Imagem de White Night
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White Night

Nota do Voxel
75

A noite é escura e cheia de terrores (e fósforos)

Claustrofobia, solidão e medo do escuro são algumas das piores sensações psicológicas que o ser humano pode experimentar. Estar em um espaço apertado demais, não detectar a presença de ninguém no ambiente e sentir desconforto com a ausência de luz (fora morrer de medo do que estaria escondido embaixo da cama) pode acontecer com crianças e adultos.

Em jogos, essas sensações são difíceis de serem traduzidas. Não basta fazer o personagem adentrar um local com o predomínio da cor preta ou criar cômodos com paredes muito próximas. É preciso construir o ambiente aos poucos e de forma sutil, sem jogar todos os elementos de terror na tela de uma vez. Não é para qualquer um.

White Night é uma mistura de survival horror (o de verdade!) com o gênero policial. Primeiramente um jogo de terror, o título de estreia da alemã OSome Studios apresenta elementos de aventura e puzzle para fazer com que você fique ainda mais imerso – e assustado — com o que o game proporciona. Mas será que o contraste entre preto e branco é o suficiente para apavorar até quem é veterano no estilo? Por experiência própria, já adianto: sim, e muito.

Max Payne encontra Alone in the Dark

A trama se passa em Boston no ano de 1938. Os Estados Unidos ainda se recuperam da Grande Depressão, iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Você é um policial desiludido que, após sair do bar e pegar a estrada, aparentemente atropela uma menina e bate o carro. Ao acordar, poucas memórias do que aconteceu, alguns ferimentos no corpo e uma misteriosa mansão que, apesar de pouco convidativa, é a única chance de pedir por socorro. No fim das contas, o roteiro nem é tão incrível ou profundo quanto esperávamos, mas ao menos a premissa consegue capturar a atenção.

Uma quantidade imensa de documentos, cartas, fotografias, trechos de jornais e poemas ajudam a contar a história da família Vesper. Por meio dos itens, que estão espalhados por quase todos os cômodos, é possível entender o passado do lugar e, aos poucos, descobrir por que tudo ali é tão bizarro. Até mesmo a época e o sentimento da nação são bem explicados. Fãs de Resident Evil vão adorar não só isso, mas também a possibilidade de interagir com quadros e objetos de decoração — muitas vezes apenas para ouvir um comentário do protagonista, evocando lembranças da franquia da Capcom.

Ficou perdido com tantos fatos? Calma! O inventário do jogador conta com uma reconstrução da história que é uma mistura de quadrinhos com jornal. Acessado por meio de um único botão, você pode revisitar os principais aspectos da trama enquanto desvenda os mistérios da mansão Vesper e procura entender o passado da família.

Noir e terror: um caso de amor

“É tarde da noite. O café está passado, velho. A chuva cai sem parar lá fora. Meu cigarro está se apagando. Não sei qual é o próximo passo”. Eu acabei de inventar esse trecho, mas quem ler com uma voz grave e pausada percebe que ela cabe em qualquer jogo, livro ou filme noir.

Bem nesse estilo, White Night conta com uma constante narração em off do protagonista. Ele fala sobre os desejos, as intrigas e os problemas do personagem, além de indagações sobre a história. Os monólogos são bem-feitos e emulam bem o estilo. Quem é fã de Max Payne, Max Payne 2: The Fall of Max Payne, L.A. Noire e outros games nesse estilo vai se sentir em casa.

O terror também é executado com competência. A aparição dos inimigos realmente assusta, os cenários deixam até os mais corajosos com calafrios e a própria trama traz elementos que caberiam muito bem em um longa-metragem do gênero. Ninguém escapa: em algum momento, você vai ficar desesperado quando um inimigo aparecer e encontrar a tela de “Game Over” como fruto desse pavor.

Preto no branco

Sem dúvidas, a maior qualidade de White Night é o aspecto gráfico do game. Lembrando o estilo de Frank Miller em Sin City, o título faz o contraste entre preto e branco com maestria. Locais iluminados têm claridade em excesso, enquanto aqueles no escuro não possuem qualquer detalhe. Em alguns momentos em que você se encontra no breu, só o contorno do personagem é visível de forma bem suave.

O uso da falta de luz e das fontes isoladas de iluminação é uma boa sacada. Claro que esse aspecto também é uma malandragem, já que permite aos desenvolvedores fazer a renderização do cenário aos poucos, mas isso é totalmente justificável no game. O visual está longe de ser perfeito: algumas animações não têm a mesma qualidade de outras, especialmente nas cenas de corte e na composição do rosto do protagonista.

A melhor trilha é quando não há trilha

Felizmente, White Night respeita o mais puro uso de trilha e efeitos sonoros de um bom filme de terror. Você não vai encontrar muitos dos chamados jump scares, aqueles “pulos” baratos causados por um aumento repentino no volume ou por um grito agudo (de mulheres ou gatos, você escolhe) e que acontecem sem qualquer explicação.

A OSome Studios teve o trabalho de construir a atmosfera aos poucos. A abertura conta com um jazz tranquilo e bem adequado à época. Ao adentrar a mansão, o piano passa a ser mais frequente, enquanto em outros momentos há só um som pesado, abafado e que cria uma excelente ambientação. Alguns cômodos não contam com qualquer tipo de música, restando a você escutar os passos e a narração do protagonista, além do crepitar do fósforo — e é neles que você mais vai sentir medo.

