Imagem de Resident Evil 2 Remake
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Resident Evil 2 Remake

Nota do Voxel
93

Resident Evil 2 Remake: um jogo de terror supremo, mas um remake “só” ótimo

A espera foi longa: mais uma década de apelos à Capcom para fazer Resident Evil 2 Remake e mais quatro anos desde o anúncio. O coração de fã é o que mais sofre, né? As expectativas para o game estavam altíssimas, já que é uma releitura de um dos melhores títulos da série e pelas mãos de quem já provou no passado saber reviver suas franquias.

Resident Evil 2 Remake é um jogo que levantou hype dos fãs e eu me incluo nessa. Mas será que o game une uma experiência mecanicamente incrível, homenageia o original do jeito certo ainda consegue trazer o terror de volta? Sem dúvidas não é uma tarefa fácil. E, para deixar as coisas mais fáceis de entender, trataremos o game como Resident Evil 2 Remake para não criar confusão com o original. Então vem com a gente conferir o review completo!

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Redefinindo os parâmetros do terror (mais uma vez)

Tensão. Pânico. Medo do escuro. Mais uma vez, você entrou no mundo do Survival Horror. Como nunca antes, eu passei por apertos, algumas vezes até em casos que eu já esperava, e mesmo assim me senti acuado. Do começo ao fim, Resident Evil 2 Remake me deixou desconfortável, de uma forma que somente obras de arte do terror conseguem fazer. A expansão do horror aconteceu em escalas muito maiores do que previa.

Medo do escuro e umidade: esse é o tema do jogo e que ele cumpre por todo o tempo. Muita gente, e eu me incluo, ficou pensativo: como a Capcom traria os zumbis de volta e conciliaria a lerdeza deles com a jogabilidade em terceira pessoa? A fórmula original funcionava bem com as câmeras fixas, mas era um desafio traduzir o mesmo sentimento para novas audiências.

Novamente, Resident Evil mostrou porque é o mestre do terror e fez escola para a indústria

Esse receio foi brilhantemente contornado ao dar uma nova perspectiva aos mortos-vivos e demais inimigos, que, unida a escassez de balas e cenário favorável aos monstros, criou um game muito desafiador e, principalmente, amedrontador. Podemos sentir a inexperiência e medo dos protagonistas até na mira, que pode desviar bastante os disparos sem o foco certo. O medo é convertido em mecânicas de jogo.

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Os zumbis são quase indestrutíveis e até mesmo uma dezena de tiros na cabeça pode não ser suficiente para matá-los. Dois inimigos em uma sala menor pode ser um grande pesadelo. Agora eles podem abrir portas, se jogar de escadas e até te perseguir em alguns casos, dando uma grande dor de cabeça. Isso sem falar das surpresas no escuro, as investidas e os ataques conjuntos dos zumbis, que mudam a animação e causam mais estragos.

Somando tudo isso, ainda temos o icônico Mr. X, que nos persegue de maneira implacável. Balas contra ele apenas o desativa por alguns segundos para que a perseguição volte em seguida. É totalmente aleatório e inesperado onde você vai encontrá-lo, diferente de Nemesis em Resident Evil 3.

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A dinâmica imprevisível gerou situações de pânico extremo em várias vezes. Como se esgueirar por trás de um licker quando há zumbis perto e Mr. X se aproximando? O desconforto e medo permeio Resident Evil 2 Remake do começo ao fim.

Sonoplastia de arrepiar e gráficos chocantes

Apesar da tensão das situações, elas não são as únicas que somam ao resultado dessa atmosfera incrível. A sonoplastia é espetacular e contribui fortemente a ambientação. Cada canto da delegacia e demais áreas é repleta de sons desagradáveis. Às vezes, os efeitos são para ilustrar, em outras não. É difícil distinguir um do outro e isso causa tensão constante. Para os fãs das antigas, a versão Deluxe é um prato ainda mais cheio, com efeitos sonoros e músicas do game original. Um deleite de nostalgia.

