Imagem de Valkyrie Profile 2: Silmeria
Imagem de Valkyrie Profile 2: Silmeria

Valkyrie Profile 2: Silmeria

Nota do Voxel
91

A história de uma valquíria que desafiou Odin, na volta do aclamado título do Playtation

Valkyrie Profile 2 tem a responsabilidade de apresentar qualidade e superar expectativas que toda continuação tem, mas com a obrigação adicional de satisfazer vários jogadores que apenas ouviram falar do primeiro jogo.

Neste segundo jogo (que na verdade conta o que aconteceu antes do primeiro Valkyrie Profile), são mantidos todos os atributos de jogabilidade e apresentação que diferenciaram o primeiro título de outros RPG's comuns e com estilo mais tradicional. Além de mantidos foram melhorados, aprofundando ainda mais a experiência e aproveitando toda a capacidade gráfica do Playstation 2.

O fim do mundo vai atingir a todos

O primeiro Valkyrie Profile - lançado em 2000 no Playstation 1 - tornou-se um clássico instantâneo entre os jogadores hardcore de RPG. Apresentava um enredo com tema nórdico e colocava o jogador na pele de uma Valquíria, uma deusa que descia à terra para coletar almas de guerreiros valorosos para lutar no Ragnarok, a batalha final que decidiria o destino do mundo.

Embora seja um mito razoavelmente conhecido e não exatamente original, foi muito bem explorado no primeiro jogo, passando uma sensação real de urgência na coleta de almas para o grande combate, e o jogador sentia-se parte do universo dos deuses.

A escolha do estilo side-scroller (onde o jogador percorre horizontalmente as várias telas do jogo), lembrava clássicos do Super Nintendo, como Super Metroid ou ActRaiser, o que pode ter contribuído para o estilo bastante original de jogabilidade e pela paixão que despertou em vários jogadores. O sistema de batalha era complexo, baseado em combos e ataques simultâneos entre quatro personagens na tela. Exigia tempo e dedicação para ser dominado e era muito satisfatório de ser aplicado.

Esses e outros fatores fizeram com que o título se tornasse uma pequena “pérola” dos RPGs, acompanhado ainda pelo fato de ter um tiragem limitadíssima nos EUA: quando os jogadores descobriram que o jogo era bom, ele simplesmente não existia mais à venda. Estes fatores contribuíram para a construção da imagetm de Valkyrie Profile como um jogo exótico, e vários jogadores esperavam pelo segundo título, que chega agora ao Playstation 2.

Vingança, doce vingança

Valkyrie Profile 2: Silmeria, retoma o enredo original, mas abordando o que aconteceu antes do primeiro jogo. Silmeria é uma das três Valquírias (que incluem Lenneth, do primeiro jogo), mas foi aprisionada no corpo de uma princesa, Alicia, por ter entrado em conflito com Odin. O ritual de aprisionamento não é perfeitamente conduzido e Silmeria desperta em Alicia, como se fosse outra personalidade. Aos 18 anos, finalmente Alicia é convencida por Silmeria a tomar as rédeas sobre sua vida (pois Alicia foi declarada como morta pelo Rei, seu pai), investigando o que realmente acontece no seu reino e qual a relação dos acontecimentos com os desejos dos deuses.

A premissa do jogo é interessante e se liga de maneira coerente com a história do primeiro Valkyrie Profile, embora o enredo seja mais voltado para o desenvolvimento dos personagens principais: ao invés de uma participação na guerra dos deuses, aqui você está em guerra contra os deuses. Silmeria será perseguida por outra Valquíria, Hrist, pois duas Valquírias não podem estar em Midgard (o mundo dos mortais) ao mesmo tempo.

Essa mudança de foco na história gera alterações na jogabilidade: Silmeria é uma Valquíria que continua com o poder de recrutar a alma dos guerreiros, mas em Valkyrie Profile 2, ela recruta as almas com o fim de restituir os guerreiros à vida, privando Odin dos melhores combatentes que poderia ter. O tema de desobediência e vingança é explorado durante o jogo, e forma um contínuo interessante com o enredo original.

