Imagem de I Am Setsuna
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I Am Setsuna

Nota do Voxel
85

Quando o antigo serve como base para a construção do novo

Na época em que os consoles de 16 e 32 bits estavam no auge de suas vidas, a Squaresoft (atual Square Enix) era uma empresa que parecia incapaz de errar. Em um intervalo de poucos anos, a companhia lançou RPGs clássicos como Chrono Trigger, Final Fantasy VI, Legend Of Mana, Xenogears e Vagrant Story, só para citar alguns nomes.

No entanto, essa “era dourada” chegou ao fim com o lançamento do Xbox 360 e do PlayStation 3, quando mudanças nos gostos dos consumidores e aumentos de custos de produção determinaram que os RPGs orientais se transformassem em algo de nicho. Essa situação fez com que muitas empresas (incluindo a Square Enix) achassem que não havia mais interesse no gênero — algo que não poderia estar mais errado.

Após o sucesso inesperado de Bravely Default, a companhia parece ter percebido que ainda há espaço para jogos do estilo com uma pegada mais “clássica” e formou a Tokyo RPG Factory com o intuito de produzir experiências do tipo. O primeiro resultado dessa empreitada é I Am Setsuna — game que, se consegue resgatar a qualidade de títulos do passado, em alguns momentos parece se restringir demais às influências de seus antecessores.

Uma jornada para salvar o mundo

I Am Setsuna coloca você no papel de Endir (ou qualquer outro nome de sua preferência), membro de uma tribo cujos integrantes são treinados para serem os melhores mercenários do mundo. Sua primeira missão é matar “O Sacrifício”, uma garota com poderes especiais que deve ser sacrificada para afastar durante algum tempo os monstros que ameaçam destruir o mundo.

Em menos de uma hora de jogo as coisas mudam de figura e você se vê como um dos protetores desta garota — a Setsuna que dá nome ao RPG — em sua jornada. A lógica é simples: como a missão de Endir é assegurar que a garota seja morta, basta que ele a acompanhe em sua jornada cujo objetivo é ela dar sua vida para proteger o mundo.

Durante o caminho você encontra uma série de companheiros com habilidades e motivações diferentes, que vão de simplesmente acreditar que a missão é válida até tentativas de corrigir erros do passado. Naturalmente, também há figuras que querem impedir que sua missão seja cumprida, muitas vezes por motivos que só ficam claros no final da jornada.

O estilo do roteiro deve ser bastante familiar para quem já experimentou alguns dos games listados no parágrafo que abre esta análise, o que diminui um pouco o impacto de certas reviravoltas. As maiores semelhanças ocorrem com Final Fantasy X, tanto no que diz respeito à característica da missão principal quanto nas características de certos personagens — um deles parece personificar uma reencarnação de Auron, por exemplo.

Apesar de não ser exatamente original, a trama tem como principal vantagem não se estender além do necessário. Em vez de forçar o jogador a realizar tarefas repetidas ou partir em missões secundárias sem propósito, o game se desenvolve de maneira bastante direta e satisfatória — ao todo, a jornada exige cerca de 20 horas de dedicação para ser finalizada.

Inspiração em Chrono Trigger

É difícil não falar sobre certos detalhes de I Am Setsuna sem invocar lembranças de Chrono Trigger, considerado por muitos como o melhor trabalho da Square. Isso porque o sistema de combate do novo título, em sua essência, é praticamente idêntico ao do RPG lançado originalmente para o Super Nintendo.

Você controla um total de 3 personagens que contam com golpes normais, habilidades especiais e itens. A ordem de ação é determinada por uma barra de tempo preenchida de forma automática sendo que, se ela está completa para dois ou mais personagens é possível alternar entre eles ou ativar poderes em conjunto — com direito ao surgimento de nomes conhecidos como o “X-Strike”.

O ponto em que I Am Setsuna se difere é no fato de que as habilidades disponíveis não são determinadas pelo nível de cada herói, mas sim pelas pedras mágicas equipadas por cada um deles. Inicialmente só é possível agregar um item do tipo a cada personagem, restrição que é deixada de lado conforme você avança na aventura.

