Imagem de Wolfenstein 2: The New Colossus
Imagem de Wolfenstein 2: The New Colossus

Wolfenstein 2: The New Colossus

Nota do Voxel
90

Wolfenstein 2: socar nazistas continua sendo bom – e, agora, profundo

Apesar de gostar muito de jogos de corrida, games com narrativa também são um atrativo imenso para mim. Acrescentar uma narrativa bacana e bem construída com uma ideia de uma realidade alternativa distopica em que os nazistas vencem a Segunda Guerra Mundial e dominam o mundo, então, é uma receita bastante sólida – e foi justamente isso que me chamou a atenção para desprender algumas boas horas em Wolfenstein: The New Order.

Agora, chegou o momento de voltar à pele de William Joseph Blaskowicz, também conhecido como B.J. Blazkowicz, ou “Terror Billy”, e matar nazistas a rodo. Em Wolfenstein 2: The New Colossus, no entanto, além dos momentos de ação frenética, a costumeira boa narrativa ganha uma pitada considerável do fator emocional.

Essa variável, no entanto, também serve para dar uma freada no ritmo do jogo. Acrescente isso a alguns picos de dificuldade – o game foi quase todo enfrentado na dificuldade “Do or Die”, com os controles sofrendo as consequências – e alguns outros detalhes, e você tem um balanço no mínimo interessante no segundo episódio da nova era do Wolfenstein.

É hora de conferir, então, se socar nazistas continua sendo bom (spoiler: sim).

Eu sou Billy, o Terrível – mas tô meio assim, sei lá

Apesar de meio óbvio – completamente óbvio, na verdade –, The New Colossus é uma continuação. Sim, apesar de estúpida, essa afirmação não é à toa: Wolfenstein 2 pede, de certa forma, que você tenha jogado The New Order (e The Old Blood) para que tudo faça sentido.

Existe, claro, um recap que é feito logo no início do jogo, mas ele faz um péssimo trabalho em colocar possíveis novos jogadores a par da história. Embora essa seja uma situação previsível e compreensível, visto que serve muito bem para que a MachineGames e a Bethesda estimulem a galera a experimentar os predecessores do The New Colossus, fica aquela sensação de que as boas-vindas para quem decide pegar o trem andando poderiam ser um pouco mais amigáveis.

Wolfenstein 2

Depois de repassar os acontecimentos de The New Order, o novo game começa exatamente onde o anterior termina, com B.J. Blaskowicz lutando para se manter vivo com a ajuda de seus companheiros do Círculo de Kreisau. A partir daí, é uma mistura de memórias e novos acontecimentos que vão ditar o ritmo de quase metade do game.

É aqui que se vê duas coisas muito legais: uma nova e uma herança. A nova é a nuance mais profunda que é acrescentada à excelente narrativa do jogo: o protagonista se vê envolvido em questões que vão bem além da ameaça nazista.

Blaskowicz está morrendo e sabe disso, mas também será pai, e isso, naturalmente, cria um conflito interno com o qual ele tem que lidar paralelamente aos tiroteios frenéticos e à realidade de que o mundo se tornou um lugar terrível nas mãos dos seus inimigos.

Wolfenstein 2

A segunda coisa a que The New Colossus dá continuidade é a excelente construção de personagens, talvez de forma até mais evidente que em The New Order. Anya, Set, Max Haas, Bombate e outros participam de uma forma que ajuda bastante você a criar um vínculo maior.

Esse brilhantismo, no entanto, não se resume aos seus aliados. Uma das coisas que se passam pelas memórias do Terror Billy é sua relação com sua mãe, Zofia, e o maldito racista antissemita que é o seu pai, Rip, responsável por 50% do choque e da injeção de ódio que você vai sentir na primeira parte do jogo.

A lunática General Engel fica responsável pela outra situação cabulosa que mostra que a MachineGames consegue também criar antagonistas icônicos, autenticamente doentios, algo na linha de Vaas Montenegro de Far Cry 3.

Wolfenstein 2

Alguns acontecimentos no início têm a função de chocar o jogador e fazem isso muito bem, citando como exemplos a cena do cachorro e a da Caroline para aqueles que jogaram, mas, de alguma forma, isso pareceu meio gratuito. De qualquer forma, o jogo te obriga a testemunhar as perversidades de Rip e Engel, para que você crie um ódio real por eles – mas isso vem a um custo.

A grande questão aqui é que, como a narrativa se aprofundou um pouco, existem vários momentos em que The New Colossus deixa de ser uma matança desenfreada e vê o seu ritmo quebrado substancialmente – ao ponto de, sim, se tornar meio cansativo. O começo do jogo mesmo, embora seja entendível que ele funciona para estruturar boa parte da história, parece durar uma eternidade.

A sensação que tive é de que os momentos mais pessoais do protagonista se sobrepõem de forma muito mais frequente à ação frenética que foi vista nos games anteriores e, em vez de servirem como instantes para que o jogador respire, eles passaram um pouquinho do ponto. De qualquer forma, não é nada que manche o resultado final.

