Referências à HQ e inovações são trunfos de O Mundo Sombrio de Sabrina

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O Mundo Sombrio de Sabrina mal chegou às telinhas da Netflix e já virou uma das séries mais celebradas de 2018. A produção, que tem sido elogiada pela capacidade de transpor com maestria as histórias e personagens dos quadrinhos da Archie Comics para a TV (tudo sob a responsabilidade do chefão Roberto Aguirre-Sacasa, que também está por trás do sucesso de Riverdale, da CW), é um ótimo exemplo de como boas adaptações para a televisão podem ser criativas e inovadoras sem perder de vista a essência da obra original, que ganha novo fôlego.

Para provar isso a você, destacamos aqui (entre spoilers, esteja avisado!) alguns dos recursos de que os produtores de O Mundo Sombrio de Sabrina lançaram mão na hora de levar a história em quadrinhos para a plataforma de streaming – momentos de aproximação e de distanciamento entre a série e os quadrinhos, além de simples e curiosas referências que tornaram a adaptação ainda mais interessante. Confira!

As referências ao comic book começam já na abertura

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Como você já deve ter notado, os créditos iniciais são, exatamente como manda a tradição da Netflix, uma sequência toda pensada para deixar o espectador já no clima da produção (bem diferente da prima Riverdale, da CW, que tem uma abertura rápida e objetiva). No caso de Sabrina, a trata-se de uma homenagem a Robert Hack, cocriador dos quadrinhos de 2014 que deram origem à série, assinados também por Roberto Aguirre-Sacasa.

O visual é todo inspirado nos comics de terror da metade do século XX e nos filmes da Hammer Film Productions, que lá pelos idos das décadas de 50 e 60 já produzia longas de terror com uma pegada bastante fantasiosa. E mais: quer saber em que momento essa homenagem fica bem marcada? Então repare, lá no finzinho dos créditos iniciais, na cena em que Sabrina, até então desenhada com os traços próximos aos da atriz Kiernan Shipka, que a interpreta na série, passa a ser representada com as características da Sabrina dos quadrinhos. A diferença é gritante!

Na TV, Edward Spellman tem uma história bem diferente

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Logo de largada, a versão de O Mundo Sombrio de Sabrina para a TV emprega uma mudança radical na história original, dos quadrinhos. Nas páginas do comic book, Edward Spellman, pai de Sabrina, é transformado em uma árvore graças à intervenção das tias Hilda e Zelda, que o impedem de pôr em prática um plano que envolvia sua filha. Na adaptação da Netflix, porém, o que acontece é que os pais da personagem morrem em um acidente aéreo – e antes de morrer, Edward tinha “apenas” negociado a alma de Sabrina para que ele pudesse se casar com a mãe da menina, uma mera mortal.

É o Lorde das Trevas, portanto, quem assume o protagonismo e a responsabilidade sobre o futuro da jovem. Zelda (Miranda Otto) também é retratada na TV de uma maneira bem diferente dos quadrinhos, como a tia que tenta honrar os desejos do irmão falecido. Os fãs da série que já leram o comic book estão certos de que a segunda temporada vai trazer revelações para ajudar a entender essas mudanças, tão significativas para a história. É esperar para ver.

Outros pontos de distanciamento entre as duas versões de Sabrina envolvem Rosalind (Jaz Sinclair), que passa de rival a melhor amiga da bruxinha, o nome que a personagem de Michelle Gomez usa enquanto professora do Baxter High e a inclusão de Suzie (Lachlan Watson), amiga de Sabrina cuja trajetória, bastante interessante, promete revelar pontos importantes sobre a história de Greendale.

Temporalidade fluida (e a possível conexão com Riverdale)

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Se no comic book a história de Sabrina se passa declaradamente na década de 60 (o aniversário de 16 anos da bruxinha cai no dia 31 de outubro de 1963, para sermos mais precisos), na TV a questão da temporalidade parece bastante fluida. No episódio de estreia, por exemplo, a ambientação remete quase toda aos anos 60. Apesar disso, algumas evidências acabam nos levando a crer que a história se passa mais próxima dos dias atuais, entre elas a cena de Ambrose (Chance Perdomo) usando um computador e a de Harvey Kinkle (Ross Lynch) atendendo a uma chamada de Sabrina em um celular com flip.

