Imagem de Horizon: Zero Dawn
Imagem de Horizon: Zero Dawn

Horizon: Zero Dawn

Nota do Voxel
90

Vida longa a uma nova heroína e a uma aventura com excelência técnica

A jornada do herói é uma teoria que segue as regras do romance tradicional e que apresenta uma pessoa, geralmente de origem humilde, com um destino traçado na salvação do mundo. Esse alguém é considerado um predestinado, um escolhido, um ser dotado de habilidades especiais que são descobertas ao longo da aventura e posteriormente utilizadas em prol do bem. Horizon: Zero Dawn não poderia apostar numa fórmula diferente, só que não necessariamente nessa ordem.

A jornada de Aloy, a nova aspirante a mascote da Sony, é uma intrínseca combinação de seis anos de trabalho da Guerrilla Games, que havia usado, até então, toda a sua expertise em Killzone. Transitar de um shooter para um mundo aberto não é um processo exatamente natural, tanto que o estúdio teve de contratar uma equipe responsável por criar quests e buscar profissionais direcionados a outros setores. Basicamente, é um departamento inédito no portfólio da desenvolvedora, e foi o próprio diretor de lá que contou isso para o TecMundo Games em entrevista.

O time de produção se viu compelido a botar os melhores ingredientes que um mundo aberto exige: imersão, variedade de coisas a se fazer, personagens com carisma, NPCs que tragam sentimentos, inteligência artificial que tenha cérebro, atividades que representem um significado e uma protagonista que dê orgulho aos fãs. A soma disso tudo resulta em personalidade. Arsenal, inimigos, equipamentos e todo o resto vêm por consequência. Entre expectativas e adiamentos, o caminho foi longo até aqui; basicamente, desde 2011. E o seu caminho também vai ser imenso para você curtir tudinho que essa épica jornada reserva.

O tempero diferente no arroz com feijão do mundo aberto

Conforme mencionado, Horizon está na prancheta desde 2011. E só agora, em 2017, esse jogo vê a luz do dia. Para alcançar essa conquista, a equipe precisou se inspirar em fórmulas que já estão por aí, no mercado de entretenimento eletrônico, tanto em outros jogos como em filmes e séries. Horizon: Zero Dawn é a herança do que já existe e, ao mesmo tempo, tem a exímia capacidade de pavimentar o terreno para novas inspirações.

A grande sacada de Horizon foi misturar, bem aqui no planeta Terra, lanças e bastões pré-históricos com máquinas de guerra sofisticadas num lugar que está só mil anos à frente do nosso

Mundos abertos têm sido uma receita de bolo para muita gente se afunilar nesse estilo de jogo. Ou simplesmente uma desculpa para transportar o jogador a um lugar onde ele faz o que quiser e quando bem entender, igual a um parque de diversões. A ideia de liberdade reina absoluta em nosso imaginário e sempre fez parte de nossos sonhos – aqueles que jogaram GTA 3 em 2002 que o digam.

A grande sacada de Horizon foi misturar, bem aqui no planeta Terra, lanças e bastões pré-históricos com máquinas de guerra sofisticadas, que assumem a forma de animais, num lugar que está só mil anos à frente do nosso.

A importância de ter uma heroína com personalidade

Nesse contexto, Aloy é uma heroína nitidamente inspirada nos conceitos literários apolíneo e dionisíaco, ou seja, ela é uma mistura de razão e raciocínio lógico com emoção e instinto. Sua origem é tão misteriosa quanto as máquinas vivas que perambulam por uma Terra devastada, mil anos à frente da nossa, quando a tecnologia e o conhecimento humano entraram em confronto – mas a natureza respondeu à altura e reinou soberba nesse conflito, em que parafernálias metálicas de última geração coexistem com o verde dominante, aldeias e tribos pré-históricas. A odisseia ao Oeste vista no belíssimo Enslaved, pérola da geração passada, é sua melhor lembrança aqui. O verde-fungo de The Last of Us, com galhos e ramos que intersectam monumentos arcaicos, também é dominante em Horizon.

A sede por respostas é capaz de segurar sua atenção até o final numa boa, nas cerca de 35 horas das missões principais. Cristalino e acessível, o gameplay é o ingrediente que caminha de mãos dadas com o enredo. Em um mundo hostil que requer espírito de sobrevivência, a coleta de recursos e a criação de itens à la Far Cry Primal são atividades cruciais em Horizon. Assim como no título da Ubisoft, aqui você precisa garimpar absolutamente qualquer item que brotar do chão em indicadores bem apontados na tela. É assim que você ajuda Aloy a evoluir: construindo bolsas maiores para carregar mais itens, mais munição, mais customizações, mais tudo.

