Imagem de Sundered
Imagem de Sundered

Sundered

Nota do Voxel
80

Na carência de um metroidvania? Eis o seu colírio aos olhos

A fórmula metroidvania é uma das minhas favoritas. Adoro a ideia de poder explorar o desconhecido, ganhar upgrades e retornar a cenários já visitados só para alcançar áreas que, antes, estavam inacessíveis. Apesar de uma razoável safra de jogos assim chegar ao mercado, poucos são os que realmente conquistam um lugar ao sol. Sundered está no rol desses privilegiados.

A Thunder Lotus Games, estúdio independente do Canadá, tem um estilo peculiar nos desenhos esboçados em suas criações. Essa arte foi demonstrada em Jotun, que trouxe toda a cultura viking em uma aventura isométrica nórdica que chamou atenção pelos traços cartunescos. Esses detalhes estéticos foram especialmente notados nas animações dos chefes e dos inimigos, renderizados com notável grau de esmero. A mesma inspiração pode ser conferida em Sundered.

Side-scrolling: sempre bem-vindo

A história conta a saga de Eshe, que foi punida a vagar pelo submundo em busca da saída. O motivo? Busque por conta. O enredo é interpretativo, sem rodeios ou porquês, apresentado em segundo plano através de uma entidade que profere um vozeirão quando você coleta determinados itens.

Os trechos dos estágios são dinamicamente alterados cada vez que você morre, e tenha uma certeza nesta vida: você vai sofrer nesse jogo

Mas isso é um teste para a própria sanidade mental da personagem, que se depara com aberrações unidas em hordas. Sundered preferiu apostar no side-scrolling “rogue-lite”, isto é, uma proposta na qual os trechos dos estágios são dinamicamente alterados cada vez que você morre – e tenha uma certeza nesta vida: você vai sofrer nesse jogo.

A concepção tem uma sacada: as “plantas” dos mapas ficam intactas. No entanto, cada vez que você repete a jogatina em áreas previamente visitadas dentro desses mapas, elas estão diferentes.

Imagine um Binding of Isaac com uma dose menor de masoquismo e mais moderação na modificação dos cenários. A presença dos inimigos é variável; onde há uma horda há também uma recompensa. O sistema de combate para lidar com essas criaturas do inferno, no entanto, é um cansativo esmagamento de botões.

Pressione, esmague, tenha cãibra na mão...

Em Sundered, a pancadaria se resume a um único botão. Não há qualquer variedade de combos; as habilidades desbloqueadas na imensa árvore presente no santuário, que é o seu ponto de descanso cada vez que você morre, trazem, em sua maior parte, vantagens passivas, como:

  • Aumentar o dano aplicado e a sua proteção a investidas dos inimigos;
  • Ampliar a quantidade de vida; 
  • Expandir o número de tiros disparados do seu canhão; 
  • Estender a quantidade de elixires do seu bolso; 
  • Melhorar o dano do canhão etc. 

Não há, em qualquer instância, a possibilidade de ampliar sua combinação de combos. A esquiva, que anula os ataques dos monstros, pode ser casada com alguns golpes e só. Basicamente, suas ofensivas se resumem a pressionar o quadrado desenfreadamente. A não ser pelo canhão, encontrado em um momento bem póstero da aventura, você não coleta mais nada.

Se vire para engolir as hordas

Os inimigos atacam em hordas. Esse comportamento acontece em duas instâncias: a partir dos servidores do jogo, que entrega esse caráter online, e a partir de uma programação pré-estabelecida, para que o recurso funcione offline. As hordas surgem quando você menos quiser que elas apareçam.

Sundered arremessa mais de cinquenta inimigos na tela em momentos aleatórios e manda um “se vira” sem vaselina

Isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Por um lado, existe a proposta da dificuldade, do aprendizado e da superação, alicerces que a fórmula Soulsborne trouxe aos games. Por outro lado, existe a complicação gratuita, que não necessariamente é adaptativa; aquela que simplesmente liga o f*da-se, arremessa mais de cinquenta inimigos na tela em momentos aleatórios e manda um “se vira” sem vaselina.

O problema não está exatamente na mecânica em si, mas sim nas ferramentas que você tem à mão para lidar com isso. Basicamente, é esmagar um único botão. O outro você usa eventualmente para disparar os tiros de canhão. Eu particularmente acabei ficando viciado no esquema porque amo o gênero, mas essas limitações não deixam de ser ressalvas.

Exploração recompensadora

Explorar os vastos mapas de Sundered, no entanto, se torna uma rotina satisfatória. Ainda que alguns encontros com hordas sejam frustrantes, alcançar os upgrades, que ficam repousados em estátuas gigantes, continua sendo recompensador. Desde o primeiro Metroid, eu tenho essa mesma sensação, que veio à tona também com Axiom Verge e Ori and the Blind Forest.

O visual é um colírio aos olhos. Infelizmente, há pouca variedade de inimigos. A fluidez da movimentação deles é algo tão delicioso de observar que eu senti falta de outras espécies. Eu simplesmente queria... Ver mais. Os chefes, no entanto, supriram essa carência: que concepção artística maravilhosa.

Esse é o detalhe de tirar o chapéu: aliar ilustração cartunesca a uma capacidade de programar esses “desenhos” para que se movimentem do jeito mais crível possível. O maior elogio da enxuta equipe Thunder Lotus Games vai para o visual.

Recomendado a adeptos do metroidvania

Se você, assim como eu, anseia por qualquer lançamento de um jogo ao estilo Metroidvania, vá fundo em Sundered. Trata-se de uma joia escondida que se resguarda em um trabalho artístico simples, sóbrio e original.

Esteja ciente, no entanto, de que a repetição, o esmagamento de botões, a baixa variedade de inimigos e de golpes podem dar margem ao tédio – se você for impaciente, isso pode se estender à frustração.

Com a serenidade necessária, por outro lado, a recompensa é saborosa ao final da aventura. Especialmente quando você conseguir dar cabo dos últimos chefões. Abra sua mente a um toque artístico diferente e explore cada canto da vastidão dos mapas. Se você fisgar o ritmo certo, Sundered reserva momentos gratificantes.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.
Pontos Positivos
  • Atmosfera soturna, que transmite autenticidade
  • Animações incríveis graças ao visual cartunesco, especialmente nos chefes
  • Exploração gratificante
  • História minimalista, mas intrigante
Pontos Negativos
  • Combate repetitivo e limitado, resumido ao esmagamento de botões
  • Pouca variedade de inimigos e de golpes
  • Árvore de habilidades composta praticamente de skills passivas
  • As hordas escapam do esquema adaptativo de Dark Souls e podem ser frustrantes, “gratuitas” demais dentro das limitações que você tem