Campanha de Trump usou dados privados de 50 milhões de usuários do Facebook

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Imagem: Flickr/Gage Skidmore

No último sábado (17), o Facebook anunciou o banimento da empresa Strategic Communication Laboratories (SLC) de sua plataforma após acusá-la de violar a sua política de privacidade. Por meio de sua firma de análise de dados, a Cambridge Analytica, a companhia teve acesso a dados privados de 50 milhões de usuários da rede social a fim de direcionar propaganda política durante a campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Um dos principais investidores da Cambridge Analytica é o bilionário Robert Mercer, apoiador de Trump e conhecido por financiar causas e ativistas conservadores e de extrema-direita. Além disso, a empresa é liderada por Steve Bannon, principal assessor de Trump durante a sua campanha, conselheiro sênior e estrategista-chefe da Casa Branca até agosto de 2017.

A violação tem origem no estudo conduzido pelo professor de psicologia da Universidade de Cambridge (que não tem qualquer relação com a empresa) Aleksandr Kogan. Em 2015, ele lançou um aplicativo que pagava usuários do Facebook para obter acesso às suas informações para fins supostamente acadêmico e, com isso, obteve acesso a dados privados de cerca de 270 mil pessoas

Mas a coisa não parou por aí: a coleta teria ido ainda mais longe e obtido informações dos amigos de cada usuário que autorizou ceder as suas próprias informações, atingindo assim cerca de 50 milhões de indivíduos. O Facebook solicitou a exclusão desses dados, mas isso não teria sido feito e Kogan teria repassado todos eles a SLC/Cambridge Analytica.

Colhendo dados no Facebook

Após o Facebook anunciar o banimento da SLC de sua plataforma, reportagens do The New York Times (NYT) e do The Guardian trouxeram ainda mais luz ao tema. Christopher Wylie, que trabalhou na Cambridge Analytica até o fim de 2014, confirmou a finalidade escusa do método.

“Nós exploramos o Facebook para colher perfis de milhões de pessoas. E criamos modelos para explorar o que sabíamos a respeito delas e mirar os seus demônios internos. Essa foi a base sobre a qual toda a empresa foi criada”, revelou.

Ao NYT, ele falou que os dados obtidos por sua ex-companhia seriam as “armas” usadas por pessoas como Bannon e Mercer em uma “guerra cultural.  “Eles não se importam com regras. Para eles, isso é uma guerra e tudo é justificado”, denunciou. “Eles querem travar uma guerra cultural nos EUA. A Cambridge Analytica supostamente é o arsenal de armas para lutar nesta guerra cultural”, prosseguiu.

Christopher WylieChristopher Wylie denunciou a sua ex-companhia em entrevista ao NYT e ao The Guardian.

Em suma, a campanha de Donald Trump utilizou as informações para criar propagandas personalizadas e, com isso, tentar direcionar o voto dos usuários do Facebook. Além da campanha de Trump, a SLC/Cambridge Analytica também trabalhou na vitoriosa campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) no referendo de 2016.

A reportagem do New York Times alega ter tido acesso aos dados não tratados obtidos pela Cambridge Analytica de forma ilegal. O jornal, um dos mais tradicionais dos EUA, afirma ainda que muitos dados ainda podem ser encontrados online.

O problema

Se o estudo conduzido por Kogan era amparado pela política de privacidade do Facebook, onde está o problema? De acordo com o The Guardian, o Facebook permite apenas que as informações de amigos de pessoas que autorizam ceder os seus próprios dados sejam usadas para aprimorar a experiência de usuário.

Isso significa que a companhia de Mark Zuckerberg proíbe de maneira expressa que esses dados sejam comercializados ou utilizados para fins de publicidade. Além disso, a Cambridge Analytica não poderia armazenar as informações dos usuários, algo que ela alega não ter feito.

Em comunicado, a Cambridge Analytica afirmou “cumprir totalmente” os termos de uso do Facebook e também não utilizar ou manter armazenados dados da rede. A companhia alega ainda que contratou a GSR, empresa de Kogan, “para obter dados de acordo com a Lei de Proteção de Dados do Reino Unido”, e que as informações foram obtidas com o consentimento dos usuários.

Donald TrumpCampanha de Donald Trump usou informações de usuários do Facebook obtidas de forma ilegal para direcionar eleitores.

Investigação

As novas revelações vêm à tona em um momento complicado tanto para o Facebook quanto para a SLC/Cambridge Analytica no Reino Unido. Isso porque as duas companhias são investigadas por autoridades britânicas para esclarecer a possível utilização de dados privados obtidos ilegalmente na campanha do Brexit.

“Estamos investigando as circunstâncias nas quais dados do Facebook possam ter sido ilegalmente adquiridos e utilizados”, informou a comissária do British Information Comissioner’s Office Elizabeth Denham. “Isso faz parte de nossa investigação sobre o uso de dados analíticos para fins políticos, lançada para avaliar como campanhas e partidos políticos, plataformas de mídias sociais e companhias de análises de dados vêm usando e analisando dados pessoais a fim de microdirecionar eleitores no Reino Unido.”

No Brasil

Sócio da Cambridge Analytica no Brasil, o marqueteiro político André Torretta planejava utilizar método da empresa por aqui por meio de sua empresa, a Ponte CA. Contudo, após as denúncias recentes, ele revelou que a parceria com a companhia estrangeira não foi renovada — ao menos temporariamente.

“É importante dizer que os fatos não aconteceram no Brasil. No entanto, a Ponte decidiu não renovar a parceria com a CA, até que tudo seja esclarecido”, revelou a assessoria de imprensa de Torretta em nota enviada ao El País Brasil.

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