A Guerrilla construiu um mapa colossal. É absurdamente grande e mais parece um concurso no qual The Witcher 3, GTA 5 e Skyrim bateriam palmas de pé ao concorrente

O looting segue o esquema de cores já consagrado em celebridades como Diablo, Destiny, The Division e afins, com muito espaço para você personalizar todo o arsenal de Aloy, trocar de traje e mais. Viciante. Há comerciantes espalhados pelo mundo inteiro. A exploração desértica em campos verdejantes traz ótimas lembranças de um momento inesquecível, como se fosse uma viagem de verão.

Essa história de exibir animais no mapa, em determinadas regiões, foi uma ideia consagrada por Red Dead Redemption, obra-prima irretocável (e inquestionável) da Rockstar e primo mais novo de GTA. Aliás, taí, faltava um GTA no Safári. Final Fantasy XV e Horizon: Zero Dawn talvez sejam as melhores opções para esse tour inesquecível. A mecânica também existe em Far Cry, Assassin’s Creed e está presente aqui. Fiquei vislumbrado logo nos primeiros minutos. Como se estivesse dentro de um parque de diversões recém-aberto, como se tivesse ido à Disney pela primeira vez. Ou, no meu imaginário mais extasiado e fictício, como se estivesse no Jurassic Park de Steven Spielberg. As emoções e expressões de Aloy são absolutamente convincentes. Separei algumas "pinturas" para vocês verem:

Galeria 1

É possível encontrar animais robóticos que caçam em bando, seres gigantes que atacam sozinhos e outras espécies que ficam ilustradas no mapa do mundo aberto. Por falar em mapa, que coisa mais colossal a Guerrilla construiu. É absurdamente grande, mais parece um concurso no qual The Witcher 3, GTA 5 e Skyrim bateriam palmas de pé ao concorrente. Consegue oferecer, ao mesmo tempo, uma exploração horizontal e vertical, igual ao que você viu em Just Cause 3 ou até mesmo no já mencionado Skyrim. Há um forte sentimento de Shadow of Mordor e do clássico Turok aqui também. Aloy é tão Lara quanto Croft nesse matagal.

Combate engenhoso e simples – talvez até demais

É impossível não se lembrar "Jurassic Park" enquanto eu controlava Aloy por paisagens ocupadas por feras robóticas dotadas de características pitorescas e ao mesmo tempo familiares. Um cervo, herbívoro, junta-se ao seu rebanho de maneira recatada, discreta e fugaz. Faça um som para que todos sejam alertados instantaneamente. É uma relação entre caça e caçador, entre presa e predador, igualzinho ao que acontece na vida real.

O que temos aqui, basicamente, é um enorme passeio pela natureza de seres robóticos que parecem dinossauros e outros animais em forma de máquina, cada uma com suas próprias particularidades dentro de um ecossistema que coloca as criaturas em confronto com os humanos. A estética tribal do filme "Avatar", emblemático sucesso de bilheteria de James Cameron, existe em peso aqui. Os Transformers jurássicos de Michael Bay também mandam abraços.

Os robôs assumem a forma de animais bípedes e quadrúpedes. Por sorte, existe uma variedade interessante de inimigos; deles, o Pescoção é um dos mais legais e deve ser escalado aos moldes de um Shadow of The Colossus

Lidar com eles parece complexo à primeira vista, mas na verdade é simples. Se por um lado o combate brilha nas armas de média e longa distância, por outro ele deixa a desejar nas lutas corpo a corpo. Aloy não trava a mira de inimigos para rodeá-los, tal como aconteceria em qualquer RPG de ação em terceira pessoa. É a mecânica consagrada por Zelda e adotada em Dark Souls, Bloodborne, The Witcher, Darksiders e praticamente qualquer jogo do gênero. Como você enfrenta robôs que assumem a forma de animais bípedes, quadrúpedes, voadores e o que mais houver na natureza, por sorte existe uma variedade interessante de inimigos – deles, o Pescoção é um dos mais legais e deve ser escalado aos moldes de um Shadow of The Colossus. Eu disse: inspirações (boas) não faltam aqui.

