Sempre Bruxa falha ao não saber aproveitar o potencial da própria história (crítica)

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Anunciada pela Netflix como parte de uma leva que incluía outras cinco produções originais colombianas, Sempre Bruxa pode ser entendida como uma espécie de compromisso da empresa. É a prova de que o serviço de streaming vai continuar investindo com força no mercado latino-americano, diversificando os gêneros das obras criadas por aqui.

Dessa vez, a aposta foi em uma mistura de fantasia com comédia romântica adolescente. A história começa em 1646, quando a protagonista Carmen está prestes a ser queimada na fogueira sob a acusação de bruxaria. O que ninguém sabe é que ela tinha feito um pacto com o bruxo Aldemar momentos antes da condenação, resultando em uma viagem no tempo para 2019 e uma missão a ser cumprida.

Mas nada pode ser muito simples em Sempre Bruxa, o que já escancara um de seus principais defeitos: em meio à história de bruxaria e viagem no tempo, também acompanhamos o amor proibido entre Carmen, uma mulher negra escravizada, e Cristóbal, futuro herdeiro da casa onde ela é obrigada a trabalhar. Some a isso uma série de assassinatos que estão acontecendo nos tempos atuais e a chegada do misterioso vilão Lucien para ter uma ideia da quantidade de informação que é jogada no espectador apenas durante os dois primeiros episódios.

Essa tendência continua quando somos apresentados ao núcleo de jovens que vai acompanhar Carmen durante a maior parte da aventura. Felizmente, os poucos momentos inspirados da produção surgem exatamente das relações entre o grupo de amigos. Pouco a pouco, cada um deles consegue se livrar dos clichês iniciais (a estudiosa, o baladeiro, a rica…) e terminam por virar peças importantes na resolução dos problemas.

É uma pena, portanto, que o mesmo não possa ser dito do restante da série. Podemos começar citando o fato de que ela lembra mais uma novela de baixo orçamento da década passada do que algo atual. Você pode tranquilamente parar de prestar atenção ao que acontece na tela, pois tem a segurança de que a trilha sonora vai gritar sempre que algo importante estiver prestes a acontecer. O mesmo vale para os momentos de humor, que são sempre anunciados por uma música animada.

Esse desleixo também está presente nos efeitos especiais digitais, feios a ponto de tirarem todo o peso de cenas que exigiam uma carga emocional forte. Até mesmo os elementos mais simples (como as tatuagens de Carmen, que brilham quando ela utiliza os poderes) parecem sempre extremamente amadores e artificiais.

Isso se aplica ainda às obviedades na hora de apresentar alguma característica dos personagens. Johnny Ki, por exemplo, é um adolescente que se garante com tecnologia. Caso você não tenha percebido, ele usa um computador com fundo preto e letras verdes, além de ser capaz de aprender qualquer coisa via tutoriais de internet, incluindo entrar em contato com bruxos do passado e fazer feitiços avançados dos quais nem Carmen tinha conhecimento.

Mas os momentos mais frustrantes de Sempre Bruxa são mesmo as amostras de potencial desperdiçado pela trama, como quando Carmen usa seus poderes para revelar defeitos dos homens que aparecem no Tinder das amigas ou quando ela pede a ajuda de um fantasma para assombrar o ex-namorado babaca de uma colega. Em outro momento, a bruxa fala sobre como é incrível viver em um tempo no qual mulheres podem estudar.

São elementos que poderiam render episódios interessantes e enriquecer o universo da série, mas acabam ficando de lado. Até mesmo a adaptação de Carmen aos novos tempos é pouco explorada, servindo mais como alívio cômico. O roteiro prefere investir em um triângulo amoroso óbvio, que, de tão mal desenvolvido, nem chega a ser realmente um triângulo.

De forma geral, os últimos episódios são apenas um resumo de todos os principais problemas apresentados até aqui. Com um emaranhado tão grande de tramas e subtramas, muitas delas acabam sendo resolvidas em alguns segundos durante o episódio final ou são simplesmente abandonadas no meio do caminho. É um desfecho decepcionante para uma história que merecia mais.

Este texto foi escrito por Felipe Autran especialmente para o Minha Série.

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