Imagem de Octodad: Dadliest Catch
Imagem de Octodad: Dadliest Catch

Octodad: Dadliest Catch

Nota do Voxel
65

O limite da piada

Qual o tempo de vida de uma piada? O quanto é possível estendê-la sem que ela perca a graça? Esse é o tipo de questionamento que fazemos tão logo entramos mais a fundo no mundo de Octodad: Dadliest Catch, o estranho jogo em que você controla um estranho polvo. Pode parecer algo um pouco sem sentido, mas o que há de lógico por aqui?

A verdade é que a ideia de um molusco que tenta se passar por humano funciona muito bem — melhor do que qualquer um de nós podia imaginar. É algo tão absurdo que é difícil como ela poderia dar errado. O problema é que, como toda brincadeira, ela tem um limite.

A mentira tem oito tentáculos

Só que essa tentativa de ser um humano vai um pouco além de simplesmente vestir um terno e realizar atividades corriqueiras. O principal desafio de Octodoad é colocar o simpático molusco no papel de um pai de família e não deixar que ninguém perceba que ele não é uma pessoa, apesar de seus movimentos completamente irregulares e de sua grande quantidade de ventosas espalhadas pelo corpo.

Trata-se de uma situação bem absurda, mas essa é a grande graça de Dadliest Catch. Tanto que, logo no início, um dos padrinhos se espanta ao ver o personagem, mas por não estar pronto para seu próprio casamento e não por ser um animal invertebrado.

Esse tipo de piada está presente ao longo de todo o jogo e cria bons momentos, principalmente nos diálogos com a família. É muito engraçado ver as pessoas não perceberem a verdadeira natureza do personagem, mesmo quando elas comentam sobre isso. Por outro lado, é um pouco perturbador imaginar que ele é pai de duas crianças humanas.

E a grande sacada de Octodad é exatamente traduzir a dificuldade de convivência do protagonista nos controles. É incrivelmente difícil se acostumar a mexer um tentáculo de cada vez na hora de andar ou tentar manter os “braços” firmes para alcançar um objeto mais ao alto.

É aí que está o “desafio” do jogo. Por mais que seja divertido andar chutando tudo e esbarrando em todos, esses tropeços exagerados podem despertar a atenção de quem está ao seu redor, fazendo com que elas percebam que há algo de errado. Sempre que você comete um deslize, a barra de notoriedade aumenta um nível.

Esticando a piada

Só que isso não chega a ser nenhum obstáculo, já que é preciso de muito esforço para que esse medidor se complete e você seja descoberto. Isso torna as coisas bem mais simples do que deveriam ser e acaba com parte da graça do jogo. O que deveria ser um jogo em que você para esconder sua identidade logo se transforma em um simulador de polvo pai de família.

Desse modo, os próprios puzzles começam a perder sentido. Afinal, por que devo me preocupar em passar despercebido quando não há necessidade disso e é muito mais engraçado sair chutando e grudando em tudo? O problema é que essa abordagem mais simples — e que, de certo modo, é incentivada pela falta de dificuldade do título — faz com que toda a jogabilidade de Octodad: Dadliest Catch gire em torno da piada que é sua proposta.

E é aí que entra a pergunta que eu fiz no início desta análise: o quanto dura uma piada? A brincadeira com o nonsense é muito boa e rende boas risadas, mas é preciso saber até que ponto ela pode ser repetida antes de se perder. Neste caso, o enfoque exagerado dado na dificuldade de mover os tentáculos em vez de realmente tentar se passar por um humano fazem com que você logo se canse daquele pequeno circo.

E isso é algo bastante crítico, pois a mecânica propositalmente complicada deixa de ser uma tradução do contexto para se tornar algo meramente incômodo. Isso fica bem evidente quando você se depara diante do mesmo mini game de arremessar ou arrastar itens pela enésima vez. Depois de um breve período de tempo, a brincadeira que é engraçada no início se torna simplesmente irritante, pois a falta de humor apenas enaltece a dificuldade dos controles.

Desafios paralelos

Para estender um pouco o conceito e não deixar as coisas apenas no “seja um polvo que quer ser humano”, Octodad traz algumas atividades paralelas para engajar o jogador. A principal delas é a coleta de pequenas gravatas espalhadas pelas várias áreas do cenário. Em geral, esses colecionáveis estão posicionados nos piores locais possíveis, o que vai exigir muita habilidade em seus tentáculos.

Além disso, Dadliest Catch conta com um estranho modo cooperativo em que cada jogador pode controlar um membro específico. Assim, enquanto você usa o mouse para dominar a perna esquerda e o braço direito, seu companheiro fica responsável por usar o outro pé. É o tipo de coisa que não tem como dar certo e que serve mais para que vocês possam rir dos absurdos do que avançar propriamente no game.

Eu quero ser um polvo?

Não há como negar a genialidade por trás do conceito de Octodad. Um jogo em que você é um molusco que tenta ser um pai de família é uma sacada bem diferente dentro de um mercado tão acostumado a ideias pasteurizadas que é compreensível o hype criado em cima de seu lançamento. É algo tão diferente que é possível olhar para ela até com um viés quase filosófico.

O problema é que a falta de desafios deixa tudo isso em segundo plano para se focar apenas na piada que é controlar um homem-polvo. Isso torna Dadliest Catch um jogo cansativo e que não consegue usar a mesma criatividade de sua concepção na hora de criar puzzles realmente desafiadores. No fim das contas, ele caminha muito mais próximo de um Surgeon Simulator do que parece.

O fato de jogos de humor serem cada vez mais raros na indústria não é por acaso. Há uma linha bem tênue que separa o engraçado daquela piada que perde sua graça. E Octodad, com seus estranhos passos e seu gingado peculiar, simplesmente não percebe isso.

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Pontos Positivos
  • Bem humorado
  • Ótima trilha sonora
  • Conceito diferente
Pontos Negativos
  • Falta de desafio
  • Puzzles pouco variados