E a ambientação sonora nada seria sem os gráficos sensacionais. A escuridão é um poço sem fundo de medo. Resident Evil 2 Remake é muito, muito, escuro e a falta de luz é um oponente constante na jornada. Os visuais são extremamente fortes, com muita violência gráfica pra assustar. Houve momentos que fiquei em choque, tanto pela cena recriada quanto pela experiência de violência absurda, o que contribui fortemente para uma construção de clima perfeito.

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Em quesitos técnicos, o game também é de fazer inveja. Os cenários são incrivelmente bem-construídos, com luzes e partículas volumétricas para criar efeito de névoa e tom mais denso. Em lutas contra chefes, vapor se espalha pelo ambiente, granadas flamejantes encandecem o local e criam uma verdadeira apresentação visual de deixar qualquer um de boca aberta.

Nos demais pontos, Resident Evil 2 Remake faz bonito: as expressões faciais são fenomenais, as texturas e gráficos de todo o jogo são extremamente caprichadas e a resolução é satisfatória (com poucas exceções) em todas as plataformas. O único elemento variável é a performance, que é variável nos consoles. No PS4 Pro, plataforma que joguei, pouquíssimas vezes o desempenho ficou abaixo dos 60 fps, mas houve quedas aqui e ali. Infelizmente, não há uma opção de alta resolução como foi prometido pela Capcom.

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As coisas complicam um pouco no Xbox One e PS4 comuns, que têm performance mais oscilante: o PS4 fica na casa dos 45 (para mais e para menos) e o Xbox One na casa dos 40 (com quedas mais frequentes, conforme apontado pelo canal Digital Foundry).

Moldado às novas gerações

Mecanicamente, Resident Evil 2 também traz uma boa dose de novidades, incluindo novas armas e aprimoramentos. Salas inéditas têm itens inéditos. E um jogo com cara de novo contempla sistemas novos. Retornando do primeiro remake, há itens de defesa cruciais para a sobrevivência, como granadas e até mesmo facas, que ganharam uma utilidade alta dessa vez.

Esses itens ocupam espaço no inventário e é preciso cautela no gerenciamento, pois há novas mecânicas que requisitam atenção. Pegar madeiras no chão para barricar janelas é um sistema de risco e recompensa: ocupar um espaço e se proteger da invasão severa de zumbis ou contar com a sorte?

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Os lickers (traduzidos como carnífices) têm sua cegueira melhor explorada e criam até segmentos de furtividade opcional. Os zumbis são completamente imprevisíveis e nem sempre um tiro certeiro na cabeça vai parar uma investida, o que faz o jogador pensar se incapacitá-lo é melhor do que gastar munição para tentar matá-lo (com sorte, talvez tiros críticos explodam a cabeça).

O sistema de gerenciamento de pólvora também é um grande ponto positivo, retornando de Resident Evil 3 e 7, e fará você pensar bem em quais munições criar e gerenciar seus recursos a longo prazo. Em termos mecânicos, tudo que há de novo foi feito com muito capricho e traz um ar moderno.

Em muitos trechos, um remake mais que ótimo...

Ok, como game de terror Resident Evil 2 Remake é imbatível e um dos melhores jogos de terror da década. A Capcom soube como trabalhar como jogo, sem usar a nostalgia de muleta, e sim de alicerce. Mas e como um Resident Evil? Ele é uma ode aos fãs?

No geral, o game é de brilhar os olhos, trazendo os chefões icônicos, como o crocodilo gigante e Birkin, trechos de gameplay de Sherry e Ada e muito mais. Entretanto, há algumas pequenas escorregadas. É aí que moram os únicos problemas do game: ele poderia ser perfeito, ser o remake definitivo da história, mas escorregou na banana em alguns pontos.

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Primeiro, vamos ao que a Capcom acertou e acertou com maestria. Todos os personagens estão incríveis. As expressões faciais, atuação e até mesmo plano de fundo para suas motivações são espetaculares. E isso se aplica além dos protagonistas: Leon e principalmente Claire são fantásticos, mas até personagens que têm segundos na tela passam uma sensação crível e coerente à situação.