Embora a história do jogo seja suficientemente boa para manter a atenção dos jogadores, não é fácil de compreender por que os desenvolvedores não deram maior atenção aos guerreiros que são recrutados ao longo do jogo. Nenhum deles possui uma história particular, como acontecia no primeiro título, o que fazia com que o jogador desenvolvesse uma afeição genuína pelo personagem. Em Valkyrie Profile 2 eles apenas são materializados a partir de itens encontrados, e não possuem características particulares.

É uma ausência que vários jogadores certamente sentirão, mas é compensada devidamente pela atenção dada aos personagens principais. Até mesmo Arngrim reaparece como um personagem jogável (e participante do enredo), e isso ajuda a minimizar a frustração em relação aos guerreiros recrutados.

Lutando pela perfeição

A jogabilidade do primeiro Valkyrie Profile (VP) foi aclamada como inovadora e diferente de tudo que havia de disponível no gênero RPG. A precisão no uso dos golpes de cada personagem formava combos e exigia atenção do jogador, a fim de preencher uma barra que permitia o desencadeamento de golpes ainda mais poderosos (muitas vezes eliminando o inimigo antes mesmo que ele atacasse). Cada personagem podia modificar a ordem de seus ataques, o que gerava inúmeras combinações possíveis para atingir os melhores resultados. O maior temor é que essa mecânica fosse alterada, pois era um dos pontos altos na experiência de VP.

Ela foi alterada. Mas para melhor. Em VP2 as batalhas acontecem em cenários tridimensionais, com livre movimentação por parte dos personagens e inimigos. Livre em termos, pois os inimigos só se movem quando você se move. Assim, foram mantidos todos os passos das batalhas originais, mas com a adição da movimentação como um passo estratégico adicional.

O objetivo de cada batalha é que seja terminada o mais rapidamente possível, e isso acontece quando você consegue matar o líder do grupo antes de qualquer outro inimigo. Agindo dessa maneira, seus guerreiros receberão mais experiência e recompensas do que se eliminassem os inimigos um a um. A maior dificuldade se encontra no fato de que normalmente o líder está muito afastado, protegido pelas outras unidades.

A estratégia de movimentação consiste em dividir seu grupo (agora é possível), e utilizar de movimentos rápidos para escapar dos inimigos, chegando rapidamente ao líder. Os inimigos possuem um campo de visão, que aparece em vermelho. Caso você entre no campo de visão, será atacado e perderá mais tempo até chegar ao líder.

As batalhas com os chefes são ainda mais complexas, pois eles costumam ter um campo de visão bastante amplo, desafiando o jogador a encontrar a melhor estratégia para se posicionar fora do seu campo de visão, do lado ou atrás dele, onde causará mais danos. Alguns chefes possuem o péssimo hábito de te empurrar pra fora do cenário, o que significa game over caso todos os guerreiros sejam empurrados ao mesmo tempo.

Explorando uma imensidão de perigos e aventuras

A jogabilidade nas dungeons (as partes do jogo que são exploradas e onde você encontrará os inimigos), mantém o charme do primeiro título. Elas variam bastante de tamanho e design, sendo que algumas são enormes e com vários caminhos secundários, enquanto outras podem ter apenas 5 ou 6 telas, e totalmente lineares. O mapa detalhado, acessado através do R2, continua sendo essencial para o jogador se localizar. O giro do mapa agora é feito pelos analógicos, o que facilita um pouco o seu exame. O mini-mapa também ficou mais útil, mostrando em destaque tudo que acontece próximo ao jogador, inclusive o que está fora do seu campo de visão imediato.

Ainda sobre as dungeons, é impossível não notar a mudança no ataque da Valquíria. Ao invés do raio de congelamento que Lenneth lançava, Silmeria possui um raio de luz, o Photon Teleport. Algumas diferenças importantes são que agora o raio reflete nas paredes por um tempo e, caso você atire em um inimigo paralisado, você trocará de lugar com ele. Não é mais possível criar cristais de gelo “do nada”.

Inicialmente as mudanças parecem apenas visuais, mas influem muito nos puzzles encontrados em algumas salas. Para alcançar lugares mais altos, por exemplo, é necessário procurar um inimigo próximo e, através de congelamentos e teleportes sucessivos, colocá-lo na posição adequada para servir de base para um pulo mais alto. Uma modalidade mais complexa acontece quando é necessário alcançar um lugar muito mais alto; nesse caso você deve procurar um inimigo voador, congelá-lo em pleno ar e trocar de lugar com ele. Finalizada a troca, você deve rapidamente pular (em pleno ar), para alcançar o lugar desejado, antes que caia novamente.

