquela deslizada limpa numa curva dá uma sensação bem bacana.

É importante frisar que você precisará adaptar seu carro para as diferentes corridas do jogo: enquanto no início é fácil ganhar corridas "sprint" e em circuitos – em que o objetivo é ser rápido e não estiloso – com um acerto de drift, à medida que você progride na história, acaba vendo que montar um segundo carro com um perfil mais voltado para aderência não só é aconselhável: é necessário.

Um para drift, outro para aderência: a combinação é altamente recomendável em etapas mais avançadas do game

É perceptível que existe uma grande ênfase na cultura do drift, mas vale notar que a falta do famoso modo "drag" – as corridas em uma grande reta, em que o foco é a troca de marchas no tempo certo – causa estranheza. Isso se dá principalmente por se tratar de um modo popular nos jogos que serviram de inspiração para o game e porque também fazer parte da cultura automotiva urbana que serve de base para o novo título.

Você joga, mas eles escolhem como

Um aspecto extremamente negativo do novo Need for Speed é justamente uma contradição à ampla customização dos carros e da jogabilidade. Primeiro que não é possível escolher o nível de dificuldade do jogo: para sanar o problema, a Ghost fez com que a inteligência artificial seja atrelada ao seu desempenho durante as corridas.

Isso significa que, se você estiver muito bem durante a disputa, há uma enorme chance de um oponente ultrapassar você como um foguete, só para desacelerar de forma bizarra mais adiante. Enquanto esse aspecto pode tornar as coisas mais desafiadoras em certos momentos, em outros ele tira completamente o propósito da corrida.

Além disso, as perseguições estão longe de ser algo difícil ou realmente desafiador. É fácil fugir das viaturas e você só vai encontrar problemas se decidir prolongar muito a brincadeira com os policiais – mesmo assim, não é muito complicado encontrar uma forma de escapar.

Esses caras não vão ser um grande problema para você – a menos que você queira, é claro

O segundo ponto que não pode ser alterado afeta mais quem é entusiasta de jogos de corrida (sejam eles arcades ou simuladores): não existe uma opção para jogar com marcha manual.

Na verdade, não existe qualquer possibilidade de se mexer na disposição de controles do game, mesmo com botões sobrando e outros que tem finalidades um tanto quanto duvidosas, como um botão apenas para atender seu celular (que você usa muito), outro para desligar o motor (que quase não é utilizado) e outro para trocar a música.

Os direcionais do D-Pad para baixo, para esquerda e para a direita não têm qualquer utilidade, o que faz com que a ausência da customização de controles seja algo ainda mais absurdo e tire um pouco do brilho do jogo.

Uma noite bonita – e interminável

O jogo está muito bonito em todos os aspectos, e os carros e o ambiente estão bem detalhados. Os efeitos de sujeira em decorrência da chuva e dos próprios pingos na lataria do automóvel mostram o nível de detalhes com que a Ghost trabalhou. É utilizado um filtro que deixa a imagem um pouco granulada, que serve como "acabamento" e não chega a atrapalhar a experiência.

Em certos momentos, quando há uma grande quantidade de carros na tela durante a ação e em lugares que acabam enquadrando muito elementos ao mesmo tempo, é possível perceber leves quedas na taxa de frames. Novamente, nada que realmente impacte a jogatina.

Atravessando a noite até o amanhecer, mas sem ver a luz do dia: Ventura Bay tem uma noite bem longa (e chuvosa)

Um dos pontos que mais remetem ao estilo Underground no novo Need for Speed é o fato de a ação toda se passar durante a noite – e somente à noite. Os próprios desenvolvedores explicaram que o jogo acontece do anoitecer até o amanhecer, mas as variações climáticas são pré-estabelecidas dependendo da região de Ventura Bay onde você se encontra.

Na parte central de Burnwood, onde fica localizada a sua garagem, está quase sempre chovendo – e o pessoal da Ghost Games parece ter o mesmo gosto pela chuva que a Criterion tinha em seus títulos. Se você pegar a grande avenida que corta a cidade e for em direção a Crescent Mountains ou Franklin Terrace, é bem provável que o tempo se abra de repente e os primeiros raios de sol apareçam, para logo dar lugar à noite em outra região do mapa.

Falando sobre Ventura Bay, o tamanho e a variedade de cenários e ambientes são satisfatórios. As áreas montanhosas são perfeitas para a prática do drift, enquanto as estradas que circundam a cidade são ideais para corridas de altíssima velocidade em circuitos improvisados.