O sentimento gostoso de se perder no cenário voltou (que foi bem expandido)

Todas as áreas originais foram amplamente retrabalhadas e expandidas, da delegacia aos esgotos e laboratório. Algumas salas são maiores e mais relevantes, outras têm disposições diferentes e há algumas tão diferentes que são quase irreconhecíveis. É sempre legal se pegar perguntando se você está em um cenário novo ou um refeito. No geral, até mesmo os fãs mais fervorosos vão se sentir em algo inédito.

No que foi retrabalhado, a atenção aos detalhes é gigante. Até mesmo o carro perto da loja de Kendo do original está presente. As quadras de basquete, a lata de lixo que passamos por cima (e tem até o icônico “zumbi de shortinho” no mesmo lugar) e muito mais: tudo servindo de homenagem ao original e um trabalho de nostalgia bem forte.

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E é até engraçado como a Capcom usou isso de ferramenta. Sabemos que algumas coisas mudaram, mas... será que mudaram mesmo? Será que os sustos clássicos existem? Vou evitar spoilers pra manter a surpresa. Há algumas poucas áreas completamente inéditas que expandem a experiência original, como o Orfanato.

A A icônica sala do interrogatório: e aí, tem susto ou não tem?

Vale ressaltar que tudo isso é recheado de puzzles, muitos deles estreantes e outros refeitos a ponto de serem quase impossíveis de reconhecer. Resident Evil 2 Remake traz aquela sensação gostosa de se perder no universo de terror, com muito vai e volta entre cenários. A linearidade aqui é pequena e exclusiva de alguns trechos. Certamente, um ponto positivo dos grandes, mas que pode não agradar fãs modernos.

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... e em outros, um remake pé no chão demais

Até agora, tudo são flores. Chega a ser quase cômico como os problemas do jogo não residem no terror ou jogabilidade, mas sim em sua homenagem ao original. Durante a primeira campanha e com o brilho nos olhos de um fã, a empolgação me tirou o foco de algumas coisas negativas, mas a reflexão ajudou a pensar friamente.

Há muitas coisas do game original que estão ausentes. Inimigos, como as aranhas, mariposas e até os corvos nunca dão as caras, o que é compensado com novos inimigos ou criaturas refeitas. É compreensível que alguns deles apareciam muito pouco, mas em vez de pensar nesse aspecto, talvez fosse mais interessante optar por expandir essas criaturas e trazer mais aparições, variando a diversidade de monstros do game.

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Algumas cenas, como a explicação do helicóptero caindo na delegacia, não existem. Pode esquecer o Mr. X chegando à R.P.D. também. Certas carências são contextualizadas de outras formas, enquanto outras ficam meio jogadas. Um exemplo bom é o de Katherine Warren, filha do prefeito: no game original, vemos os planos de Brian Irons para matar a garota e tentar ludibriar Claire – e posteriormente empalhá-la. É uma parte realmente legal do enredo.

No remake, vemos o corpo na mesa, mas não há nenhuma explicação e as coisas ficam soltas na trama. Quem era a garota de vestido de gala na mesa? É uma decepção tanto para fãs novos quanto para os antigos, já que o trecho poderia ter um peso muito maior. Isso tudo ocorre na área do Orfanato, inclusive, que é bem menor do que esperávamos e mal pode ser explorada (apesar de ter até mesmo referência ao filme “O Iluminado”, que ficou bem legal).

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Faltou investir mais no passado e, ao mesmo tempo, em coisas realmente inéditas. Apesar de não ser enjoativo e muito repetitivo, os personagens dividem os mesmos puzzles e até chefões, trazendo muitas semelhanças nas duas campanhas. O ideal seria ter coisas totalmente separadas e originais para cada um, o que acaba sendo um dos maiores pontos negativos. Infelizmente, a trama também tem seus deslizes.

Trama canônica não-oficializada: por que?

O remake deveria trazer a versão canônica dos acontecimentos entre os cenários A e B de cada personagem, mas acaba misturando muita coisa e não explicando tudo, criando até mais confusão. Há problemas de continuidade e coerência entre as jornadas, algo que só vemos ao zerar as campanhas, e temos que supor muitos acontecimentos para montar o enredo na cabeça. O próprio final é um pouco anticlimático.

