Polêmica salarial de The Crown faz Netflix revisar folhas de pagamento

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Os vazamentos sobre disparidades salariais no elenco de The Crown parecem ter rendido mudanças na estratégia da Netflix. A empresa admitiu, enfim, ter feito uma devassa para abolir as diferenças entre cachês de homens e mulheres. A revelação foi feita no início do mês por Ted Sarandos, chefe de conteúdo da companhia, durante a MAKERS Conference, na Califórnia. Na ocasião, Sarandos confirmou que o escândalo envolvendo os salários de Claire Foy e Matt Smith foi um divisor de águas.

Em sabatina comandada por Willow Bay, reitora da Escola de Comunicação e Jornalismo da University of Southern California, Sarandos garantiu que a Netflix fez o dever de casa. “É muito complicado quando se está lidando com a ascensão de um novo talento em um programa de TV estreante. [The Crown] se tornou uma das produções de maior sucesso da Netflix, além de ter ajudado a catapultar a carreira de Claire Foy. Não posso comentar abertamente sobre o salário da atriz, pois nunca fui responsável por ele, mas posso admitir que havia, de fato uma disparidade. O que nós fizemos foi revisar as folhas de pagamento de todas as nossas séries – tanto as que vinham sendo produzidas por parceiros quanto as que fazíamos dentro de casa – para garantir que nenhum desequilíbrio semelhante continuasse a existir”, disse.

https://tm.ibxk.com.br/2019/02/15/15090746449438.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/02/15/15090746449438.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Ted Sarandos. Foto: Reprodução/Variety

Ao mesmo tempo, porém, Sarandos afirmou que a Netflix se limitou a licenciar The Crown através da Sony Pictures Television, não tendo, portanto, responsabilidade sobre a definição dos salários dos atores, revelados no ano passado, quando veio a público a informação de que Claire Foy ganhava menos do que seu parceiro de cena Matt Smith. Apesar disso, Sarandos comemorou o fato de o vazamento sobre a diferença salarial entre os atores ter rendido impactos reais no modelo de negócios da empresa.

Durante a conversa com a reitora da USC, Sarandos contou que a Netflix revisou seus procedimentos internos e passou a orientar seus executivos de maneira mais enfática sobre a questão da igualdade salarial entre homens e mulheres. O chefe de programação afirmou, no entanto, que não se trata de algo que tenha sido documentado, mas de uma prática já incorporada à rotina dos executivos da empresa. “É algo que temos feito todos os dias. Apesar de complexo, o caso de Claire e Matt apontou para algo ainda maior, que acontecia em toda a indústria. A partir dele, nós tivemos a oportunidade de identificar situações semelhantes e corrigir injustiças”, disse, sem apontar as séries em que os desequilíbrios salariais foram detectados nem quais atrizes teriam recebido possíveis aumentos.

Executivas também demandaram mudanças

Quem acha que a luta por igualdade salarial se limitou às estrelas de séries e filmes da Netflix se engana. A reivindicação chegou aos bastidores da empresa, passando a ser feita também por algumas de suas maiores executivas. Questionado, Sarandos garantiu que a polêmica nos bastidores é menor, já que a Netflix tem uma política de transparência que garante salários mais equilibrados entre seus executivos. Apesar disso, o chefe de programação admitiu ter visto injustiças e tentado corrigi-las.

https://tm.ibxk.com.br/2019/02/15/15091034620439.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/02/15/15091034620439.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Caso de Claire Foy inspirou executivas da Netflix. Foto: Reprodução/IMDb

Como exemplo, Sarandos relatou uma ocasião em que teve de selecionar e contratar um novo executivo. Na época, quatro candidatos disputavam a vaga – três homens e uma mulher. Ao fim do processo, Sarandos, que selecionou a mulher, disse ter ficado espantado com a diferença no histórico salarial dela quando comparado ao dos candidatos homens. Durante toda sua vida profissional, ela havia recebido menos do que a média do setor, e até a oferta salarial da Netflix foi menor do que a que teria sido feita a um executivo homem. Então, três meses após a contratação da funcionária, que demonstrou excelente desempenho, Sarandos decidiu chamá-la para uma reunião em que reconheceu o seu talento e revelou ter conseguido negociar um aumento para compensar minimamente a injustiça ocorrida durante sua contratação.

No palco da MAKERS Conference, evento voltado para o desenvolvimento feminino na indústria do entretenimento, Sarandos reproduziu parte da conversa que teve com a executiva recém-contratada: “É absolutamente injusto que você esteja recebendo esse salário”, disse. “Se fosse admitir um executivo do sexo masculino que realiza as mesmas tarefas que você, eu lhe faria a proposta de um salário maior, que é exatamente o que vou lhe oferecer agora em forma de compensação”, concluiu.

Netflix ainda resiste a demandas

Recentemente, durante o Festival de Sundance, representantes do movimento Time's Up propuseram à Netflix um aumento mínimo de 4% nos índices de contratação de diretoras do sexo feminino. Na MAKERS Conference, Sarandos admitiu que a empresa ainda não cedeu ao pedido, mas, em contrapartida, aproveitou a oportunidade para dizer que, em 2018, nove produções da Netflix foram assinadas por diretoras mulheres, entre eles os sucessos Bird Box (2018) e Mais Uma Chance (2018).

https://tm.ibxk.com.br/2019/02/15/15091631729442.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/02/15/15091631729442.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Cena de Bird Box, dirigido por Susanne Bier. Foto: Reprodução/IMDb

Questionado sobre por que a Netflix estaria resistindo à proposta do Time's Up, Sarandos se esquivou e preferiu se limitar a aconselhar seus colegas do entretenimento. “Comprometam-se pessoalmente a adotar uma postura de alerta constante. Você não pode simplesmente dizer ‘Não podemos impactar os números’ e do nada, de repente, perceber que as coisas não vão funcionar como deveriam. Você precisa, sim, contratar executivos (...) que possam tomar boas decisões”, concluiu.

Este texto foi escrito por Rodrigo Sánchez Paredes via nexperts.

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