São apenas dois ataques: um leve com o R1 e um pesado com o R2, sem variações e sem muita precisão. Prepare-se para tomar um pau se um bando de dinossaurinhos robóticos te atacar de perto – pelo menos a esquiva funciona bem nessas situações. O stealth é um mecanismo que também se sustenta: basta usar as moitas altas para se esgueirar nos inimigos, que é sucesso. E elas são pinceladas em aquarela na tela com toda a densa vegetação do game. Junto com tudo, na verdade: Horizon é absolutamente lindo. Alguns trechos lembram até a floresta de Bornéu de Uncharted. Quase se vê Nathan Drake acenando para Aloy de algum lugar do pantanal jurássico. É simplesmente brilhante, um case de sucesso ao PS4 Pro e uma primazia técnica no modelo padrão. Ninguém ficou na mão.

A dose leve do RPG e o peso da exploração

Ao longo de sua jornada, Aloy pode usar um amplo leque de armas que são, ao mesmo tempo, pré-históricas e tecnológicas. Esse paradoxo é o principal chamariz de Horizon: Zero Dawn o tempo inteiro. Você pode criar flechas de fogo, usar estilingues que lançam bolas explosivas, posicionar cabos que funcionam como labirintos e outras opções que se encaixam muito bem nas situações que se apresentam nas missões. Eu, particularmente, usei a combinação stealth + estilingue para lidar com pequenos grupos de inimigos, quando aglomerados, na maior parte do tempo.

O sistema de diálogo é igual ao de Mass Effect e de outros jogos que seguem o estilo do RPG ocidental, isto é, diversas opções são exibidas a você como respostas que se desdobram em diferentes ações. É um sistema adotado por outros títulos da BioWare, da Bethesda e também pelo jogo do ano de todos os anos, The Witcher 3. As reações de alguns NPCs às suas falas são, no entanto, robóticas, à la Fallout 3 ou 4. Poucos mexem as sobrancelhas e nem todos transmitem a carga necessária de drama – e isso destoa do trabalho feito com Aloy e outros personagens importantes. Para perfeccionistas da era pós-L.A. Noire, isso pode reduzir a imersão ou a sensação de autenticidade na representação das emoções. Isso não acontece sempre, mas, quando ocorre, a percepção é gritante e instantânea. Selecionei um trecho que aparece na videoanálise lá em cima.

As missões secundárias da jornada de Aloy trazem conteúdo em forma de história, mas nem todas são imaginativas – eventualmente a coisa acaba caindo no “leva e traz”, e a heroína, de vez em quando, vira uma espécie de mensageira

As missões secundárias da jornada de Aloy trazem conteúdo em forma de história, assim como os contratos de The Witcher 3, mas nem todas são imaginativas. Apesar de cada uma das side quests ter dramas e contextos próprios para incentivar o jogador a fazer todas elas, eventualmente a coisa acaba caindo no "leva e traz" básico que deixou muita gente preocupada em Dying Light. Aloy vira uma espécie de mensageira em muitos casos. Espaço não faltou para a equipe apimentar a criatividade nesse quesito.

Ainda assim, fazer essas tarefas opcionais é uma atividade recompensadora. Ao longo da minha jornada, ganhei toneladas de XP e explorei outras regiões do mundo aberto fora do Enlace, a área inicial, graças às missões secundárias. Além disso, é concedida uma dose generosa de armas, equipamentos e suprimentos ao término desses objetivos opcionais. Mas eu prefiro separar um tópico exclusivo SÓ para falar de atividades extras que se desviam da rota principal.

Você tem uma HOMÉRICA quantidade de coisas para fazer

Um dos maiores trunfos de Horizon: Zero Dawn é que ele se respalda naquilo que o mundo oferece em vez de trazer uma imensidão mal-aproveitada. Conforme mencionado, o próprio diretor disse “boa sorte” ao TecMundo Games quando perguntado, por nós, sobre atingir os 100% em tudo que esse vasto universo oferece.

A começar pelos tutoriais. Faça todos. Eles são exibidos em formato de missão e fornecem uma generosa dose de pontos de experiência, além de permitir que você conheça melhor as armas e os recursos do jogo. A conversão de máquinas, por exemplo, é um excelente recurso. Algumas espécies podem ser convertidas para se transformarem em aladas de Aloy, que pode utilizá-las como meio de transporte – igual um cavalo à la Epona, de Zelda, ou Carpeado, de The Witcher 3 – ou até mesmo como mecanismo de defesa. A ideia funciona muito bem.