Outro diferencial surge do fato que a única forma de aumentar o poder de ataque de seus heróis é investindo na compra de novas armas ou em upgrades para aquelas que já estão em seu poder. O dinheiro para isso surge da venda de itens deixados por inimigos abatidos, que se tornam mais valiosos caso você cumpra condições como destruir todos com a quantidade exata de dano ou abatê-los no momento certo, entre outras.

O sistema de “Momentum” é especialmente importante nesse sentido: conforme você batalha, um pequeno círculo apresentado ao nome dos personagens é preenchido de forma automática — toda vez que isso acontece, surge uma estrela na tela (em um total de três). Ao usar esse recurso de forma inteligente, você aumenta o poder e área de atuação de cada ataque, sendo que matar um monstro com a técnica faz com que ele deixe cair uma quantidade maior de itens valiosos.

Embora não seja necessário aproveitar totalmente esse sistema, ele se torna particularmente interessante para quem deseja explorar tudo o que o jogo tem a oferecer. Infelizmente, depois de certo tempo seus personagens se tornam tão poderosos que a maior parte das batalhas perde um pouco da graça, se tornando somente uma obrigação que é necessário cumprir para progredir na trama.

Direção de arte e som

Visto exclusivamente do ponto de vista técnico, I Am Setsuna não é um game exatamente surpreendente. Construído com base na engine Unity, o título poderia muito bem figurar em meio aos lançamentos para o 3DS, com gráficos que estão longe de explorar tudo o que o PlayStation 4 ou um PC moderno têm a oferecer.

A falta de detalhes gráficos é compensada por uma bela direção de arte, que caracteriza bem tanto os personagens quanto o mundo que é apresentado ao jogador. Embora de vez em quando surja a sensação de que o cenário abusa da neve, esse elemento consegue representar muito bem o sentimento de desesperança do mundo que estamos explorando.

A trilha sonora é um destaque à parte, apresentando temas totalmente baseados em pianos. Vale a pena usar fones de ouvido de qualidade para prestar atenção ao trabalho sonoro feito pela Tokyo RPG Factory, que supera facilmente os resultados apresentados em títulos com orçamento maior — em compensação, os efeitos sonoros surgem de forma tímida, sendo que os personagens de seu grupo só falam poucas frases em japonês durante as batalhas.

Uma volta aos clássicos

I Am Setsuna cumpre muito bem sua proposta de promover uma volta à “Era de Ouro” dos RPGs da Square Enix, embora o contexto em que ele chega às lojas impede que ele ganhe o status de clássico instantâneo. Tivesse o game sido lançado na época em que Chrono Cross e Vagrant Story dominavam nosso tempo, ele seria lembrado com bastante carinho — hoje, ele se assemelha mais a uma homenagem que poderia ser ainda melhor caso não se prendesse tanto ao passado.

O término da aventura é recompensador, mas é difícil não ficar com a sensação de que tudo o que o game apresentou já foi visto de uma maneira ou de outra. Isso é especialmente evidente caso você tenha jogado Final Fantasy X, já que os roteiros dos dois jogos se assemelham em diversos pontos.

Como uma primeira tentativa do estúdio Tokyo RPG Factory, I Am Setsuna consegue cumprir o objetivo de reimaginar os RPGs de tempos passados, mas não vai muito além disso. Resta a esperança de que, mediante uma boa recepção do público, o estúdio decida “abandonar a forma” e apostar em ideias que, em vez de depender exclusivamente do que funcionou no passado, também sejam novas o suficiente para evoluir o gênero como um todo.

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Pontos Positivos
  • Sistema de combate sólido
  • Personagens bem desenvolvidos
  • Bela direção de arte
  • A trilha sonora é sensacional
Pontos Negativos
  • O jogo se apoia demais em elementos de RPGs passados
  • O enredo tem semelhanças excessivas com Final Fantasy X
  • O desafio cai brutalmente nos momentos finais