Essa nova modalidade de ataque gera alguns puzzles interessantes, mas também frustrantes. Em algumas salas você simplesmente não tem a menor idéia do que precisa fazer. E mesmo quando descobre, muitas vezes a solução envolve uma agilidade assombrosa, congelamentos e teleporte simultâneo de vários inimigos. Nesse momentos é possível que você se pergunte se realmente está jogando um RPG ou jogo de Plataforma.

Felizmente os comandos respondem muito bem e não falham em nenhum momento, do congelamento ao pulo final depois do teleporte. Com certeza vários jogadores apreciarão essa particularidade de jogo, que mantém Valkyrie Profile como um título especial no gênero RPG.

Valkyrie Profile muitas vezes lembra Castlevania, com seu mapa enorme a ser explorado e salas lotadas de inimigos, com um chefe no final. Mesmo com as dificuldades em alguns cenários, ainda assim a curiosidade de ver o que cada nova sala reserva é o maior impulsor para que o jogador continue avançando.

Valhalla só pode ser alcançada pelos valorosos e destemidos

Este é um dos jogos com começo mais difícil no gênero RPG, o que pode desanimar rapidamente alguns jogadores. A história é grandiosa, a mecânica de batalha complexa e os inimigos são rápidos e fortes. Mesmo o jogador experiente em RPGs, e que jogou o primeiro título, não levará menos de 5 ou 6 horas para se sentir confortável no jogo. É importante não recusar nenhuma batalha nas 4 primeiras dungeons (Lost Forest, Royal Underground Path, Dipan Castle e Kythena Plains), sendo indicado repetir alguma delas a fim de ganhar experiência. No início também é importante procurar e materializar todos os guerreiros disponíveis, a fim de substituir os mortos do seu grupo (eles serão ressuscitados depois, bastando ir ao Inn na cidade mais próxima).

Os itens, armas e armaduras são caros, sendo mais difícil ainda conseguir os materiais para confeccionar alguns itens de qualidade superior. Os itens não podem ser materializados como no primeiro título, portanto explore as dungeons com cuidado, a fim de achar algumas boas armas e partes de armadura. Embora as coisas pareçam andar meio devagar nas primeiras 10 horas, o esforço para conseguir experiência no início se paga rapidamente depois, pois os personagens começam a ganhar novas habilidades - como a magia de cura de Alicia - que são muito importantes para facilitar as batalhas e diminuir às frequentes voltas à cidade para recuperar energia e repor itens de cura.

Alguns guerreiros podem ser libertados novamente em Midgard, após atingir um nível definido, e deixam itens que podem ser utilizados para melhorar qualquer outro guerreiro do seu grupo. Os itens deixados normalmente valem a perda do guerreiro. Alguns guerreiros podem ser encontrados novamente como integrantes das cidades, e podem lhe ajudar a conseguir itens ou dinheiro, aumentando o estímulo para fazer o rodízio periódico do seu grupo e experimentar outras sequências de ataque.

Uma verdadeira visão do paraíso

É realmente uma pena que o PS2 esteja encerrando sua carreira, pois VP2: Silmeria prova que o console possui uma capacidade gráfica impressionante, que apenas alguns desenvolvedores aprenderam a utilizar plenamente. Mais impressionante ainda é a quase ausência de loadings, pois tudo que aparece no jogo carrega muito rapidamente, com pausas mínimas entre cenários ou salas diferentes. As cutscenes também começam de forma rápida, sendo que apenas os pesados vídeos impõem alguma espera ao jogador.

Embora Alicia se mova apenas em uma perspectiva bidimensional (a não ser em batalhas), o cenário é completamente tridimensional e absolutamente maravilhoso. Cada casa de cada cidade é extremamente detalhada, mesmo que apresente pontos no cenário que você nunca possa visitar.