Alguns objetos contam histórias de vidas passadas através de áudios e isso te dá pistas para tentar entender o que aconteceu

Compre os mapas que exibem colecionáveis e vá atrás de todos. Sério, faça isso. Existem flores metálicas, recipientes, gravações e outros objetos que te ajudam a entender – ou ao menos conjeturar – o que aconteceu com o planeta para que as coisas, mil anos depois, ficassem como estão. Alguns objetos contam histórias de vidas passadas através de áudios. De lambuja, você ainda belisca a barra de XP e enche o bolso de pequenas recompensas. Essa mecânica ajuda a construir o background de maneira sólida e consistente.

Cumpra os campos de caça. São atividades nas quais você caça animais robóticos e deve realizar ações específicas com eles, como remover cilindros de suas costas ou eliminá-los através de armadilhas em troncos. Pense em um time trial didático e lotado de recompensas generosas.

Galeria 2

Em meio a isso tudo, a inteligência artificial é um show com luzes, holofotes e palco alto. Há criaturas que te enxergam de longe, enquanto outras só atacam em bando e algumas preferem atuar sorrateiramente, sozinhas, farejando a mata como um vira-lata inteligente. As espécies mais agressivas estão nas áreas corrompidas. São trechos poluídos por uma força da escuridão e, neles, os bichos são mais fortes e agressivos. Os combates ganham uma dose épica, visceral – mecanicamente falando – e ainda mais brilhante. O primor técnico costuma brilhar nesses momentos, sem jamais deixar que a peteca caia.

Exclusivo estrondoso? Claro que sim!

Horizon: Zero Dawn é a melhor resposta que os fãs poderiam ter após tanto tempo de espera. Em uma indústria movida pelo hype, ter um produto que corresponda às expectativas pode ser raro. A Guerrilla não só entregou um jogo lotado de combinações e inspirações de ideias existentes; ela ofereceu um olhar inédito a um gênero que está um pouco saturado no mercado.

As missões secundárias, sem tanta imaginação quanto as primárias, e o simplório combate corpo a corpo, sem trava nos inimigos, são somente pequenos apanhados de poeira em um lustre construído com muito esmero. Com o tempo, pode ser que a Guerrilla limpe isso. Os NPCs que não transmitem a dose necessária de emoção em alguns momentos também são sobrepostos por todos os outros méritos que Horizon conseguiu atingir.

A nota numérica, queridos leitores e leitoras, é sempre um desafio para qualquer analista. Análises representam opiniões, e é difícil atribuir um valor numérico a uma experiência tão exclusiva a cada um de nós. Se Nioh tirou 100 ou Dark Souls 3 tirou 95 ou qualquer outro jogo tirou qualquer outra nota, é porque o redator encarregado pela análise, naquele dado momento, sentiu aquele impacto com aquela experiência. Uma nota não interfere na outra, e os critérios são sempre diferentes a cada jogo e a cada gênero. Portanto, como sempre, vamos promover o debate educado nos comentários e bater um papo-cabeça, agradável, sobre esse mundo que tanto amamos: o dos games como um todo.

Você vai estar muito bem equipado para esse safári no pós-pós-apocalipse de Horizon. Aloy não é apenas uma protagonista cheia de personalidade; ela representa, potencialmente, uma mascote digna de posar ao lado de Kratos ou de Nathan Drake. Por tudo que Horizon: Zero Dawn foi durante seu desenvolvimento e pelo resultado que o jogo entrega dentro de todos os pontos supracitados, não há motivos para não ter um PS4 agora. E, se você tiver o Pro, a cereja no bolo está garantida.

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Pontos Positivos
  • Visual soberbo, absoluto, que explora o melhor do PS4
  • Mundo verossímil e lotado de ótimas referências
  • Criaturas engenhosas e chefões que requerem estratégias diferentes
  • Aloy: protagonista que vai brilhar na família PlayStation
  • História convincente, consistente e bem apresentada
  • Gameplay acessível, com baixa densidade e preocupação de alcance mundial
  • Mapa colossal
Pontos Negativos
  • Imprecisão no combate corpo a corpo, que não tem trava
  • Missões secundárias pouco imaginativas
  • Expressões faciais de alguns NPCs são opacas e não transmitem a carga necessária de emoção