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Os créditos rolam e dão a sensação de que faltou algo. E faltou. Muitas coisas, incluindo o final verdadeiro, só ocorrem no que a Capcom chamou de “Segunda Jornada”, que acabou sendo uma surpresa muito agradável e que prolonga a jogatina.

Mas se acalme, não é um cenário A e B como você pensa, apesar de termos algumas mudanças interessantes. Apesar de ser necessário explicar a dinâmica para a nota, deixarei os detalhes escassos para evitar spoilers. No fim, pode esperar algo em torno de 20 horas de jogatina em quatro campanhas. Mas, mesmo assim, alguns furos ficam.

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Modos extras são muito bons, mas sem muito replay

Encerrando com chave de ouro, ainda há dois modos extras: O 4º Sobrevivente e o Tofu Sobrevivente. Eles são ótimos bônus, mas assim como os originais oferecem pouco valor de replay. De replay, apenas os troféus/conquistas e colecionáveis são incentivos para rejogar.

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Hoje, pouco antes da análise entrar no ar, a Capcom anunciou em um evento japonês o modo Ghost Survivors, que trará mais personagens para progredir em uma campanha que tem itens dispostos em uma maneira aleatória, um componente que tem tudo para aumentar o fator replay. O modo terá três capítulos e todos serão gratuitos, mas, infelizmente, não estava disponível no momento da publicação deste review – e, dessa forma, não foi considerado para compor a nota.

Vale a pena?

Resident Evil 2 tem um começo perfeito. A experiência fantástica aliada à nostalgia muito bem trabalhada trouxe um game incrível, de brilhar os olhos de qualquer um. Como jogo de terror, estamos olhando para o melhor da década e um dos mais incríveis da história. Contudo, os pontos negativos impactarão de formas diferentes cada um dos públicos pros quais o jogo é destinado. E digo isso como um fã de carteirinha.

Justamente por isso essa pode ter sido a análise mais difícil que já fiz. O que há de bom me deixou em êxtase, com frio na espinha de tanta empolgação. Mas o que há de ruim, e isso pode variar de pessoa pra pessoa, me fez refletir: por muito pouco ele poderia ser perfeito.

Poderia ser perfeito, ser a nota máxima que eu esperei por tanto tempo: não é 100, mas ainda é maravilhoso

No fim, temos um excelente remake. Mesmo sendo bem ousado, ainda faltou um pouco mais de ambição. Quem sabe expandir as ruas de Raccoon City, deixar o Orfanato maior ou até campanhas muito diferentes? Os parâmetros e expectativas são muito altos e nem todos foram supridos no nível que esperei.

Mesmo assim isso não tira o brilho de Resident Evil 2 Remake, que será lembrado como uma obra de arte estampada em nossa mente. Mais uma vez, a Capcom se provou uma mestra dos remakes e reimaginações, mostrando que sabe trabalhar em suas propriedades como ninguém.

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*Resident Evil 2 Remake foi gentilmente cedido pela Capcom para a realização desta análise.

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Pontos Positivos
  • Atmosfera incrivelmente assustadora e bem-construída
  • Sentimento de experiência inédita até para fãs que têm o jogo original decorado de cabo a rabo
  • Jogabilidade moderna e extremamente desafiadora, criando ainda mais desconforto
  • Diversas mecânicas inéditas funcionam perfeitamente dentro do game
  • Maior do que o esperado: quatro campanhas com cerca de 20 horas de duração no total
  • Todos os personagens, principalmente Claire, foram retrabalhados de forma magnífica
  • As áreas inéditas são ótimas e a expansão de cenários antigos é melhor ainda
  • Modos extras originais refeitos e atualizados
  • Sonoplastia de altíssima qualidade que contribuí ao clima de terror
  • Visuais e performance impressionantes, com muita violência gráfica
Pontos Negativos
  • Alguns elementos clássicos ficaram de fora, como cenas e inimigos icônicos
  • A coerência narrativa entre as tramas cria buracos e não cria o cânone definitivo
  • Apesar de as campanhas terem diferenças, há repetição de puzzles, inimigos e chefes
  • Há poucas áreas inéditas e o resultado fica aquém de outros remakes (apesar de ser bom)