Mantendo a tradição de trazer bons sons

O primeiro Underground trouxe uma trilha sonora emblemática – todos conhecem a música da intro, certo? –, o segundo título adicionou efeitos sonoros (especialmente os motores) espetaculares e o novo Need for Speed mantém a fórmula de sucesso.

A sonorização do jogo continua com altíssima qualidade e a trilha sonora faz jus ao pacote. "Night Riders", de Major Lazer, "Go", do The Chemical Brothers, e "Lose Ya Love", do Kill The Noise – todas aparecendo nos trailers do game – têm peso para serem comparadas com as músicas que se tornaram emblemáticas nos jogos anteriores.

O restante da trilha casa com a temática e é composta por estilos variados, como dubstep, drum 'n' bass, hip-hop e rock indie. Ela pode ser conferida na íntegra em uma playlist preparada no Spotify.

A necessidade de internet não atrapalha, mas também não agrega

Quando foi anunciada, a necessidade de estar sempre online causou alvoroço por dois motivos: não são poucos os casos de problemas de instabilidade em grandes lançamentos que exigem conexão com a internet e, caso você queira jogar o jogo offline quando tiver algum problema, você simplesmente está proibido.

Enquanto a questão da impossibilidade de jogar sem internet não pode ser resolvida, o problema da instabilidade – presente na fase Beta do game –, felizmente, não apareceu. Desde os testes com o EA Access até as primeiras horas da versão definitiva, houve apenas um caso em que a queda de conexão com os servidores da EA foi presenciada.

A funcionalidade também impede que você pause o jogo, o que pode ser um problema caso você precise interromper alguma corrida: é necessário sair da disputa atual e começar tudo outra vez.

Outra questão é que a justificativa para necessidade da internet era de que "a experiência com seus amigos seria mais profunda". Bem, colocando de forma simples: ela não é. A participação de outros jogadores na história não é essencial, já que a história não deixa de ser contada se você não tiver alguém junto com você.

A funcionalidade do multiplayer acaba se restringindo ao comum: disputas online, placares de líderes e a possibilidade de disputas espontâneas no modo livre com outras pessoas. É algo orgânico, mas nada inovador para justificar a conexão constante.

O multiplayer cria um ambiente orgânico, mas não inova para justificar a necessidade de conexão

Existem casos em que essas mesmas pessoas até te atrapalham: alguns jogadores, ao perceberem que você está em um evento, decidem que é uma ótima ideia bater em você. Sim, alguns hu3zeiros estão presentes – por sorte, o encontro com eles é algo bem raro.

Um jogo que podia ser muito mais do que ele é

Não há qualquer dúvida de que o novo Need for Speed é um bom jogo e traz a cultura automotiva urbana de volta ao foco dos jogos de corrida arcade, com direito a tudo que é bom na temática. Ele conta com um sistema de customização denso e amplo, uma jogabilidade agradável e que pode ser ajustada entre estilos diferentes, gráficos muito bonitos, ótimos efeitos sonoros e uma trilha sonora muito bem elaborada.

Por outro lado, ele entrega menos do que era esperado: a trama não chega a ser péssima, mas em diversos momentos ela parece forçada e é extremamente rasa. O multiplayer também não foge do comum, o que acaba não justificando a necessidade da conexão constante com a internet.

Além disso, a limitação imposta pelos desenvolvedores em relação aos controles pode desanimar os entusiastas mais fervorosos. A falta de opção para mudar a dificuldade do game, que é atrelada ao desempenho do jogador durante a jogatina, é algo que pode atrapalhar um pouco o progresso.

Entre prós e contras, é possível afirmar que Need for Speed é um jogo muito divertido e um ótimo passatempo, mas está longe de ser um divisor de águas como os títulos que o antecederam – e que era algo esperado por boa parte dos fãs.

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Pontos Positivos
  • Ótima qualidade gráfica, excelentes efeitos sonoros e trilha musical de peso
  • Jogabilidade customizável entre dois estilos é agradável e divertida
  • Customização extremamente ampla e densa
Pontos Negativos
  • A história não é necessariamente ruim, mas é muito rasa
  • Ambiente online não traz inovações e não justifica a necessidade de conexão constante
  • Ausência da opção de mapeamento de controles e escolha de câmbio manual, por exemplo
  • Não é possível escolher o nível de dificuldade, que é atrelada ao seu desempenho
  • Perseguições são simples e fáceis