Imagem de Never Alone
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Never Alone

Nota do Voxel
81

Quem foi que disse que vídeo game não é cultura?

Volta e meia sites especializados em jogos e órgãos governamentais trazem à tona um assunto, que por alguma razão, ainda divide opiniões. Afinal, jogos de vídeo game devem ser considerados cultura? De um lado há uma grande comunidade que vê nas peças digitais criativas um mundo de arte e imaginação, algo que por si só já justificaria tal título. De outro há aqueles que ainda insistem em tratar os “joguinhos” como mero entretenimento.

Em partes, ambos os lados tem razão. Porém, Never Alone pode ser considerado uma prova de que a indústria dos games pode ter um papel significativo no que diz respeito à cultura. E, claro, que sinais como esse só poderiam surgir no nicho dos chamados “indies”. O título desenvolvido pela Upper One Games foi destaque ao longo do ano nas principais feiras do segmento e, nesta semana, finalmente desembarcou no PC, no Xbox One e no PS4.

Para a realização desta análise, recebemos uma chave do jogo gentilmente cedida pela Nuuvem.

Uma história para contar

Usar os vídeo games como ferramenta para difundir uma história e, com isso, perpetuar a cultura de um povo. É com essa proposta que Never Alone chega ao mercado. O game tem como plano de fundo um dos lugares mais isolados do planeta, o Alaska. É nesta terra que vivem os Iñupiat, o povo nativo da região.

Nesta região, uma das tradições culturais mantidas há séculos é a de se reunir em volta de uma fogueira, no fim da noite, para que os mais velhos possam contar histórias para os mais novos, passando adiante o conhecimento. E que maneira melhor os mais velhos poderiam encontrar hoje para prender a atenção dos mais jovens do que transformar algumas dessas histórias em um jogo?

Com o apoio dos governantes locais o título ganhou vida. E, à medida que você avança no game, pequenos trechos de um documentário mostrando curiosidades relacionadas a cultura do povo são exibidos. Na prática, quanto mais você joga, mais evolui e, consequentemente, mais aprende sobre os Iñupiat. Por si só, essa premissa já sustenta a validade do game.

Uma jornada interativa

De nada adiantaria uma bela história por trás do game se os fatores “diversão” e “interatividade” não estivessem presentes. E a maneira pela desenvolvedora para que a mágica acontecesse foi incluir alguns puzzles estratégicos ao longo da trama, servindo como fios condutores da narrativa.

No game você assume o comando de dois personagens: Nuna, uma menina com dez anos de idade, e sua fiel companheira, a raposa Fox. É possível que cada jogador controle um dos personagens e atuem de forma cooperativa (e essa é a forma ideal de jogo) ou ainda que você jogue sozinho alternando entre os dois personagens.

Cansados e preocupados com o desdobramento de uma grande nevasca que aflige a sua aldeia, Nuna e Fox decidem encarar a tempestade e sair em busca da origem do vento. No caminho a dupla terá que enfrentar diversos desafios e ainda fugir de homens maus que almejam os amuletos que a garota carrega. Uma narrativa linear bastante eficiente e estruturada de uma forma competente.

Nunca sozinho

Em tradução direta, “Never Alone” significa “nunca sozinho”. E essa talvez seja um premissa que você deva observar antes de jogar o game. Se você optar por seguir sozinho a sua jornada, prepare-se para enfrentar alguns momentos frustrantes durante a trama.

Como já mencionamos, Fox acompanha Nuna para onde quer que ela vá. Se a garota salta um obstáculo, a raposa vai lá e faz o mesmo. Em alguns momentos, entretanto, o animal não acompanha a abertura de tela e pode fazer com que você se meta em encrencas.

Você pode até dar um pulo perfeito de uma pedra para outra, evitando um penhasco, por exemplo. Mas Fox nem sempre vai aterrissar no lugar certo. E se um dos dois personagens morre você precisa retornar ao último checkpoint e tentar novamente. Um está ali para cuidar do outro. Sozinhos, nenhum dos dois vai adiante.

Se essa mecânica cooperativa falha algumas vezes quando você tenta avançar sozinho controlando os dois personagens, o mesmo não se pode dizer das tentativas de jogar em dupla. Nessa modalidade, o game funciona de forma exemplar e mostra que sua mecânica é bastante precisa. Porém, a falta de adaptação ao formato de um player certamente é um ponto negativo.

No capricho: visual e mecânica

Never Alone adota o estilo plataforma de aventura. Sua jogabilidade é bastante acessível e há poucos comandos para serem memorizados. É preciso ficar mais atento à estratégia que você vai utilizar para se sobrepor a um obstáculo do que a inimigos em si – eles são poucos e nesse sentido quase não há desafio.

Em muitos pontos você precisará da ajuda dos espíritos, uma solução criativa encontrada para formar plataformas onde o próximo ponto de terra parece inalcançável. Se a mecânica funciona bem, como já mencionamos, o fato de que há pouco tempo específico de jogo pode incomodar alguns jogadores.

Em linhas gerais, bastam cinco ou seis horas de jogatina para fechar o título ou um pouco mais se você aproveitar o tempo para conferir os vídeos que são liberados ao longo do caminho. Dessa forma, o jogo se mostra conciso e bastante objetivo, o que é bom, mas pode deixar aquele gostinho de “esperava mais” caso você planeje ter um pouco mais de diversão com ele.

Em termos gráficos, o visual do estilo desenho animado, com traços que algumas vezes lembram animes em alguns CGI, se mostra uma escolha acertada. O cenários sombrio com paletas de cores gélidas contribui bastante para que o jogador entre no clima da aventura. A pontuação feita pela trilha sonora também é outro item que merece elogios.

Vale a pena?

Se você levar em consideração toda a proposta cultural embarcada em Never Alone e o simpático resultado final obtido com o jogo, sem dúvida o game é um título cuja compra pode ser considerada. Mesmo que o tempo de diversão seja relativamente pequeno – cinco a seis horas de jogo de forma efetiva – certamente você manterá entretido durante esse período.

As mecânicas de jogo funcionam bem em termos estruturais, mas sua eficácia é maior quando o game é encarado por dois jogadores simultaneamente. As falhas no acompanhamento do personagem secundário certamente farão com que você precise repetir diversos trechos seguidas vezes, o que se torna incômodo com o passar do tempo.

O formato plataforma é explorado com relativa criatividade, mas peca em alguns momentos por limitar o personagem a “caminhar pelo cenário”, sem oferecer desafios por longos períodos em determinadas circunstâncias. Contudo, mesmo os pontos negativos são pequenos para que não consideremos o título uma aposta eficaz e, porque não dizer, uma grata surpresa de 2014.

Sem dúvida, vale a pena conhecer a maneira que os Iñupiat escolheram para contar a sua história. E se alguém ainda tinha alguma dúvida de que jogos de vídeo game também podem ser considerados cultura, “Never Alone” mostra, de forma sublime, que não há razão alguma para que dúvidas como essa ainda persistam. E mais ainda: um game como esse, contando histórias relacionadas à cultura brasileira, seria muito bem-vindo. Alguém se habilita?

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Never Alone - Nuuvem

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Pontos Positivos
  • Jornada interativa funciona de forma primorosa
  • Bagagem cultural trazida pelo game é enorme
  • Vídeos ao longo da trama ajudam a entender o contexto
  • Proposta diferenciada justifica o investimento
Pontos Negativos
  • Mecânica de jogo falha no modo single player
  • O tempo de jogo é relativamente curto