Quer outras provas de que a série adora brincar com essa questão do tempo? Repare no telefone que Sabrina usa para fazer a ligação para o namorado: é a cara daqueles que nossas avós tinham em casa! Além disso, é interessante notar como, embora não existam fotos coloridas nos cenários, haja, sim, pôsteres e livros impressos em cores. Os carros também parecem ser todos de modelos mais antigos, próximos do que é mostrado nos quadrinhos. E, apesar dessas evidências, a trilha sonora mescla hits do passado com músicas bastante atuais.

Aparentemente, essa brincadeira é, em alguma medida, uma maneira de não aprisionar a produção em um tempo específico – algo bastante próximo das intenções do traço de Robert Hack, que ilustrou os quadrinhos de Sabrina em 2014. Essa escolha permite que a série tenha independência da prima Riverdale, que ao que tudo indica se passa na cidade do outro lado do rio Sweetwater, presente na geografia de Greendale.

Aliás,Riverdale também é uma série chegada a fazer esse jogo com as temporalidades retratadas, concorda? Talvez esse seja um indício de que as produções podem compartilhar mais do que a mesma origem. Dica para esquentar o rumor: Ben Button (Moses Thiessen), que há pouco tempo morreu na trama de Riverdale, fez uma breve aparição em Sabrina como um entregador de pizza. Seria um sinal?

Namorado de Sabrina também passou por mudanças

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O Harvey Kinkle dos quadrinhos é bem diferente daquele que vemos na série de TV, interpretado por Ross Lynch. Como ganhou o status de “pilar” de vários plots da protagonista, além de ser a ponte da bruxinha com o mundo dos mortais, Kinkle precisou ganhar mais importância na série. Com essa virada, os roteiristas de O Mundo Sombrio de Sabrina se viram obrigados a tornar Kinkle um personagem mais complexo do que ele é nas páginas do comic book, que o retrata como um cara comum dos anos 60, fã de futebol americano e muito mais um mero interessado em ir para a cama com Sabrina do que o carinha apaixonado que vemos na série.

Na TV, Harvey é um namorado sensível e compreensivo, com pontos de fragilidade mais elaborados, como a relação conflituosa com o pai e a referência a uma possível aproximação com Satã ainda na infância. Além disso, o rapaz, veja só, é ele mesmo um fã de comic books – coisa que o Harvey dos quadrinhos definitivamente não era.

A todo instante há uma referência significativa

Além de todas as referências que já listamos e que fazem da série um misto de boas e complexas conexões, vale a lembrança de que Sabrina, nossa protagonista, é declaradamente fã de filmes e quadrinhos de terror. Algumas das evidências mais concretas disso, que aparecem ao longo da primeira temporada, são as referências a longas como A Noite dos Mortos-Vivos (1968), O Parque Macabro (1962) e o clássico Monstros, de 1932 – todos de alguma forma ligados à temática da exclusão.

E mais: na primeira visita de Harvey à casa dos Spellman, por exemplo, Ambrose lista Neil Gaiman, Alan Moore e Grant Morrison como alguns de seus autores de quadrinhos favoritos. Não por acaso, os três foram alguns dos nomes mais importantes da virada quanto ao que a DC Comics produzia em termos de terror nas décadas de 80 e 90, culminando no lançamento do selo Vertigo.

Até mesmo o fato de "O Olho Mais Azul" (primeiro romance da escritora e ativista negra Toni Morrison, vencedora do Nobel de Literatura de 1993) ser o livro banido pelo diretor Hawthorne e pela comissão de educadores de Greendale é muito representativo, revelando parte das questões centrais de O Mundo Sombrio de Sabrina.

O surpreendente resgate da Madame Satã

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Adormecida nos quadrinhos desde 1941, quando teve suas publicações canceladas, Madame Satã voltou à ativa 2013, quando fez uma breve aparição nas publicações da série "The Fox", da Archie Comics, antes de ser trazida de vez à tona na versão de O Mundo Sombrio de Sabrina em quadrinhos.

A personagem, uma das mais antigas do quadro da Archie Comics, vive agora um retorno triunfal na versão televisiva produzida pela Netflix, na pele da professora Mary Wardwell (Michelle Gomez), uma mulher rejeitada por Edward Spellman, pai de Sabrina. Alguma dúvida de que a malvada quer se vingar da nossa protagonista? Nenhuma. Sorte a nossa, que ganhamos a possibilidade de excelentes desdobramentos em uma das séries mais interessantes lançadas ao longo de 2018, concorda?

Este texto foi escrito por Rodrigo Paredes via nexperts.

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