Seria muito fácil sucumbir à tentação de criar interiores genéricos, com itens que se repetem periodicamente, mas não é o que foi feito neste jogo. Nada é estilizado, e os personagens e edifícios são grandes, com proporção adequada. Cada cidade é muito real e agradável aos olhos, contribuindo para dar personalidade a cada parte do jogo. Os níveis de detalhe e escala, entretanto, vêm com um preço: algumas cidades são muito grandes e você precisa atravessar várias telas para conseguir sair e seguir seu caminho. Seria interessante a adição de uma opção no menu que permitisse voltar para o mapa com apenas um comando.

O mesmo vale para as dungeons. A exemplo do primeiro jogo, algumas delas continuam enormes, o que é bom, pois são muito divertidas de se explorar. Mas tornam-se frustrantes quando você chega ao final das intermináveis salas e tem que refazer o caminho até o começo, pra poder sair.
A mudança gráfica mais relevante em VP2 acontece nas batalhas. Quando você faz contato com o inimigo, a tela muda para um cenário 3D, com os inimigos posicionados ao longo do cenário. Os modelos são bem construídos, e a cada golpe encaixado você pode notar detalhes do impacto no inimigo, como pedaços de armadura voando. Uma finalização especialmente violenta do inimigo pode literalmente fazê-lo em pedaços, que se espalharão pelo cenário. É muito mais satisfatório do que a interface 2D utilizada no primeiro jogo, e adiciona mais emoção aos combates.

Em relação à narração da história, esta é feita através de vídeos e cutscenes. As cutscenes são abundantes e exploram a capacidade gráfica do PS2, sendo agradáveis de assistir e bem executadas dentro da história. Os vídeos, dentro do padrão Square Enix, são de altíssima qualidade e similares às animações de cinema dos jogos Final Fantasy. Os vídeos, especialmente, fazem um papel excepcional de situar o clima de aflição e ansiedade vividos pela dupla personalidade Silmeria/Alicia, em uma luta contra os deuses com poucas chances de sucesso.

Cânticos para os deuses

O cuidado em manter o que era admirado no primeiro jogo também está presente nos efeitos, vozes e trilha sonora. Tudo remete ao primeiro jogo, ajudando a recriar o clima épico da história. Os efeitos sonoros em menus e ações são idênticos, embora os menus estejam diferentes. Os efeitos de passos, golpes, choques e ambiente em geral são um pouco diferentes mas muito originais, não parecendo reciclagem de outros jogos da mesma linha. São muito adequados ainda que não possuam a mesma característica realista dos cenários.

As vozes são perfeitas para os personagens. Alicia e Silmeria possuem vozes diferentes e muito particulares, embora seja a mesma personagem falando. O bom trabalho com as vozes cria com perfeição efeito de dupla personalidade na personagem principal. As outras vozes também se encaixam bem, com destaque para as vozes de Arngrim e Hrist, que são imponentes sem serem caricatas. Acontecem algumas pausas estranhas entre os diálogos, que tiram a naturalidade esperada de uma conversa, mas parecem mais um problema de edição do que de desempenho dos atores. Os diálogos são interessantes e essenciais para a compreensão do enredo.

A trilha sonora é muito variada e agradável de se ouvir. As músicas são sempre tranquilas e harmoniosas nas cidades, perfeitas para a exploração de casas e compra ponderada de itens. A trilha fica movimentada nas dungeons e próximo ao encontro com chefes, indicando que as coisas ficarão complicadas em breve. Especialmente nas batalhas a trilha é empolgante, com riffs e guitarras se destacando do fundo. Para os que conhecem bandas de metal sinfônico, a semelhança com Therion e outras bandas européias é facilmente reconhecível, o que combina perfeitamente com o tema nórdico de Valkyrie Profile 2.

Valkyrie Profile 2, assim como o primeiro título, requer paciência e dedicação até que o jogador adquira o ritmo de jogo e construa personagens capazes de suportar as batalhas iniciais. Depois, torna-se uma experiência mais fluida e interessante, principalmente com o domínio pleno do sistema de batalha e com a aquisição de armas mais poderosas portadoras de ataques especiais.

O jogo é voltado a um público mais experiente com RPGs, e que aprecia ver algo diferente no gênero. Mas pode ser um bom ponto de início para novatos, já que não requer conhecimento prévio do primeiro Valkyrie Profile.
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