De cadeira de rodas ou a pé, a matança continua fluida...

Beleza, todo esse papo de personagens marcantes e conflitos pessoais é muito bonito, mas imagino que vocês queiram saber se matar nazistas ainda está legal. A resposta imediata é que, sim, ainda é uma experiência muito maneira, principalmente quando você está no controle de Blaskowicz enquanto ele está sentado em uma cadeira de rodas.

Wolfenstein 2

Quando não está contando alguma história, Wolfenstein 2: The New Colossus coloca você na dinâmica já vista no predecessor.

Isso significa que a forma como os níveis são criados – mais uma vez um ponto alto do game – permite que você tenha uma abordagem mais furtiva, usando golpes de finalização com uma machadinha e armas silenciadas, ou entre com dois rifles empunhados e saia desmembrando soldados nazistas por aí.

Falando nisso, existe uma diversidade satisfatória de inimigos que ajuda a dar uma variedade durante o gameplay: são supersoldados armados com canhões laser, cachorros, os robôs quadrúpedes cuspidores de fogo (Panzerhund), mechas, drones e oficiais que exigem uma abordagem dinâmica e um senso de atenção apurado do jogador.

Wolfenstein 2

Os ambientes são amplos, mas intuitivos, e estimulam bastante a exploração em busca de colecionáveis e outros itens. A Nova York devastada por uma bomba atômica é um ótimo exemplo disso, com vários caminhos possíveis para que você chegue até seus objetivos, surpreendendo ou simplesmente dizimando seus inimigos pelo caminho. Até mesmo o Martelo de Eva, o submarino que agora serve como seu quartel general, contém essas sacadas bacanas de level design.

Os controles continuam funcionando de forma fluida e, apesar dos muitos comandos diferentes, entre abaixar, pular, correr, inclinar, arremessar granadas e coisas do tipo, tudo pode ser feito de forma bem simples e sem quebrar o ritmo da ação: durante o combate, The New Colossus ainda é um Wolfenstein e faz muito bem seu papel.

... variada...

Uma das novidades ficou por conta de alguns poderes especiais que permitem que você alcance lugares mais altos, passe por buracos mais estreitos ou simplesmente destrua paredes por aí – mecânicas que são incorporadas às já existentes e funcionam de maneira bem eficiente.

Wolfenstein 2

Além disso, as melhorias que rolam naturalmente por ações normais do jogo, como os abatimentos por tiros na cabeça ou feitos de forma furtiva, por exemplo, que resultam em algum aspecto do gameplay sendo otimizado progressivamente, continuam funcionando e dão um toque de RPG ao game – além do senso de progressão do personagem e recompensa adaptados à forma como você joga.

A variedade de armas é boa, e você pode empunhar duas diferentes em cada mão, caso resolva partir para uma quebração mais alucinada. Tirando o armamento especial, que você geralmente obtém derrotando um dos supersoldados nazistas, você pode fazer melhorias no seu arsenal com os kits que são encontrados ao longo do jogo – uma ajuda e tanto na jornada.

... difícil...

Uma das coisas que me chamaram atenção é que, assim como em The New Order, Wolfenstein 2 oferece opções bem abrangentes de dificuldade. Começando na “Posso jogar, papai?”, que mostra uma foto de Blaskowicz usando um chapeuzinho de bebê e uma chupeta até o “Mein Leben”, tanto aqueles que querem focar na história quanto os que buscam um desafio torturante podem ficar seguros de que encontrarão o que estão procurando.

O único probleminha nessa história é que, em pelo menos três momentos distintos, The New Colossus apresenta um pico de dificuldade mesmo nos níveis considerados normais (como o “Manda Ver” ou o “Faça ou morra”) – o que pode ser meio frustrante depois que você se sente bastante capaz ao navegar por boa parte do jogo em um nível de desafio compatível com o que você espera.

... e bonita também

Visualmente, Wolfenstein 2: The New Colossus está realmente bonito: os cenários são todos muito bem detalhados, e a modelagem dos personagens é bastante satisfatória. Os efeitos de iluminação e oclusão de ambiente ajudam muito a compor a experiência visual de forma significativa.

Wolfenstein 2

Os efeitos, como explosões e metais derretendo quando se usa o Lasergewehr, por exemplo, são sensacionais. Na parte mais pesada da coisa, é bastante satisfatório trombar com diversos soldados nazistas em um corredor apertado quando se está com uma shotgun giratória na mão e ver membros e cabeças explodindo – meio sádico, é verdade, mas faz parte da loucura que são os momentos de ação de Wolfenstein.

Aqui, mais um detalhezinho que me incomodou um pouco: diferente do que acontece na maioria dos jogos FPS, The New Colossus não conta com um indicativo muito eficiente sobre os dano dos inimigos que você vai tomando: fora uma mancha vermelha bastante sutil, não há nada que realmente te avise que é melhor você correr ou se esconder para não morrer. A vibração do controle mesmo acaba se perdendo, já que, na maior parte do tempo, você está atirando, e isso também faz tudo vibrar.