Até o menu é uma sinfonia: a cada opção que você seleciona, o som de uma tecla de piano é reproduzido, criando aquele arrepio na espinha antes mesmo de você pressionar “New Game”.

Você nunca vai usar tantos fósforos quanto agora

A jogabilidade é totalmente baseada na necessidade de luz. O personagem é munido de uma caixa de fósforos que, quando acesos, proporcionam uma visão parcial do que está ao seu redor. Nos cômodos, é possível acender fontes mais eficientes, de lâmpadas a lareiras. No escuro, você fica vulnerável ao ataque de inimigos e não consegue mexer em nada. O ícone de uma lupa, um documento ou a mão do personagem indicam interação com algo na tela.

Os inimigos são a melhor parte: assustadores, eles são imbatíveis enquanto você só estiver com os fósforos na mão. Fugir ou achar uma luz forte o suficiente são as únicas opções.

A câmera de White Night é fixa, trocando de posição de acordo com o trajeto do personagem. Esse é o mesmo estilo de Resident Evil — os veteranos da série vão se sentir em casa, especialmente por estarem em uma mansão. Mas, embora ela seja um recurso interessante e ajude na composição cinematográfica do game, esse também é um dos pontos negativos do título.

Isso porque ela não foi aplicada muito bem aqui. A transição de um ângulo para o outro dificulta a movimentação: quando você está correndo de algo e a câmera muda, é bem provável que o personagem corra para a direção errada, para os braços do perseguidor. Além disso, objetos do cenário, pouco visíveis por conta da tela, também ficam no seu caminho e podem significar a morte. Isso pode frustrar bastante os jogadores que acabarem morrendo por bobagens — fato amplificado ainda pela ausência de checkpoints e pela impossibilidade de pular as cenas de corte.

O fogo acaba rápido demais

Na maior parte do jogo, o objetivo é analisar um cômodo em especial. O problema é que ele normalmente está sem luz própria, obrigando você a pegar uma chave ou ativar algum mecanismo – tudo enquanto conhece mais da família Vesper. É interessante? É. Porém, essa fórmula acaba se repetindo durante toda a trama, com pouca variação nas ações, como um susto ou a necessidade de interpretar um documento.

Os fósforos, tão essenciais para o enredo, existem em excesso. Eles têm uma boa explicação para estarem posicionados pela casa, é verdade, mas isso tira um pouco da atmosfera de adrenalina do game, já que você sempre vai ter ao menos uma pequena iluminação.

Além disso, o jogo acaba sendo curto demais para uma história que poderia se desenrolar por mais algum tempo. O replay é inexistente: depois de cerca de seis horas de jogatina, o suficiente para fechar o título, não há muito a se fazer – exceto se você não recolheu todos os documentos e tem paciência para completar a tarefa.

Vale a pena?

White Night é uma mistura de noir e terror que cai como uma luva em uma indústria cheia de jogadores nostálgicos, ávidos por experimentar uma história original com mecânicas antigas e um bom e velho clima de terror. O game bebe de referências que passam por Resident Evil, Silent Hill, Alone in the Dark, o diretor Alfred Hitchcock, Sin City e outras grandes inspirações, todas muito bem utilizadas na composição de algo original.

A mistura entre terror e noir casa muito bem com a jogabilidade criativa, que abusa da escuridão e de sustos para que você esteja sempre alerta. O uso das caixas de fósforos é divertido, mas a quantidade espalhada pelos cenários tira um pouco do clima (sem facilitar as coisas, o que é um alento).

Os gráficos não são os melhores que você vai encontrar por aí, especialmente em algumas cenas de corte, mas eles não desapontam. A composição feita a partir do contraste entre preto e branco é o grande trunfo da produção e pode ser elogiada somente com uma palavra: arte. O som também foi muito trabalhado, sendo essencial para criar o clima de tensão. Os efeitos sonoros e a trilha sonora (ou a ausência dela) são notados do primeiro minuto ao desfecho do game.

A câmera fixa, os documentos espalhados pelo cenário e a interação com objetos lembra os tempos áureos de Resident Evil. Só que a escolha dos ângulos nem sempre é feliz e você vai se frustrar muito por morrer graças à troca de câmera na hora errada ou por não enxergar um obstáculo pelo caminho.

É bem verdade que a diversão dura somente a primeira jogatina, já que não há fator replay e a historia é curta demais, mas nem por isso devemos desvalorizar o título. Trata-se de um jogo indie e de estreia, o que significa que erros e limitações são inevitáveis. Por R$ 30,99, preço do game para PC, Xbox One e PS4, você ganha acesso a uma interessante e intensa experiência de terror pouco vista hoje em dia. Por isso, pegue a sua coragem e uma caixa de fósforos e parta para a mansão o mais rápido possível. Você pode não voltar vivo, é verdade, mas a jornada compensa.

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Pontos Positivos
  • Atmosfera excelente
  • Trilha e efeitos sonoros de alta qualidade
  • Jogabilidade criativa
  • Mistura competente de gêneros, estilos e referências
Pontos Negativos
  • Curto e sem replay
  • Repetições durante todo o jogo
  • Câmera fixa pode atrapalhar muita gente