Wolfenstein 2

No fim do dia, existe sim uma curva de aprendizado e leva um tempo até você assimilar as mecânicas de todos os inimigos e sair dando saltos e deslizando enquanto atira empunhando duas metralhadoras e saca sua machadinha para arrancar os braços de alguém – mas é MUITO maneiro quando acontece.

Andando sozinho (mas andando bastante)

Com todo esse foco na narrativa, Wolfenstein 2: The New Colossus não tem um modo multiplayer. Isso significa que o que se tem em mãos é um produto extremamente focado em entregar ao jogador uma experiência individual – e não há nada errado nisso.

Seria legal ter um multiplayer? Sem dúvidas, mas não é algo que faça real falta, visto que a campanha, se você focar apenas nas atividades principais, tem entre 12 e 14 horas de duração.

Você tem uma série de atividades secundárias e, ao fim de tudo, ainda conta com as missões de caça aos ubercomandantes, que podem ser desgraçadamente difíceis em alguns momentos e vão manter você entretido por algumas outras tantas horas após completar a história principal.

Por fim, os colecionáveis estão sempre aí para os mais aficionados, o que garante bastante tempo de diversão, mesmo que sozinho.

Que voz estranha você tem, B.J. Blaskowicz

Na parte sonora, há de se dizer que a trilha de Wolfenstein 2 é simplesmente animal e ajuda bastante na ambientação do game e também a ditar o ritmo das horas mais frenéticas. Os efeitos sonoros de tiros, balas ricocheteando, os soldados conversando ou dando comandos, algo que ajuda bastante o jogador em se posicionar de forma a evitar ser surpreendido ou flanqueado, acompanham o nível de qualidade e quase nada destoa aos ouvidos... Quase.

Embora os diálogos sejam bem construídos e contribuam bastante para que The New Colossus transite entre o cômico e o dramático de forma bastante natural, a dublagem é o calcanhar de Aquiles do game. Não o áudio original em inglês, que, apesar de um detalhezinho ou outro, é muito bom – a treta aqui é na localização para português mesmo.

Wolfenstein 2

Billy tem umas linhas de diálogo que estão em uma entonação completamente fora do contexto, em certo momento ele chama o Martelo de Eva (uma alusão a Eva Braun, companheira de Hitler) de “Martelo de E.V.A” – o que traz à mente a ridícula imagem de um martelo feito de espuma –, as indecisões sobre a pronúncia do nome da personagem Caroline, traduções cafonas, enfim...

Na melhor das hipóteses, o trabalho feito é inconstante, principalmente quando você tem uma mistura da dublagem em português com o áudio original nos trechos em alemão, por exemplo.

Em alguns momentos, você dá risada e se sente comprado pelo que está sendo falado, enquanto em outros simplesmente dá uma vergonha alheia. A sugestão é: se você não tem problemas com inglês, jogue o game na língua original. Essa é a garantia de que você vai conseguir aproveitar de forma plena tudo que The New Colossus tem a oferecer.

Sem dúvida, um ótimo segundo episódio

O resumo da ópera é que Wolfenstein 2: The New Colossus é um sólido segundo episódio que, apesar de não ter tido o mesmo impacto que seu predecessor, é extremamente competente em dar seguimento ao que The New Order começou – mesmo não sendo o mais amigável para quem decidir pegar a história no meio do caminho, o que é perfeitamente compreensível.

Com uma nova mecanicazinha aqui e um ou outro adendo na narrativa ali, o resultado final é bastante satisfatório, e você termina a história com um óbvio gostinho de quero mais.

Sim, existe uma escorregadinha geral e outra um pouco mais grave para nós aqui no Brasil, mas elas não são o suficiente para prejudicar o resultado final que se tem em The New Colossus.

Visto que a previsão é de que essa nova fase de Wolfenstein seja uma trilogia, pode ser que leve um tempo até chegar o último capítulo dessa história – uma certeza, no entanto, é que The New Colossus cumpre muito bem o seu papel em deixar os fãs ansiosos e entretidos até ele chegar.

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Pontos Positivos
  • Narrativa continua brilhante e chega com um tempero especial em The New Colossus
  • Jogabilidade continua fluida, com novas mecânicas de poderes
  • Mesmo com foco apenas no single player, há muito conteúdo disponível
  • Níveis muito bem pensados e com gráficos excelentes ajudam na ambientação
  • Os sons, em especial a trilha sonora, são um ótimo complemento à experiência
  • Socar nazistas é sempre legal pra caramba
Pontos Negativos
  • A cena do cachorro no início do jogo
  • A história, principalmente na primeira metade, se arrasta mais do que o necessário
  • A dublagem em português sofre muito com inconsistências
  • Picos de dificuldade podem ser bastante frustantes, mesmo em níveis moderados